segunda-feira, julho 07, 2008

Felicidade

"A sensação da felicidade em Portugal tem vindo a derrapar e a decrescer desde 1985, na razão directa em que decrescem a prosperidade económica, a democratização e a tolerância social, de acordo com um estudo do World Values Survey.

Outros dois estudos agora divulgados, baseados igualmente em factores socioeconómicos e políticos, coincidem nos resultados: quer se apliquem os critérios que valorizam os modelos de felicidade da Dinamarca quer os das ilhas Vanuatu, Portugal está instalado na metade inferior de qualquer tabela mundial, abaixo da sensação de felicidade na Índia ou no Cambodja. Não se sabe se a cotação de Portugal como país tendencialmente infeliz deixa felizes os autores de tamanha infelicidade. O que é certo é que eles aparecem em geral sorridentes quando se exibem em público.

Mas é bem provável que a felicidade dos portugueses passe a constituir nos tempos mais próximos parte substancial da agenda e do discurso políticos. Vistas as coisas, são os maioritariamente infelizes que vão decidir a eleição, no ano que vem, dos responsáveis pelas condições que sustentam ou que comprometem a felicidade dos portugueses.

E assim, por exemplo, a Assembleia da República terá aprovado ontem uma proposta do PS declarando que a pobreza passa a constituir uma violação dos Direitos Humanos. Grande iniciativa para um país onde metade das famílias viveram nos últimos anos em situações “vulneráveis à pobreza”, embora não se veja que efeitos práticos a tonitruante proclamação parlamentar irá render. A não ser uns trocos a favor da contabilidade eleitoral do PS, logo agora que o PSD descobriu a vocação da denúncia do empobrecimento dos portugueses como cavalo de batalha política
."

João Paulo Guerra

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