terça-feira, junho 03, 2008

Prego

"A política portuguesa tem mais um lindo serviço para apresentar: a afluência dos portugueses às casas de penhores registou, desde Maio do ano passado, um aumento de 50 por cento.

É o que revela um inquérito da agência Lusa junto de prestamistas de Lisboa e do Porto. O “oásis” era uma miragem, o “pântano” secou, Portugal despiu a “tanga” e regrediu à fase do “prego”. Os resultados podem mesmo querer dizer que os políticos portugueses que governam o país há 30 anos, e nomeadamente nos últimos três, viraram o bico ao prego quanto às promessas de desenvolvimento e bem-estar, ou então puseram a democracia no prego. Prego a fundo.

O inquérito sobre a corrida às casas de penhores é simplesmente uma tradução real de estatísticas que todos os dias dão conta do empobrecimento extremo do país. Os prestamistas consultados pela Lusa dizem que as pessoas se entregam nas mãos dos usurários para matar a fome, porque não têm emprego ou têm salários em atraso. Foi a isto que conduziram as políticas neoliberais e as obsessões contabilísticas: à pobreza e à extrema desigualdade, ao prego e à ostentação insultuosa da casta dos novos-ricos favorecidos. E não há malabarismos verbais que dêem a volta à realidade: no último ano a maioria dos portugueses empobreceu.

Glosando a letra de um fadinho de Alberto Janes, na voz inimitável (por mais que a imitem) de Amália, bem poderia cantar-se: «P’ra terem feito da democracia o que fizeram, melhor fora que a mandassem p´ras alminhas». É o fado, que já foi alegre, mas de alegre se fez triste. O que isto é, isso sim, é uma enorme vergonha, se ainda se usasse a dignidade de ter vergonha na cara. Mas a classe política tem a cara estanhada. E ainda por cima ri-se
."

João Paulo Guerra

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