domingo, maio 04, 2008

Reformas do PS com anestesia

"Há uma espécie de bi-polaridade ideológica nos dirigentes socialistas que os transfigura conforme estejam no Governo ou na Oposição

Se a ideia de despedimento por inadaptaçãofuncional, proposta na revisão do Código do Trabalho pelo actual Governo, tivesse sido apresentada por Bagão Félix há cinco anos os dirigentes do partido socialista que agora apadrinham esta sugestão teriam sido os primeiros a vir para a rua gritar ao lado da CGTP. Bagão Félix, que apresentou um código importante e socialmente responsável, foi acusado de ser ultraliberal por alguns sectores socialistas. O código de Bagão Félix, ministro independente indicado pelo CDS-PP, é agora um documento que pode ser considerado mais à esquerda do que a proposta do actual Governo. Há uma espécie de bipolaridade ideológica nos dirigentes socialistas que os transfigura conforme estejam no Governo ou na Oposição. Mas é também esta bipolaridade que torna possível que as reformas socialmente mais difíceis só possam ser realizadas pelo partido que está agora no poder. Quando o Partido Socialista decide uma medida socialmente mais difícil há uma espécie de compreensão que os governos dos partidos do quadrante político mais à direita não conseguem. Esta anestesia da qual apenas o PS goza tornou possível ao Executivo de José Sócrates tomar medidas difíceis de reforma do Estado.

ABUSO NOS COMBUSTÍVEIS

O ministro da Economia, Manuel Pinho, mandou averiguar o processo de formação dos preços dos combustíveis em Portugal: 14 subidas em apenas quatro meses e dando como justificação a escalada do petróleo em dólares, quando nós pagamos em euros – que valem cada vez mais face à divisa americana, parece uma história mal explicada. Resta esperar pelos resultados da Autoridade da Concorrência, que já anteriormente investigou suspeitas de cartelização neste sector e nunca conseguiu provar a concertação de preços entre os operadores. É notório que a concorrência no sector do petróleo é muito imperfeita, apesar de nos últimos anos terem surgidos postos de abastecimento junto às grandes superfícies comerciais que são mais pródigos em descontos. Mas para haver concorrência não é necessário haver apenas muitas insígnias no mercado. Há também que ter em conta o que se passa a nível grossista. As subidas pornográficas dos preços dos combustíveis não afectam apenas os automobilistas. Todos os bens precisam de ser transportados e por isso os seus custos incorporam as despesas dos combustíveis.

FACTURA DOS JUROS

A subida dos combustíveis e dos bens alimentares é apenas uma parte da pressão à qual está sujeita a maioria das famílias portuguesas. A crise financeira também agravou a factura mensal de juros de uma família com empréstimo à habitação, que aumentou quase 50 por cento em três anos. Segundo contas do ‘Jornal de Negócios’, uma família com um empréstimo de cem mil euros, a trinta anos, indexado à Euribor a seis meses, pagava 381,84 euros de prestação em Maio de 2005. Este mês vai pagar 567,48 euros. Mais 185,64 euros, que fazem toda a diferença nos magros rendimentos das famílias portuguesas.

AFORRO VOLTA A COMPENSAR

Apesar dos cortes realizados pelo Governo, a subida das taxas de juro voltou a tornar os certificados de aforro aplicações de poupança seguras e interessantes. Por causa dos recordes do preço do dinheiro, a taxa de juro dos certificados de aforro da nova série, que vai vigorar em Maio, foi fixada pelo Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) nos 3,831%
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Armando Esteves Pereira

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