terça-feira, julho 01, 2008

A ORIGEM DE TODOS OS MALES (E MAIS ALGUNS)

"O potencial expiatório da administração Bush é a sua única virtude indiscutível. Antigamente, tentava-se compreender cada facto político, histórico ou social à luz de causas mais ou menos complexas, que davam um trabalhão a encontrar e, às vezes, nem se encontravam de todo. Hoje, é um sossego: aconteça o que acontecer, imputa-se a culpa ao governo norte-americano e assunto encerrado.

Foi graças a este método que se apurou a responsabilidade directa de Bush e dos seus em fenómenos como o 11 de Setembro, o terrorismo islâmico em geral, o "aquecimento global", a fome em África, o crescimento da Índia, a desigualdade na Terra, o Médio Oriente e o furacão Katrina, para citar exemplos inequívocos. Com boa vontade, e boa vontade não falta, o método aplica-se aos eventos que se quiser, desde a revolta dos camionistas ao desempenho da selecção de futebol.

Brincadeira? Talvez, mas não minha. Esta semana, um ministro francês, o sr. Jean-Pierre Jouyet, surgiu a consolar a perplexidade dos líderes europeus com uma explicação cabal para a rejeição irlandesa do Tratado de Lisboa: o alegado patrocínio dos neoconservadores dos EUA aos movimentos do "não". Não importa se é verdade. Importa que, segundo este extraordinário raciocínio, a administração Bush teve a desfaçatez de perturbar a radiosa "construção europeia" e, no processo, de infligir uma "derrota pessoal" (sic) ao eng. Sócrates. A fome no mundo, as "alterações climáticas" e, vá lá, o atraso na "construção europeia" ainda se toleram. A humilhação do nosso primeiro-ministro, não. Agora Bush foi longe demais. Aguardo convocatória para uma ou duas marchas de protesto
."

Alberto Gonçalves

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