UMA CAMPANHA CHOROSA
"Até há pouco, pelo menos a julgar pelas aparências, os sucessivos "momentos históricos" do eng. Sócrates caracterizavam-se pela participação do primeiro-ministro neles. Agora, a História é feita pelos cidadãos anónimos com que o eng. Sócrates tem a sorte de privar.
Antes de almoço, o nosso homem entrega uns prémios a uns empresários de Viseu e confessa: "Não há melhor forma de passar uma manhã de domingo do que com aqueles que querem construir um país melhor." Por acaso, consigo imaginar cerca de oitocentas formas preferíveis de passar as manhãs de Domingo, algumas envolvendo gente que nem sonha que o país existe. Mas eu não sou estadista.
Um estadista autêntico também aproveita a tarde de domingo para oferecer dezasseis computadores a deficientes e proclamar: "Não podia haver nada mais tocante do que isto: o Estado e as empresas a distribuírem equipamento especial a pessoas especiais." Novamente, dou por mim a enumerar alternativas mais tocantes e a constatar a minha baixeza.
A baixeza marca: para me comover, necessito de compositores austríacos falecidos há dois séculos ou americanos nascidos há um; o eng. Sócrates dá um passeio pelas Beiras e comove-se num ápice. As televisões mostraram-no, quase em lágrimas, entre empresários, doentes, estudantes, velhinhos e populares não especificados, aos quais levou as graças das Novas Oportunidades, do QREN e do PARES (não me perguntem).
Os cínicos, claro, lembram a falta de emoção nos três anos anteriores. Os cínicos são tontos: o eng. Sócrates andou emocionado ao longo de praticamente todo o mandato. A diferença, conforme o próprio explica, é que "um político tem o dever de disfarçar os seus estados de alma". O eng. Sócrates, portanto, disfarçou enquanto pôde. Nas Beiras, não pôde mais, e assumiu a humanidade. Além disso, abriu um precedente que será constante em 2008 (que, a propósito da entrega de verbas comunitárias, o eng. Sócrates considera "o ano da rapidez") e em 2009 (que, a propósito do calendário eleitoral, o eng. Sócrates considera "o ano das legislativas").
A peculiar descida do IVA deu o mote: depois do "rigor" e da "modernidade", bonitos pechisbeques retóricos, temos pela frente largos meses de sentimento e compaixão "social", de pranto fácil e esbanjamento facílimo. Dito de outra maneira, temos o PS em campanha. Após a vitória de 2004, o dr. Vitorino avisou: "habituem-se". Não era preciso: já estamos habituados. Ou devíamos estar. "
Antes de almoço, o nosso homem entrega uns prémios a uns empresários de Viseu e confessa: "Não há melhor forma de passar uma manhã de domingo do que com aqueles que querem construir um país melhor." Por acaso, consigo imaginar cerca de oitocentas formas preferíveis de passar as manhãs de Domingo, algumas envolvendo gente que nem sonha que o país existe. Mas eu não sou estadista.
Um estadista autêntico também aproveita a tarde de domingo para oferecer dezasseis computadores a deficientes e proclamar: "Não podia haver nada mais tocante do que isto: o Estado e as empresas a distribuírem equipamento especial a pessoas especiais." Novamente, dou por mim a enumerar alternativas mais tocantes e a constatar a minha baixeza.
A baixeza marca: para me comover, necessito de compositores austríacos falecidos há dois séculos ou americanos nascidos há um; o eng. Sócrates dá um passeio pelas Beiras e comove-se num ápice. As televisões mostraram-no, quase em lágrimas, entre empresários, doentes, estudantes, velhinhos e populares não especificados, aos quais levou as graças das Novas Oportunidades, do QREN e do PARES (não me perguntem).
Os cínicos, claro, lembram a falta de emoção nos três anos anteriores. Os cínicos são tontos: o eng. Sócrates andou emocionado ao longo de praticamente todo o mandato. A diferença, conforme o próprio explica, é que "um político tem o dever de disfarçar os seus estados de alma". O eng. Sócrates, portanto, disfarçou enquanto pôde. Nas Beiras, não pôde mais, e assumiu a humanidade. Além disso, abriu um precedente que será constante em 2008 (que, a propósito da entrega de verbas comunitárias, o eng. Sócrates considera "o ano da rapidez") e em 2009 (que, a propósito do calendário eleitoral, o eng. Sócrates considera "o ano das legislativas").
A peculiar descida do IVA deu o mote: depois do "rigor" e da "modernidade", bonitos pechisbeques retóricos, temos pela frente largos meses de sentimento e compaixão "social", de pranto fácil e esbanjamento facílimo. Dito de outra maneira, temos o PS em campanha. Após a vitória de 2004, o dr. Vitorino avisou: "habituem-se". Não era preciso: já estamos habituados. Ou devíamos estar. "
Alberto Gonçalves

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