Sacos rotos
"É irritante ouvir um ministro, responsável político ou técnico reduzir os problemas com que os portugueses se confrontam no dia-a-dia – ou melhor, dia após dia – a um ‘caso pontual’ ou ‘isolado’. É sinónimo de que, por assim o querer ver ou fazer crer, ou não tem ou não sabe a solução para o problema.
Nos últimos tempos, os membros do Governo têm sido useiros e vezeiros no recurso a esta torpe técnica de alijar responsabilidades e encapar as questões.
Por mais graves que elas sejam.
Por exemplo, o Governo desconhece quantos edifícios do Estado têm amianto, substância cancerígena e, portanto, de elevado risco para a saúde pública. Apesar de existir há já cinco anos uma resolução da Assembleia da República no sentido de o Executivo promover e apresentar tal inventário.
Acontece que o Ministério da Educação tem em sua posse um relatório segundo o qual mais de 50% das escolas do país têm amianto.
E o que diz a ministra da Educação?
Olhem, leiam mas é os relatórios na íntegra e deixem de se preocupar apenas com parangonas ou notícias alarmistas...
Até porque, acrescenta a ministra, os níveis de partículas de amianto, em geral, estão dentro dos limites legais.
Sim, senhora: que os miúdos fiquem anos expostos ao amianto não tem problema; mas ai daquele que ouse acender um cigarro nessas mesmas instalações.
Sobre o problema em concreto e solução para o mesmo, Maria de Lurdes Rodrigues, em geral, diz que nada tem a declarar.
Outro exemplo: encarniça-se a ministra da Saúde com o facto de haver autarquias que celebraram protocolos com Cuba para que os seus munícipes que estão em lista de espera para uma operação aos olhos possam realizar a intervenção cirúrgica em hospitais cubanos especializados em oftalmologia.
Ana Jorge parece mais preocupada com o acompanhamento que esses doentes têm depois de realizada a operação em Cuba do que com o tempo de espera a que esses mesmos doentes teriam de sujeitar-se caso não tivessem essa alternativa. Muitos com sério risco de cegueira.
O que devia preocupar verdadeiramente a ministra era reduzir as listas de espera e tornar desnecessário o recurso a Cuba. E não condenar a meritória iniciativa das autarquias.
Dizer simplesmente que estas deviam procurar resolver o problema com os hospitais públicos nacionais – mais caros e sem capacidade de resposta – é atirar areia para os olhos de milhares de doentes em risco de deixar de ver. E para todos os outros, a ver se não vêem.
Novo exemplo: um indivíduo armado obrigou à evacuação do tribunal de Gaia.
O que veio dizer o representante do Ministério da Justiça?
Trata-se de um caso isolado. Pois claro.
Por acaso – mero acaso? – o Ministério até já recebeu um relatório (mais um) de uma comissão de trabalho que andou meses a verificar as condições de segurança e de controlo das entradas nos tribunais portugueses. E agora até estão a ser analisadas as propostas de solução para os casos mais complicados.
Ora ainda bem. Pode ser que se evitem mais ‘casos isolados’.
Já quanto à morosidade da Justiça que esteve na base do desesperado e criminoso acto, nem uma palavra. Não é problema.
E mais outro exemplo: o sistema de informatização dos serviços dependentes do Ministério da Justiça – nomeadamente, os registos civil, predial e comercial – andam há meses com falhas crónicas que põem em causa o normal funcionamento das conservatórias. Conservadores e respectivos funcionários levam horas – quando não dias – em operações básicas, por falta de resposta do sistema.
E o que diz o ministro da Justiça?
Que não pode concluir-se que o sistema não funciona a partir de situações ‘pontuais’ e por desconhecimento do balanço global: foram feitas ene certidões, mais xis registos e um rol de outros actos por virtude do Simplex.
E tudo continua na mesma. Mais ainda, toca a avaliar os funcionários pelo número de informatizações que conseguem cumprir, independentemente das anomalias no sistema. Espantoso.
Alberto Costa recusa-se a reconhecer e a assumir o problema. Não pode, pois, resolvê-lo.
