Alpoim Calvão
Nasceu em Chaves, viveu em Moçambique, frequentou a Escola Naval, fez o curso da Marinha, esteve várias vezes na frente de combate, na guerra de África.
Alpoim Calvão, um dos oficiais mais condecorados das Forças Armadas (com, entre outras, duas Torre e Espada), tão polémico quanto aventureiro e arrojado, distinguiu-se em Novembro de 71 quando conduziu a célebre - e fracassada - invasão da Guiné-Conakry. (Nota : Operação Mar Verde aqui) Se não se recusa a falar disso, remete contudo o fundo e a forma dessa operação para o relatório - da sua autoria - onde constam, em detalhe, todos os meandros dessa controversa invasão.
Vive ainda "com o espinho de África no coração e na memória". Talvez por isso mesmo, quando se apercebeu da irreversibilidade da perda do império, meteu-se em Portugal e no PREC, à contra-revolução - da qual foi um dos mentores e, certamente, um dos principais executantes.
É esse itinerário que hoje, de forma desassombrada - e uma vez mais, polémica -, ele refaz aqui. Uma espécie de contra-25 de Abril revisto por este homem que hoje administra empresas, enquanto nos intervalos, continua a dedicar-se a aumentar a sua raríssima colecção de arte.
"Pela maneira como o dia [25 de Abril] decorreu, percebi que se abrira a Caixa de Pandora e que todos aqueles homens estavam embriagados com a possibilidade de serem pequenos Che Guevarazinhos. Depois, todo o processo revolucionário andou durante meses aos solavancos e encontrões, ao sabor do acontecimento do dia..."
"Tínhamos [o MDLP] contactos estreitos com muitos oficiais. No Conselho da Revolução, com Canto e Castro e Pinho Freire, por exemplo, mas dentro do Exército também. O Eanes foi contactado mas como já estava comprometido com o grupo dos Nove, não pôde aceitar. No entanto, esteve sempre ao corrente de tudo, soube a cada momento o que se ia passando."
"Se houvesse um conflito armado [em Portugal] havia que estar preparado para ele. Pela minha parte arranjei duas mil armas que pedi ao Holden Roberto em troca de uma operação que faria para ele - fechar o porto de Luanda - que afinal acabou por não se consumar. Mas isso é outra história... Mas o Holden Roberto cumpriu a parte dele, entregou-me duas mil armas e quinhentas mil munições."
"Tinha a mesma desconfiança em relação a muitos militares, por exemplo: vinham aos molhos comer à mesa do poder! Alguns Conselheiros da Revolução andavam num desvario, para dividir os BMW do Jorge de Brito ou os Mercedes do Jorge de Mello... Outros, civis ou militares, insultavam diariamente na rádio os soldados portugueses que estavam em África..."
"Um dos responsáveis pelo sucesso desse 25 de Novembro foi o Otelo. Porque foi ele que reintegrou o Jaime Neves nos Comandos. Ele fora saneado por um grupúsculo de extremistas... Se ele não o tem feito, estou certo de que o 25 de Novembro não teria ocorrido nem naquela data, nem daquela maneira."
"Apareceram aí umas bombas [já depois do 25 de Novembro] que ninguém mandou pôr. Antes disso, podem dizer que fui eu que as mandou pôr, a todas, que eu não desminto. Depois disso, nem uma! Bem, as coisas foram-se resolvendo pelo tempo e pelo diálogo, embora, dentro daquilo que restava do MDLP, houvesse ainda quem continuasse a pôr bombas quase por profissão... "
Vale a pena ler a entrevista aqui
Etiquetas: Contra a "Orquestra Vermelha" marchar, marchar...
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