terça-feira, junho 17, 2008

Pouca-vergonha

Manifestamente, este Governo não é tão forte quanto apregoa. Leva umas pauladas no lombo e cede a tudo e a mais alguma coisa”

Os camionistas comemoraram o boicote de três dias com uma grande almoçarada em Viseu. Es-tá bem. Não podia ser de outra forma. O sítio é o que é e não há nada a fazer. Só faltaram a essa festança José Sócrates e Mário Lino. Todos juntos mostrariam aos indígenas que a pouca-vergonha compensa. Todos juntos mostrariam aos cidadãos que ainda não fugiram deste sítio cada vez mais mal frequentado que o Movimento Nacional Feminino está vivo e recomenda-se, que os peditórios estão na ordem do dia e que as práticas salazarentas estão na massa do sangue e devem ser seguidas à risca, embora às vezes disfarçadas de discursos modernos, com roupagens mundanas e vernizes falsificados. O acordo muito celebrado entre o Governo e os camionistas mostra que este sítio continua a ser uma choldra. Vejamos. Uma empresa privada, cotada em Bolsa, a Brisa, aceitou suportar os custos durante seis meses dos descontos nocturnos nas portagens aos veículos pesados.

É óbvio que uma empresa só aceita uma decisão destas por uma de duas razões: deve muitos favores ao Estado e aos governos ou espera, a curto prazo, ser beneficiada em mais alguma concessão de uma qualquer auto-estrada. É evidente que uma não anula a outra e ambas podem ser verdade. Por outro lado, é inacreditável que o Governo se meta nos preços dos fretes, decretando a indexação dos mesmos ao custo do gasóleo. O mercado e a livre concorrência deram lugar aos preços fixados administrativamente. Em terceiro lugar, os clientes dos camionistas têm de pagar as facturas em trinta dias e só a partir desse prazo os pobres devolvem o IVA ao Estado. Um privilégio numa sociedade em que empresas e cidadãos enchem os cofres do Estado meses e anos antes de verem as facturas de bens e serviços serem pagas. A insurreição acabou assim. Com esta pouca-vergonha. Agora é natural que venham aí os agricultores, os bombeiros, os donos de reboques, os comerciantes, os taxistas e todos aqueles que podem, de uma maneira ou de outra, infernizar a vida dos cidadãos que ainda não conseguiram fugir deste sítio. O aumento dos preços dos combustíveis é uma realidade que só o mercado pode resolver. Os sacrifícios são para todos. Mas neste sítio não é nem nunca foi assim. Há sempre os espertos que aproveitam as fraquezas alheias. Manifestamente, este Governo não é tão forte como apregoa. Leva umas pauladas no lombo e cede a tudo e a mais alguma coisa
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António Ribeiro Ferreira

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