DEMAGOGIA E POPULISMO
"1º Talvez por ter sido jornalista durante muitos anos (no Expresso), António Marinho Pinto, actual bastonário da Ordem dos Advogados, sabe preparar as suas intervenções públicas. Para cada entrevista leva sempre uma frase, uma ideia, que fica. Que choca. Que tem citação.
Dou alguns exemplos.
Abordando a violência doméstica, nomeadamente a que é exercida sobre as mulheres, veio defender que esta deveria deixar de ser um crime público. Mais: havia, e portanto ainda haverá, um "feminismo entranhado" na lei.
Quanto ao processo Casa Pia, entendeu informar- -nos (sem dar qualquer prova, era apenas a sua convicção...) que houve "uma tentativa de decapitar a direcção do PS".
No que respeita à Polícia Judiciária, disse a certa altura que esta polícia "não está na dependência do Ministério Público, mas sim do Governo".
Falando sobre corrupção alertou-nos para a existência de crimes cometidos "impunemente" por pessoas com cargos de relevo na hierarquia do Estado.
Analisando a actividade das forças policiais, PSP e GNR, afirmou que elas "não estão a cumprir as suas funções". Porquê? Porque durante o dia "os polícias amontoam-se nas esquadras" das grandes cidades, mas à noite "estão completamente abandonadas" e muitas vezes "entregues a jovens inexperientes". A culpa, neste caso, é dos "sindicatos".
Referindo-se aos deputados, mas não só, chegou a dizer que "é preciso um sobressalto cívico para que caiam alguns parasitas, algumas bactérias que existem nas estruturas da República".
Sobre o funcionamento dos tribunais, emitiu a opinião de que nada mudou desde o tempo do marquês de Pombal, sendo que os magistrados são temidos mas não respeitados. E repetiu agora, na entrevista a Judite de Sousa, na RTP, a comparação que já fizera no mês passado: eles, os magistrados, podem ser comparados com os agentes da antiga PIDE.
Não cito mais, nem sequer a defesa que Marinho Pinto também fez de Vale e Azevedo. Acho que, para ilustrar a realidade, estas "pérolas" chegam.
2 Um qualquer português que fizesse 10% destas acusações genéricas e insultuosas ficaria com problemas para gerir nos próximos dez anos em sede da Justiça. Mas Marinho Pinto, servindo-se de um cargo de relevo à frente de uma classe profissional prestigiada, obviamente traçou um caminho e definiu uma estratégia: enquanto os processos vão e vêm, folga ele com a legítima indignação dos visados. O bastonário sabe, como qualquer bom populista e demagogo, que "o povo" gosta disto, deste caldo de acusações medíocres e cobardes contra tudo o que cheire a "poderosos".
E, quanto à matéria de facto, ele também sabe, com recurso à experiência de advogado, que há ali um largo caminho para, na devida altura, fazer passar como legítima convicção pessoal algumas destas acusações. Quanto à violência sobre as mulheres ou às violações às crianças (espero que para Marinho Pinto o processo Casa Pia não tenha sido uma simples invenção...), pode ainda ficar descansado. Nenhum dos milhares de ofendidos se vai queixar destas afirmações gratuitas, de uma insensibilidade social que assusta.
Sinceramente, admira-me a passividade com que os advogados vão assistindo a estas diatribes. Percebo que, numa classe dominada pelos grandes escritórios, Marinho Pinto tenha ganho a função fazendo de cruzado da maioria dos profissionais do sector. Mas neste momento não entendo o silêncio. Custa-me a admitir que os advogados se revejam nestas declarações brutais, que alimentam o alarme social - e que são cobardes porque estendem sobre classes inteiras generalizações que podem, num caso ou noutro, ter alguma razão particular. E que seriam bem-vindas se viessem com nomes e datas.
Quando tudo isto começou, José Miguel Júdice fez um aviso. Achei que estava a ser exagerado. Passado este tempo tenho forçosamente de lhe dar razão. Marinho Pinto já passou todos os limites."
João Marcelino
Dou alguns exemplos.
Abordando a violência doméstica, nomeadamente a que é exercida sobre as mulheres, veio defender que esta deveria deixar de ser um crime público. Mais: havia, e portanto ainda haverá, um "feminismo entranhado" na lei.
Quanto ao processo Casa Pia, entendeu informar- -nos (sem dar qualquer prova, era apenas a sua convicção...) que houve "uma tentativa de decapitar a direcção do PS".
No que respeita à Polícia Judiciária, disse a certa altura que esta polícia "não está na dependência do Ministério Público, mas sim do Governo".
Falando sobre corrupção alertou-nos para a existência de crimes cometidos "impunemente" por pessoas com cargos de relevo na hierarquia do Estado.
Analisando a actividade das forças policiais, PSP e GNR, afirmou que elas "não estão a cumprir as suas funções". Porquê? Porque durante o dia "os polícias amontoam-se nas esquadras" das grandes cidades, mas à noite "estão completamente abandonadas" e muitas vezes "entregues a jovens inexperientes". A culpa, neste caso, é dos "sindicatos".
Referindo-se aos deputados, mas não só, chegou a dizer que "é preciso um sobressalto cívico para que caiam alguns parasitas, algumas bactérias que existem nas estruturas da República".
Sobre o funcionamento dos tribunais, emitiu a opinião de que nada mudou desde o tempo do marquês de Pombal, sendo que os magistrados são temidos mas não respeitados. E repetiu agora, na entrevista a Judite de Sousa, na RTP, a comparação que já fizera no mês passado: eles, os magistrados, podem ser comparados com os agentes da antiga PIDE.
Não cito mais, nem sequer a defesa que Marinho Pinto também fez de Vale e Azevedo. Acho que, para ilustrar a realidade, estas "pérolas" chegam.
2 Um qualquer português que fizesse 10% destas acusações genéricas e insultuosas ficaria com problemas para gerir nos próximos dez anos em sede da Justiça. Mas Marinho Pinto, servindo-se de um cargo de relevo à frente de uma classe profissional prestigiada, obviamente traçou um caminho e definiu uma estratégia: enquanto os processos vão e vêm, folga ele com a legítima indignação dos visados. O bastonário sabe, como qualquer bom populista e demagogo, que "o povo" gosta disto, deste caldo de acusações medíocres e cobardes contra tudo o que cheire a "poderosos".
E, quanto à matéria de facto, ele também sabe, com recurso à experiência de advogado, que há ali um largo caminho para, na devida altura, fazer passar como legítima convicção pessoal algumas destas acusações. Quanto à violência sobre as mulheres ou às violações às crianças (espero que para Marinho Pinto o processo Casa Pia não tenha sido uma simples invenção...), pode ainda ficar descansado. Nenhum dos milhares de ofendidos se vai queixar destas afirmações gratuitas, de uma insensibilidade social que assusta.
Sinceramente, admira-me a passividade com que os advogados vão assistindo a estas diatribes. Percebo que, numa classe dominada pelos grandes escritórios, Marinho Pinto tenha ganho a função fazendo de cruzado da maioria dos profissionais do sector. Mas neste momento não entendo o silêncio. Custa-me a admitir que os advogados se revejam nestas declarações brutais, que alimentam o alarme social - e que são cobardes porque estendem sobre classes inteiras generalizações que podem, num caso ou noutro, ter alguma razão particular. E que seriam bem-vindas se viessem com nomes e datas.
Quando tudo isto começou, José Miguel Júdice fez um aviso. Achei que estava a ser exagerado. Passado este tempo tenho forçosamente de lhe dar razão. Marinho Pinto já passou todos os limites."
João Marcelino
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home