domingo, maio 04, 2008

O ENDEREÇO DE 'E-MAIL' ESTÁ NO TOPO DA PÁGINA

"A pretexto de crónica anterior, meia dúzia de "e-mails" informam-me de que sou um rematado "fascista". Os remetentes, "democratas" no sentido que o "Avante!"dá à expressão, afirmam-se indignados com a minha "impunidade" e aspiram a varrer-me da superfície terrestre ou, no mínimo, do DN.Três décadas e tal depois, ainda não falha. Se uma pessoa insinua que os meses posteriores ao golpe de 1974 nem sempre foram encantadores, essa pessoa é, evidentemente, "fascista". Em Portugal, preferir a legitimidade eleitoral à "legitimidade revolucionária" de uns malucos perigosos é sintoma de "fascismo". Defender a propriedade contra a colectivização é sintoma de "fascismo". Achar que Ary dos Santos era um embaraço literário é sintoma de "fascismo".

Por acaso, se atendermos a minudências técnicas (a concentração do poder nos militares, a glorificação do Estado, etc.), o regime que o PREC advogava era mais próximo do fascismo, sem aspas, do que da democracia parlamentar em curso. Se calhar o problema é esse. No lado dos perseguidos, durante o salazarismo, ou no lado dos perseguidores, durante o "gonçalvismo", os "democratas" habitaram (os "democratas" jovens gostariam de ter habitado) um mundo de regras simples e códigos que entendiam, um mundo de combates, denúncias, ódios e inimigos inequívocos. Em suma, um mundo que excita as vocações totalitárias.

A democracia, por comparação, é um aborrecimento e um ultraje, que os "democratas" tentam compensar mediante a descoberta de "fascistas" imaginários a cada esquina. Na cabeça dos primeiros, a luta continua. E se os segundos ajudarem à farsa, a psiquiatria agradece. Por mim, ajudo no que puder: venham daí esses "e-mails" com os insultos da praxe. Mas evitem acompanhá-los com imagens de suásticas. Além de não estimar a estética, fico com a caixa de correio entupida
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Alberto Gonçalves

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