Em suma, o problema é mesmo esse. E é grave. Tanto mais grave quanto maior vai sendo o número de ministros com sacos rotos."
MRamires
Nos últimos tempos, os membros do Governo têm sido useiros e vezeiros no recurso a esta torpe técnica de alijar responsabilidades e encapar as questões.
Por mais graves que elas sejam.
Por exemplo, o Governo desconhece quantos edifícios do Estado têm amianto, substância cancerígena e, portanto, de elevado risco para a saúde pública. Apesar de existir há já cinco anos uma resolução da Assembleia da República no sentido de o Executivo promover e apresentar tal inventário.
Acontece que o Ministério da Educação tem em sua posse um relatório segundo o qual mais de 50% das escolas do país têm amianto.
E o que diz a ministra da Educação?
Olhem, leiam mas é os relatórios na íntegra e deixem de se preocupar apenas com parangonas ou notícias alarmistas...
Até porque, acrescenta a ministra, os níveis de partículas de amianto, em geral, estão dentro dos limites legais.
Sim, senhora: que os miúdos fiquem anos expostos ao amianto não tem problema; mas ai daquele que ouse acender um cigarro nessas mesmas instalações.
Sobre o problema em concreto e solução para o mesmo, Maria de Lurdes Rodrigues, em geral, diz que nada tem a declarar.
Outro exemplo: encarniça-se a ministra da Saúde com o facto de haver autarquias que celebraram protocolos com Cuba para que os seus munícipes que estão em lista de espera para uma operação aos olhos possam realizar a intervenção cirúrgica em hospitais cubanos especializados em oftalmologia.
Ana Jorge parece mais preocupada com o acompanhamento que esses doentes têm depois de realizada a operação em Cuba do que com o tempo de espera a que esses mesmos doentes teriam de sujeitar-se caso não tivessem essa alternativa. Muitos com sério risco de cegueira.
O que devia preocupar verdadeiramente a ministra era reduzir as listas de espera e tornar desnecessário o recurso a Cuba. E não condenar a meritória iniciativa das autarquias.
Dizer simplesmente que estas deviam procurar resolver o problema com os hospitais públicos nacionais – mais caros e sem capacidade de resposta – é atirar areia para os olhos de milhares de doentes em risco de deixar de ver. E para todos os outros, a ver se não vêem.
Novo exemplo: um indivíduo armado obrigou à evacuação do tribunal de Gaia.
O que veio dizer o representante do Ministério da Justiça?
Trata-se de um caso isolado. Pois claro.
Por acaso – mero acaso? – o Ministério até já recebeu um relatório (mais um) de uma comissão de trabalho que andou meses a verificar as condições de segurança e de controlo das entradas nos tribunais portugueses. E agora até estão a ser analisadas as propostas de solução para os casos mais complicados.
Ora ainda bem. Pode ser que se evitem mais ‘casos isolados’.
Já quanto à morosidade da Justiça que esteve na base do desesperado e criminoso acto, nem uma palavra. Não é problema.
E mais outro exemplo: o sistema de informatização dos serviços dependentes do Ministério da Justiça – nomeadamente, os registos civil, predial e comercial – andam há meses com falhas crónicas que põem em causa o normal funcionamento das conservatórias. Conservadores e respectivos funcionários levam horas – quando não dias – em operações básicas, por falta de resposta do sistema.
E o que diz o ministro da Justiça?
Que não pode concluir-se que o sistema não funciona a partir de situações ‘pontuais’ e por desconhecimento do balanço global: foram feitas ene certidões, mais xis registos e um rol de outros actos por virtude do Simplex.
E tudo continua na mesma. Mais ainda, toca a avaliar os funcionários pelo número de informatizações que conseguem cumprir, independentemente das anomalias no sistema. Espantoso.
Alberto Costa recusa-se a reconhecer e a assumir o problema. Não pode, pois, resolvê-lo.
Em suma, o problema é mesmo esse. E é grave. Tanto mais grave quanto maior vai sendo o número de ministros com sacos rotos."
MRamires
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