DE PEQUENINO SE CONVERTE O MENINO
"Em vez de dedicar o dia a elevadas funções como visitas ao estrangeiro, cumprimentos a futebolistas ou apelos à confiança da nação, o presidente da República decidiu preenchê-lo com um encontro de jovens em Belém. Curiosamente, para um convívio que visava discutir o trágico afastamento entre os jovens e a política, o prof. Cavaco apenas convocou jovens assaz próximos da política: juventudes partidárias, dirigentes de associações estudantis, promessas do sindicalismo, etc.
Não admira a unanimidade das conclusões. A uma voz, o presidente e a rapaziada proclamaram a urgência em promover outros encontros do género e, decerto para abranger a mocidade da província, em alargá-los a um "roteiro" nacional. Admiráveis são as próprias conclusões, as quais incluem a elaboração, pelas autarquias, de "planos estratégicos" que possam "estimular o interesse dos jovens pela política" e a "formação cívica" logo no infantário.
Não tarda, a politização dos petizes exigirá submetê-los a leituras da Constituição após os 36 meses de vida, à contemplação obrigatória do Canal Parlamento após os dezoito e à inscrição dos fetos em organizações de carácter interventivo e social até aos seis. O parto poderia decorrer nas sedes concelhias dos partidos, aliás uma resposta definitiva ao sumiço das maternidades.
Assim, e só assim, o país estará apto a produzir gerações jovens conscientes e esclarecidos, que se levam completamente a sério, dizem "atempadamente" sem um pingo de ironia e tendem a lamuriar-se junto dos crescidos com interessante insistência. Face a isto, apenas não se percebe a razão do corrente barulho em volta de crianças desaparecidas, maltratadas ou retiradas à força dos pais biológicos e adoptivos. O futuro que o professor Cavaco promete às crianças restantes não é mais radioso."
Alberto Gonçalves
Não admira a unanimidade das conclusões. A uma voz, o presidente e a rapaziada proclamaram a urgência em promover outros encontros do género e, decerto para abranger a mocidade da província, em alargá-los a um "roteiro" nacional. Admiráveis são as próprias conclusões, as quais incluem a elaboração, pelas autarquias, de "planos estratégicos" que possam "estimular o interesse dos jovens pela política" e a "formação cívica" logo no infantário.
Não tarda, a politização dos petizes exigirá submetê-los a leituras da Constituição após os 36 meses de vida, à contemplação obrigatória do Canal Parlamento após os dezoito e à inscrição dos fetos em organizações de carácter interventivo e social até aos seis. O parto poderia decorrer nas sedes concelhias dos partidos, aliás uma resposta definitiva ao sumiço das maternidades.
Assim, e só assim, o país estará apto a produzir gerações jovens conscientes e esclarecidos, que se levam completamente a sério, dizem "atempadamente" sem um pingo de ironia e tendem a lamuriar-se junto dos crescidos com interessante insistência. Face a isto, apenas não se percebe a razão do corrente barulho em volta de crianças desaparecidas, maltratadas ou retiradas à força dos pais biológicos e adoptivos. O futuro que o professor Cavaco promete às crianças restantes não é mais radioso."
Alberto Gonçalves
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