sexta-feira, julho 25, 2008

OS INFORTÚNIOS DA VIRTUDE

"Começo, como agora é moda, pela declaração de interesses e desinteresses. Não me oponho ao casamento de homossexuais. Não acho que o casamento tenda necessariamente à procriação. Não procriei nem tenciono procriar. Não sou católico ou crente de nenhuma fé.

Por estranho que pareça, estas irrelevantíssimas convicções pessoais não me enchem de orgulho desmedido na minha própria abertura de vistas. Ou seja, não me sinto mais esclarecido do que as pessoas que pensam o inverso.

Serei, julgo, caso raro. Há dias que a entrevista de Manuela Ferreira Leite à TVI suscita testemunhos de sujeitos avulsos, os quais, com considerável soberba, decidiram dar à senhora umas aulas do progressismo social de que ela carece e que os sujeitos, naturalmente, possuem em abundância. O último da lista foi o eng. Sócrates, que, em repasto de deputados socialistas, acusou a dra. Ferreira Leite de ser "pré-moderna" e "pré-concílio do Vaticano II". Suponho que a sala tenha vindo abaixo com a manifestação de modernidade.

Eis a vantagem das causas "fracturantes": basta apoiá-las, ou fingir apoiá-las, para se adquirir uma súbita virtude e um consenso com o espírito do tempo. Não importa a matéria das causas, mas a ilusão de superioridade "moral" que a respectiva defesa automaticamente concede. Ao dispensarem argumentação, as causas não diferem muito do futebol: um universo elementar, fundamentado em pólos extremados e "teses" cegas, que atrai a paixão e exclui a racionalidade. A diferença é que, ao contrário do futebol, cada causa possui um lado "certo", um partido que se "deve" tomar sob pena de se perder a desejada integração. E, para não confundir as cabecinhas, a "correcção" normalmente chega em pacote e assume-se em pacote: casamento gay (a favor), aborto (pró), alte- rações climáticas (uma ameaça), transgénicos (uma desgraça), touradas (contra), lacidade do Estado (óbvia, se o Estado não for islâmico ou budista), eutanásia (sim, sim, sim), etc.

Adoptar posições divergentes é incorrer na ignorância e no fanatismo. Porquê? Não se sabe bem. De resto, seria típico de ignorantes e fanáticos tentar perceber. A tolerância do politicamente correcto tem limites estreitos
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Alberto Gonçalves

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