Incerteza
"A incerteza alimenta sempre, de forma subliminar, a necessidade de certezas, de regras, de ideias e de valores partilhados.
Os homens lidam muito mal com a incerteza. Preferem enfrentar uma situação difícil mas certa do que uma insegurança prolongada. O estudante que defende uma tese, a pessoa que faz exames médicos e o acusado que aguarda a sentença, todos sentem uma ansiedade directamente proporcional ao tempo de espera. Em “O processo”, de Kafka, o acusado não sabe de que é acusado, nem quem o acusa, nem quando terá lugar o processo. Fazer esperar os outros, não responder às suas cartas, mantê-los em suspenso, é uma prerrogativa do poder perverso. É para reduzir a incerteza que a sociedade produz leis, assume compromissos, faz pactos e tratados.
Vivemos actualmente num período de grande incerteza, para o qual contribuem muitos factores, sendo um deles a crise de ideologias. A última a dissolver-se foi a ideologia marxista que prometia igualdade, justiça e um futuro radioso. Hoje em dia, ninguém conhece o futuro. Nem sequer em termos climáticos. Além disso, a globalização produziu um deslocamento, do ocidente para o oriente, dos eixos político e económico. Para nos movimentarmos, para nos aquecermos e até mesmo para usar os computadores, dependemos do petróleo e do metano dos países islâmicos.
A China tornou-se uma super potência económica, e daqui a pouco também o será a nível militar. O mesmo se passa com a Índia. As nossas empresas enfrentam dificuldades para resistir à concorrência de países nos quais as pessoas nascem na miséria e trabalham para construir um futuro para si e para os seus filhos. São pessoas que pensam poder melhorar. Muitos ocidentais, pelo contrário, já não estão tão certos disso.
A incerteza é particularmente grande em Itália, onde é acentuada por um escasso desenvolvimento económico a que se soma uma enorme conflitualidade que abrange política, religião e moral. Não há tema que não divida os italianos: se a educação deve ser rígida ou permissiva, se o aborto está certo ou errado, se as drogas devem ser legalizadas ou não, se a teoria da evolução é verdadeira ou não, se os evangelhos têm ou não uma base histórica, se devemos avançar para o TGV... Isto gera uma incerteza que, em alguns, se transforma em indiferença, noutros em medo, e noutros ainda em ira e revolta. Mas a incerteza alimenta sempre, de forma subliminar, a necessidade de certezas, de regras, de ideias e de valores partilhados. Por essa razão, vivemos numa época propícia a movimentos colectivos que, no início, levam a extremos ou a conflitos, depois fazem surgir novos partidos, novos líderes e proporcionam , por vezes a um preço elevado, o consenso e a autoridade."
Francesco Alberoni
Os homens lidam muito mal com a incerteza. Preferem enfrentar uma situação difícil mas certa do que uma insegurança prolongada. O estudante que defende uma tese, a pessoa que faz exames médicos e o acusado que aguarda a sentença, todos sentem uma ansiedade directamente proporcional ao tempo de espera. Em “O processo”, de Kafka, o acusado não sabe de que é acusado, nem quem o acusa, nem quando terá lugar o processo. Fazer esperar os outros, não responder às suas cartas, mantê-los em suspenso, é uma prerrogativa do poder perverso. É para reduzir a incerteza que a sociedade produz leis, assume compromissos, faz pactos e tratados.
Vivemos actualmente num período de grande incerteza, para o qual contribuem muitos factores, sendo um deles a crise de ideologias. A última a dissolver-se foi a ideologia marxista que prometia igualdade, justiça e um futuro radioso. Hoje em dia, ninguém conhece o futuro. Nem sequer em termos climáticos. Além disso, a globalização produziu um deslocamento, do ocidente para o oriente, dos eixos político e económico. Para nos movimentarmos, para nos aquecermos e até mesmo para usar os computadores, dependemos do petróleo e do metano dos países islâmicos.
A China tornou-se uma super potência económica, e daqui a pouco também o será a nível militar. O mesmo se passa com a Índia. As nossas empresas enfrentam dificuldades para resistir à concorrência de países nos quais as pessoas nascem na miséria e trabalham para construir um futuro para si e para os seus filhos. São pessoas que pensam poder melhorar. Muitos ocidentais, pelo contrário, já não estão tão certos disso.
A incerteza é particularmente grande em Itália, onde é acentuada por um escasso desenvolvimento económico a que se soma uma enorme conflitualidade que abrange política, religião e moral. Não há tema que não divida os italianos: se a educação deve ser rígida ou permissiva, se o aborto está certo ou errado, se as drogas devem ser legalizadas ou não, se a teoria da evolução é verdadeira ou não, se os evangelhos têm ou não uma base histórica, se devemos avançar para o TGV... Isto gera uma incerteza que, em alguns, se transforma em indiferença, noutros em medo, e noutros ainda em ira e revolta. Mas a incerteza alimenta sempre, de forma subliminar, a necessidade de certezas, de regras, de ideias e de valores partilhados. Por essa razão, vivemos numa época propícia a movimentos colectivos que, no início, levam a extremos ou a conflitos, depois fazem surgir novos partidos, novos líderes e proporcionam , por vezes a um preço elevado, o consenso e a autoridade."
Francesco Alberoni
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