DESENHOS ANIMADOS
"A revista New Yorker, aliás boa e aliás tendencialmente democrata, pôs na capa um "cartoon" com Barack Obama vestido de muçulmano e Michelle Obama (a esposa) vestida de guerrilheira. Ambos fazem uma saudação "enigmática" (na verdade um cumprimento que usaram numa aparição pública). Em segundo plano, há um retrato de Osama Bin Laden e uma bandeira dos EUA que arde na lareira. O cartoo" é fraco, no traço e na graça. Já que assumida e obviamente pretende caricaturar as suspeitas que muitos americanos possuem acerca das reais filiações e intenções do casal, o "cartoon" é também irónico.
O erro da New Yorker passa por aí: a fraqueza aceita-se, mas os tempos não estão para ironias. O pobre rabisco suscitou logo um vendaval de críticas: o rabisco revela mau gosto; o rabisco ofende; o rabisco conspurca. É engraçado verificar como as fronteiras do insulto dependem do alvo.
Nem falo de George W. Bush, brutal e pacatamente caluniado em séries de televisão, filmes, documentários, desenhos, cantigas "pop", obras de "arte" e afirmações de governantes de países aliados dos EUA. Falo da tradição nos Estados Unidos e no Ocidente em geral, que, com maior ou menor crueldade, permite o feliz hábito de se caricaturar quem calha.
Obama, aparentemente, é uma excepção. O que não espanta, dado o consenso que a "inteligência" norte-americana e internacional ergueu à sua volta. As causas do consenso são plurais e discutíveis. A consequência é evidente: a beatificação do homem. Embalados pelo conteúdo vago e pelo tom evangélico dos seus discursos, os seguidores de Obama esperam dele o exacto tipo de redenção colectiva que se espera dos santos e dos profetas. E não de um profeta qualquer. Resguardadas as diferenças entre a polida irritação dos liberais nova-iorquinos e a fúria da "rua árabe", que me lembre só o "cartoon" de Maomé provocou barulho comparável. Nisso, a capa da New Yorker não errou."
Alberto Gonçalves
O erro da New Yorker passa por aí: a fraqueza aceita-se, mas os tempos não estão para ironias. O pobre rabisco suscitou logo um vendaval de críticas: o rabisco revela mau gosto; o rabisco ofende; o rabisco conspurca. É engraçado verificar como as fronteiras do insulto dependem do alvo.
Nem falo de George W. Bush, brutal e pacatamente caluniado em séries de televisão, filmes, documentários, desenhos, cantigas "pop", obras de "arte" e afirmações de governantes de países aliados dos EUA. Falo da tradição nos Estados Unidos e no Ocidente em geral, que, com maior ou menor crueldade, permite o feliz hábito de se caricaturar quem calha.
Obama, aparentemente, é uma excepção. O que não espanta, dado o consenso que a "inteligência" norte-americana e internacional ergueu à sua volta. As causas do consenso são plurais e discutíveis. A consequência é evidente: a beatificação do homem. Embalados pelo conteúdo vago e pelo tom evangélico dos seus discursos, os seguidores de Obama esperam dele o exacto tipo de redenção colectiva que se espera dos santos e dos profetas. E não de um profeta qualquer. Resguardadas as diferenças entre a polida irritação dos liberais nova-iorquinos e a fúria da "rua árabe", que me lembre só o "cartoon" de Maomé provocou barulho comparável. Nisso, a capa da New Yorker não errou."
Alberto Gonçalves
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