A ilusão de um País de ricos
"É o recurso aos bancos que permite criar a ilusão de que Portugal é um País rico.
Em cada mês que passa o volume do crédito malparado aumenta. Oficialmente os números ainda não provocam pânico junto das instituições bancárias e representam apenas 1,8 por cento dos créditos concedidos. Mas se em vez de percentagens analisarmos os euros envolvidos, a dimensão é preocupante. 2,39 mil milhões de euros é o montante de empréstimos em incumprimento junto da Banca portuguesa. Mais de metade (1,31 mil milhões de euros) é do crédito à habitação. Não se compara com os números da crise do subprime nos EUA, mas com estes números verifica-se que já há milhares de famílias portuguesas que não conseguem honrar os seus compromissos com a Banca e arriscam-se a ver a sua casa penhorada para pagar as dívidas.
Uma vez que em troca dos empréstimos à compra da habitação os bancos ficam com a hipoteca da propriedade, os cidadãos costumam fazer os possíveis e os impossíveis para pagar, evitando o risco de perder a casa. Quando tantos não pagam é porque há um problema grave. A subida abrupta dos juros nos últimos dois anos agravou substancialmente a factura mensal a pagar pelas famílias. Os salários praticamente estagnaram e houve ainda gente com empréstimos que perdeu o emprego. E isto explica parte deste recente fenómeno.
RISCO NO CONSUMO
A percentagem do crédito mal parado para o consumo e outros fins é substancialmente mais elevada e por isso as taxas de juro também pagam um prémio de risco. Dos 13,9 mil milhões de euros para o consumo, 569 milhões estão em incumprimento, enquanto dos 12,9 mil milhões para outros fins, 505 milhões são de cobrança duvidosa. Os números também retratam uma realidade portuguesa que é nova em termos sociológicos. Só na década de 90, especialmente a partir da segunda metade, quando a convergência para o euro baixou as taxas de juro, é que o endividamento português disparou. E mesmo com a anemia macroeconómica, os portugueses continuaram a comprar casa, carro, a ir de férias, a comprar plasmas, tudo a crédito. É o recurso aos bancos que permite criar a ilusão de que Portugal é um País rico. O problema é que os portugueses já consomem ao nível dos ricos, mas os padrões produtivos ainda não acompanham esta ilusão. "
Armando Esteves Pereira
Em cada mês que passa o volume do crédito malparado aumenta. Oficialmente os números ainda não provocam pânico junto das instituições bancárias e representam apenas 1,8 por cento dos créditos concedidos. Mas se em vez de percentagens analisarmos os euros envolvidos, a dimensão é preocupante. 2,39 mil milhões de euros é o montante de empréstimos em incumprimento junto da Banca portuguesa. Mais de metade (1,31 mil milhões de euros) é do crédito à habitação. Não se compara com os números da crise do subprime nos EUA, mas com estes números verifica-se que já há milhares de famílias portuguesas que não conseguem honrar os seus compromissos com a Banca e arriscam-se a ver a sua casa penhorada para pagar as dívidas.
Uma vez que em troca dos empréstimos à compra da habitação os bancos ficam com a hipoteca da propriedade, os cidadãos costumam fazer os possíveis e os impossíveis para pagar, evitando o risco de perder a casa. Quando tantos não pagam é porque há um problema grave. A subida abrupta dos juros nos últimos dois anos agravou substancialmente a factura mensal a pagar pelas famílias. Os salários praticamente estagnaram e houve ainda gente com empréstimos que perdeu o emprego. E isto explica parte deste recente fenómeno.
RISCO NO CONSUMO
A percentagem do crédito mal parado para o consumo e outros fins é substancialmente mais elevada e por isso as taxas de juro também pagam um prémio de risco. Dos 13,9 mil milhões de euros para o consumo, 569 milhões estão em incumprimento, enquanto dos 12,9 mil milhões para outros fins, 505 milhões são de cobrança duvidosa. Os números também retratam uma realidade portuguesa que é nova em termos sociológicos. Só na década de 90, especialmente a partir da segunda metade, quando a convergência para o euro baixou as taxas de juro, é que o endividamento português disparou. E mesmo com a anemia macroeconómica, os portugueses continuaram a comprar casa, carro, a ir de férias, a comprar plasmas, tudo a crédito. É o recurso aos bancos que permite criar a ilusão de que Portugal é um País rico. O problema é que os portugueses já consomem ao nível dos ricos, mas os padrões produtivos ainda não acompanham esta ilusão. "
Armando Esteves Pereira
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