segunda-feira, abril 28, 2008

AS CASAS DO ARTISTA

"Que se saiba, os benfiquistas teimam em assistir aos jogos e em pedir a demissão do presidente. Não admira que andem amargurados. O ideal seria esquecerem de vez os jogos e darem ao presidente um mandato vitalício. É verdade que não percebo de bola, mas os futebolistas do Benfica percebem ainda menos, e a prova são as sucessivas humilhações nos estádios. Já o desempenho do presidente fora deles entusiasma até um leigo. Infelizmente, não beneficia de transmissão televisiva.

Eu, por exemplo, precisei do filme amador cedido por um amigo para contemplar a visita de Luís Filipe Vieira a uma Casa do Benfica na província, evento que, dizem-me, se repete regularmente. Num certo sentido, cada evento desses é irrepetível: não há mais nada assim.

A coisa começa com a chegada do sr. Vieira, de um moço com uma águia e de um pequeno séquito de fiéis a uma localidade indistinta, onde são aguardados por um séquito maior. Em seguida, o cortejo desfila pelas ruas do povoado até à autarquia, que organiza uma sessão solene e concede ao sr. Vieira subidas homenagens. O sr. Vieira faz um discurso. Depois, o bando regressa à rua e, em algazarra, aponta a marcha no sentido da Casa do Benfica local. Na Casa, descerra-se uma placa e o sr. Vieira faz um discurso. De novo na rua, o cortejo dirige- -se a um restaurante, cenário de elaborado ritual: os fiéis entram primeiro, de modo a receberem o sr. Vieira aos gritos de "Glorioso SLB, glorioso SLB". Mal a sala se enche, o sr. Vieira penetra-a e faz um discurso. Ao lado, uma banca vende bugigangas do clube. No fim do repasto, o sr. Vieira dispõe-se a autografar as bugigangas e, com sorte, faz um discurso.

Não sei como classificar isto. Sei que não me deslumbrava tanto desde que ouvi Pinto da Costa recitar José Régio. Ou José Régio recitar Pinto da Costa. Importa é que o sr. Vieira possui em excesso aquilo que falta à equipa de futebol: a capacidade de empolgar as massas. Logo que os adeptos atentem no que realmente conta, o Benfica continua a ser um espectáculo. O palco e os artistas é que mudaram
."

Alberto Gonçalves

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