A quadratura do cerco
"Quando trocou o Governo e o lugar de número dois de José Sócrates pelo desafio de conquistar a Câmara de Lisboa e se lançar num percurso político autónomo para o ciclo pós-socrático, António Costa sabia que a tarefa que o esperava na capital não seria fácil. Nem a outra.
Mas pior ficou, a primeira, quando o Tribunal de Contas lhe chumbou o plano de recuperação financeira, laboriosamente negociado (e alcançado) com a oposição.
Mas pior ficou, a primeira, quando o Tribunal de Contas lhe chumbou o plano de recuperação financeira, laboriosamente negociado (e alcançado) com a oposição.
E ainda mais problemática se quedou quando Cavaco Silva devolveu ao Executivo o quadro normativo gizado para permitir a prometida (pelo Governo ao país e por Sócrates a Costa) mega-intervenção na Zona Ribeirinha.
Num caso e noutro, nem Costa quis ficar refém do Governo (a autarquia podia ter garantido o pagamento aos fornecedores sujeitando-se à intervenção das Finanças), nem o Executivo quis assumir directamente o tratamento de favor e excepção à Câmara de Costa (legislando exclusivamente para a Zona Ribeirinha, em vez de para todo o domínio público marítimo).
Eventualmente, podia ter sido melhor para Lisboa – eventualmente, porque a acção da Câmara ficaria paralisada.
Mas, seguramente, não era o melhor para Costa – sobretudo para aquela sua segunda tarefa.
Sem dinheiro e sem obra, Costa ficou cercado nos Paços do Concelho. O que é estranho, numa capital europeia que até tem projectos de arquitectos mundialmente consagrados – Gehry para o Parque Mayer, Nouvel para Alcântara, Foster para Santos – empatados nas secretárias da burocracia do costume. Para estes, Costa nem precisa de dinheiro (são privados).Será que não tem tempo?
O que não é de estranhar é que, aproveitando a saída de Jorge Coelho, Costa aceite o lugar vago na Quadratura do Círculo e o simpático convite do director da SIC Notícias e dos restantes membros daquele painel. Falta ano e meio para as eleições e o palco mediático não é desaproveitável.
Jorge Coelho sai por alegada falta de tempo em virtude de passar a integrar a administração da Mota-Engil – pelos vistos, muito mais absorvente do que o lugar de presidente da Câmara de Lisboa.
Com tanta obra pública de envergadura (o novo aeroporto, a nova ponte, o TGV...) em fase de pré-concurso e com a CML de mãos atadas, até será verdade: não deve faltar serviço a Coelho e Costa tem mais tempo e vagar para a análise e os comentários políticos.
Pois sim, já lá vai é o tempo em que o PS lidava mal com a comunicação social.
Hoje, os socialistas revelam-se imbatíveis na matéria.
Já não na ingénua tentativa de controlo dos alinhamentos dos telejornais ou do número de aparições na RTP que só a ERC se entretém a contar.
Mas sim noutros campos, dos mais complexos e abstractos aos mais simples e concretos.
Fiquemo-nos por estes:
É preciso lançar Elisa Ferreira para o Porto? Sacrifique-se José Lello na RTPN.
Coelho sai da SICN? Que se danem Alegres, Seguros e outros que Menezes preferiria. E que entre Costa, para completar a quadratura do cerco do PS aos eleitores. António Vitorino (na RTP) e Vital Moreira (no Público) fazem o resto, despudoradamente. O primeiro a antecipar, como acertado, o que o Governo vai fazer (seja na Saúde, na Educação ou no IVA) e o segundo a sequenciar, de cátedra, a bondade das medidas anunciadas e a ripostar as críticas.
Porque eles não brincam!"
MRamires
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