terça-feira, abril 29, 2008

SENSIBILIDADE E SENSO NENHUM

"Muitas das pessoas que remoem o facto de só agora os EUA poderem eleger uma mulher (ou um negro) para a presidência da nação não repararam que, por cá, só agora surgiu a possibilidade de se eleger uma mulher para a presidência de um partido (o negro terá de esperar).

Trata-se, curiosamente ou não, das mesmas pessoas que babam abundante retórica sobre o "modo feminino" de fazer política. Durante anos, espíritos comoventes explicaram-nos que semelhante modo existe. Ou seja, que as mulheres detêm uma "sensibilidade" própria, uma "ética" peculiar, uma "delicadeza" e uma vocação para a concórdia que as tornam superiormente habilitadas para gerir a coisa pública. E que apenas a intolerância das sociedades "machistas" obsta a que alcancem o topo do poder e realizem a felicidade universal.

Neste contexto, a mera candidatura de Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD deveria ter sido recebida com aplausos generalizados, além daquele sentimento libertador que sucede sempre que nos abeiramos da modernidade mais um pedacinho. E não foi. Porquê? Simples. Porque uma política realmente feminina não exige apenas uma senhora que a pratique, mas uma senhora que a pratique enquanto recorda constantemente a sua condição de criatura delicada, peculiar, meiga, apaziguadora, etc. Mulher que mande e não recorra à lengalenga da "sensibilidade" não entra na epopeia da emancipação. Não passa - e a expressão deve ser pronunciada com repugnância - de um "homem de saias".

Thatcher, para citar o exemplo clássico, era um "homem de saias". Condoleezza Rice, idem. Ferreira Leite, ibidem. Mulheres completas são, ou foram, a sra. Royal, a ministra espanhola que desfila ante a tropa enquanto dá à luz e, em Portugal, esse zénite da feminilidade chamado Pintasilgo. Para merecer os louvores da praxe, afinal, uma mulher na política tem de ser de esquerda. Na verdade, se calhar nem precisa de ser mulher
."

Alberto Gonçalves

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