PORREIRINHO, PÁS!
"Não será casual que um célebre verso irlandês seja o "A terrible beauty is born", de W. B. Yeats, aliás escrito meia dúzia de anos antes da independência e a pretexto indirecto dela (a "Insurreição da Páscoa" de 1916). "Uma beleza terrível", ou no mínimo duvidosa, ajuda a definir essa terra de paradoxos e simetrias, que tem algumas das mais bonitas paisagens do Ocidente, mas também a capital mais tristonha. Que tem uma população simpaticíssima, mas também um clima cansativo. Que tem ostras divinais, mas também uma culinária subsidiária do lixo inglês. Que tem o maior número de escritores decentes por metro quadrado, mas também o maior número de vitórias no Festival da Eurovisão. Que tem os Pogues, mas também os U2. Que elevou uma personagem literária a feriado, mas não leu o livro a que a personagem pertence. Que lutou pela libertação face a um poder injusto e distante, mas adoptou o terrorismo e o abate de inocentes. Que, enfim, rejeitou a arrogância formal do Tratado de Lisboa e a burocracia levemente totalitária e ocultista da "Europa", mas juntou no "não" o apoio dos radicais e fundamentalistas da direita, da esquerda, da Igreja e do que calhou. As melhores causas nas mãos das piores gentes. Não falha: com a Irlanda, nunca se consegue ficar inteiramente satisfeito. Nem inteiramente desapontado. "
Alberto Gonçalves
Alberto Gonçalves
1 Comments:
"...mas adoptou o terrorismo e o abate de inocentes"
O autor deveria estudar melhor a realidade da Irlanda, existe a república da Irlanda e a Irlanda do Norte, políticamente distintas. A república da Irlanda lutou de facto por uma independência. A irlanda do Norte é um território ocupado e colonizado pela força por Ingleses inavsores. Chamar terrorismo ao movimento independentista é o mesmo que defender o invasor. De facto os inocentes abatidos no Domingo sangrento eram os invadidos, não os invasores.
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