sexta-feira, abril 25, 2008

A nossa Alitalia

"Itália é um país fantástico.

Quase 36 milhões de turistas estrangeiros visitam todos os anos as suas magníficas cidades, como Roma, Florença e Veneza; ou optam por fazer esqui nos Alpes à volta de Turim e Milão – as estâncias são francamente boas. Em alternativa podem ainda viajar para a praia e banhar-se nas águas quentes da Sardenha ou da Sicília. Tudo somado, Itália tem todas as condições para orgulhar-se de ter feito crescer uma grande companhia aérea internacional: além de ser o quinto país do mundo com mais turismo, os 60 milhões de italianos também garantem massa crítica suficiente para impulsionar o negócio de qualquer empresa de aviação. Verdade? Mentira. Não são apenas os narizes negros dos aviões da Alitalia que parecem desactualizados, é a própria companhia que ainda vive os anos de chumbo do intervencionismo político e da chantagem dos sindicatos. O resultado é absurdo: 364 milhões de euros de prejuízos em 2007, a ruína e o espelho de um país cujo PIB já foi ultrapassado pela Espanha e que, em breve, será pela Grécia.

Pensemos então um pouco. Intervenção política constante, sindicatos vingativos, gestão frágil... não nos lembra mesmo nada? Pois é: a TAP de há apenas uns anos. Não vale a pena recuar muito, basta voar até aos anos 90 para lembrar as greves sucessivas e a espiral de perdas. O que é hoje a Alitalia já foi a TAP ainda há pouco tempo: lutas partidárias, sindicatos amotinados, opiniões radicais, uma gestão incapaz de gerir e, nalguns casos, sem competência técnica para o fazer. A Alitália, portanto. Felizmente, nos últimos oito anos muita coisa mudou. Houve greves, voos anulados, serviços medíocres, mas também resultados positivos, lucros, uma nova frota de aviões, novas rotas e, acima de tudo, a certeza de que a companhia aérea – quatro vezes mais pequena do que a Iberia – soube encontrar o seu espaço num mercado altamente competitivo. A compra da PGA foi o resultado deste salto qualitativo.

Qual foi o truque? O óbvio: uma gestão competente que se soube blindar – e a quem foi permitido blindar-se – das influências dos comissários partidários. Ainda houve uma pequena recaída, quando Cardoso e Cunha quis subverter a ‘governance’ da empresa e torpedear as decisões de Fernando Pinto, administrador-delegado. Esses tempos de contra-revolução já passaram e permitiram à TAP apresentar 32,8 milhões de lucros em 2007 – convém lembrar que, nas décadas de 70 e 80, somaram-se os prejuízos. Claro, o êxito da TAP provocou perplexidade e inveja. Contas maquilhadas e excesso de dependência das rotas brasileiras são os ataques mais comuns. Como é óbvio, há críticas justas a fazer. É mau que o relatório e contas demore tanto tempo a ser tornado público. Ou que, sendo uma companhia pública, a TAP não seja sujeita às mesmas regras de transparência de uma cotada – embora esse seja um problema de todas as empresas públicas. Ou que, finalmente, os lucros continuem baixos tendo em conta o volume de negócios de dois mil milhões de euros. Dito isto, sobra o essencial: a TAP, hoje, acrescenta valor ao país, não retira
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André Macedo

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