PELA CALADA
"Mais pela forma que pelo conteúdo, Manuela Ferreira Leite tem sido crucificada pela falta de "poder mobilizador" dos seus discursos, que são "mornos" e "pouco inspiradores". De facto, os que proferiu no congresso do PSD não desmentem a tese. Todos concordam que a senhora possui uma habilidade oratória idêntica à de uma locutora de GPS, embora fique um pedacinho aquém em intensidade dramática.
E depois? Na verdade, não sei desde quando o talento retórico é, em si mesmo, uma virtude. A capacidade de arrebatar as massas pela palavra tanto serviu para converter um país ao nazismo como para convencer outro país a resistir-lhe. Em países menores, serve a estadistas menores para anunciar pretensos "momentos históricos", publicitar disparates, justificar trapalhadas, espalhar informática e criancices afins.
Por outro lado, também não percebo as expectativas face às duas intervenções que a dra. Ferreira Leite realizou em Guimarães. Salvo equívocos e indefinições de permeio, ambas revelaram a maior das virtudes: foram relativamente breves. Pelos vistos, a generalidade dos comentadores queria uma coisa ao estilo de Fidel ou de Chávez, uma epopeia verbal de sete horas que antecipasse, ponto por ponto, quatro anos de eventual Governo, com soluções definitivas para o custo do gasóleo e para a escassez de cerejas, um desabafo de "garra" e fúria, que arrancasse das cadeiras os delegados presentes e os empurrasse do Minho prontos a tomar de assalto o eleitorado da nação.
Não aconteceu assim e, por mim, estranho que gente distanciadíssima do PSD lamente as patentes deficiências "motivacionais" da dra. Ferreira Leite. Não é credível que sujeitos de esquerda gostassem de ver o centro-direita empolgado, ou aspirassem a que as prédicas da senhora os empolgassem a eles.
Provavelmente, a circunstância de a nova líder do PSD não beneficiar de qualquer "estado de graça" é a prova de que o partido, mesmo que renitente, tomou a melhor opção: o líder anterior começou engraçadíssimo e terminou em lágrimas e insultos. Quanto à motivação das "bases", virá, assaz prosaicamente, no dia em que o PSD descobrir, se descobrir, uma hipótese plausível de regressar ao poder. E o poder depende muito menos da eloquência de quem o procura que das acções de quem o detém. Não é à toa que, congresso à parte, a dra. Ferreira Leite não abre a boca."
Alberto Gonçalves
E depois? Na verdade, não sei desde quando o talento retórico é, em si mesmo, uma virtude. A capacidade de arrebatar as massas pela palavra tanto serviu para converter um país ao nazismo como para convencer outro país a resistir-lhe. Em países menores, serve a estadistas menores para anunciar pretensos "momentos históricos", publicitar disparates, justificar trapalhadas, espalhar informática e criancices afins.
Por outro lado, também não percebo as expectativas face às duas intervenções que a dra. Ferreira Leite realizou em Guimarães. Salvo equívocos e indefinições de permeio, ambas revelaram a maior das virtudes: foram relativamente breves. Pelos vistos, a generalidade dos comentadores queria uma coisa ao estilo de Fidel ou de Chávez, uma epopeia verbal de sete horas que antecipasse, ponto por ponto, quatro anos de eventual Governo, com soluções definitivas para o custo do gasóleo e para a escassez de cerejas, um desabafo de "garra" e fúria, que arrancasse das cadeiras os delegados presentes e os empurrasse do Minho prontos a tomar de assalto o eleitorado da nação.
Não aconteceu assim e, por mim, estranho que gente distanciadíssima do PSD lamente as patentes deficiências "motivacionais" da dra. Ferreira Leite. Não é credível que sujeitos de esquerda gostassem de ver o centro-direita empolgado, ou aspirassem a que as prédicas da senhora os empolgassem a eles.
Provavelmente, a circunstância de a nova líder do PSD não beneficiar de qualquer "estado de graça" é a prova de que o partido, mesmo que renitente, tomou a melhor opção: o líder anterior começou engraçadíssimo e terminou em lágrimas e insultos. Quanto à motivação das "bases", virá, assaz prosaicamente, no dia em que o PSD descobrir, se descobrir, uma hipótese plausível de regressar ao poder. E o poder depende muito menos da eloquência de quem o procura que das acções de quem o detém. Não é à toa que, congresso à parte, a dra. Ferreira Leite não abre a boca."
Alberto Gonçalves
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