Pobres e ricos
"O debate em Portugal está torto. Os que mais defendem os pobres são aqueles que têm as piores ideias para combater a pobreza.
Quando observamos o debate em Portugal sobre a pobreza e a riqueza parece que nada mudou nos últimos trinta anos. Parece que Portugal não aderiu à União Europeia e à economia de mercado (não só internamente, mas também europeu); parece que a União Soviética não acabou; e parece que a história não demonstrou que as doutrinas marxistas foram o maior embuste do século XX, condenando centenas de milhões de pessoas à mais absoluta das misérias. Em 2008, as forças políticas marxistas e neo-marxistas, o PCP e o Bloco de Esquerda, dominam o debate sobre a pobreza e o resto da sociedade portuguesa está quase toda na defensiva. É extraordinário.
Comecemos com a pobreza. É necessário fazer a seguinte pergunta à esquerda marxista nacional: em relação às experiências socialistas do século XX, o que fariam de diferente para combater a pobreza e as desigualdades sociais? Nunca vi o PCP ou o Bloco de Esquerda reconhecerem que as políticas económicas marxistas apenas criam mais e mais pobreza. O que vejo é os velhos ataques ao capitalismo e ao mercado. E a defesa das mesmas receitas: nacionalizações, mais impostos e reforço do poder central para controlar tudo e mais alguma coisa (é a visão centralizadora do Estado à semelhança da natureza das direcções partidárias do PCP e do Bloco). Será que alguém quer repetir a experiência marxista do século XX? Vão à Polónia, à Hungria, à República Checa, aos países Bálticos e vejam o que as pessoas dizem sobre as “maravilhas” do socialismo, principalmente em relação à pobreza e às desigualdades sociais provocadas pelos regimes socialistas. A negação da realidade e a obsessão com a sua personalidade, as suas ideias, a sua militância e o seu passado são extraordinários nos dirigentes comunistas e bloquistas (embora muito mais nestes). Vivem tão convencidos da “justeza” e da “grandeza” das suas ideias que a realidade simplesmente não interessa. É preciso dizer aos portugueses que essas ideias são a maior causa de pobreza que o mundo conheceu nos últimos cem anos.
Há um segundo ponto extraordinário no debate sobre a pobreza, que está relacionado com a origem da riqueza. Em Portugal, muitos estabelecem a seguinte relação causal: é a riqueza que causa a pobreza. Ou seja, os ricos são os culpados da pobreza dos pobres. É uma ideia completamente absurda. Em termos muito simples, o raciocínio é o seguinte. A senhora x (muito pobre) tem 10, porque a senhora y (muito rica) tem 100. A questão começa assim a passar da pobreza para a riqueza. O problema não é a senhora x ter apenas 10. O verdadeiro problema é a senhora y ter 100. A pergunta seguinte é então: donde vieram os 100 da senhora x? A não ser que se acredite numa tese geral da conspiração (em que todos os ricos são desonestos e corruptos), na grande maioria dos casos, as senhoras x são ricas porque trabalham, porque têm mérito. Não é pecado ser-se rico. Dá trabalho, não cai do céu. Os 100 foram criados pelo trabalho e empenho da senhora x. E o que a história socialista do século XX mostra é que o Estado não é capaz de substituir a senhora x para criar os 100. E a história das economias de mercado mostra que ao criar 100, a senhora x permite que muitos que ganhavam 10 possam ganhar 20 ou 30. Por fim, mesmo que a senhora x não tenha 100, isso não impede que a senhora y continue com os mesmos 10. O que é preciso dizer com toda a clareza é que as empresárias e os empresários portugueses fazem muito mais para combater a pobreza do que o PCP e o Bloco de Esquerda juntos.
Infelizmente, em Portugal há demasiados que acreditam na tese da conspiração. E, depois, fazem as inevitáveis associações entre a pobreza e a “bondade” e a riqueza e a “maldade”. Por definição, os ricos são “maus” (ou “desonestos”) e os pobres são “bons” (ou “puros” e “honestos”). Será que ninguém discute os temas em termos de trabalho ou preguiça, competência ou incompetência, mérito ou falta de mérito? A deturpação do debate acontece porque, no fundo, os portugueses sabem que não há igualdade de oportunidades na nossa sociedade, principalmente na educação e no mercado de trabalho. Nesse sentido, é verdade que os pobres são vítimas, mas não são vítimas dos ricos. São vítimas de um sistema económico e social que não dá as oportunidades suficientes que todos os cidadãos merecem e, por isso, necessita de ser reformado. As forças que mais lutam contra as reformas, e dizem “defender” os pobres são, em grande medida, as responsáveis pela pobreza que existe em Portugal. É desses que os pobres são vítimas.
Em suma, o debate em Portugal está torto. Os que mais defendem os pobres são aqueles que têm as piores ideias para combater a pobreza. Os que discordam das más ideias são incapazes de desenvolver um discurso alternativo para o problema da pobreza. Ocorre no debate nacional a pior das situações: os que estão errados são os mais convictos; e falta convicção aos que estão certos."
João Marques de Almeida
Quando observamos o debate em Portugal sobre a pobreza e a riqueza parece que nada mudou nos últimos trinta anos. Parece que Portugal não aderiu à União Europeia e à economia de mercado (não só internamente, mas também europeu); parece que a União Soviética não acabou; e parece que a história não demonstrou que as doutrinas marxistas foram o maior embuste do século XX, condenando centenas de milhões de pessoas à mais absoluta das misérias. Em 2008, as forças políticas marxistas e neo-marxistas, o PCP e o Bloco de Esquerda, dominam o debate sobre a pobreza e o resto da sociedade portuguesa está quase toda na defensiva. É extraordinário.
Comecemos com a pobreza. É necessário fazer a seguinte pergunta à esquerda marxista nacional: em relação às experiências socialistas do século XX, o que fariam de diferente para combater a pobreza e as desigualdades sociais? Nunca vi o PCP ou o Bloco de Esquerda reconhecerem que as políticas económicas marxistas apenas criam mais e mais pobreza. O que vejo é os velhos ataques ao capitalismo e ao mercado. E a defesa das mesmas receitas: nacionalizações, mais impostos e reforço do poder central para controlar tudo e mais alguma coisa (é a visão centralizadora do Estado à semelhança da natureza das direcções partidárias do PCP e do Bloco). Será que alguém quer repetir a experiência marxista do século XX? Vão à Polónia, à Hungria, à República Checa, aos países Bálticos e vejam o que as pessoas dizem sobre as “maravilhas” do socialismo, principalmente em relação à pobreza e às desigualdades sociais provocadas pelos regimes socialistas. A negação da realidade e a obsessão com a sua personalidade, as suas ideias, a sua militância e o seu passado são extraordinários nos dirigentes comunistas e bloquistas (embora muito mais nestes). Vivem tão convencidos da “justeza” e da “grandeza” das suas ideias que a realidade simplesmente não interessa. É preciso dizer aos portugueses que essas ideias são a maior causa de pobreza que o mundo conheceu nos últimos cem anos.
Há um segundo ponto extraordinário no debate sobre a pobreza, que está relacionado com a origem da riqueza. Em Portugal, muitos estabelecem a seguinte relação causal: é a riqueza que causa a pobreza. Ou seja, os ricos são os culpados da pobreza dos pobres. É uma ideia completamente absurda. Em termos muito simples, o raciocínio é o seguinte. A senhora x (muito pobre) tem 10, porque a senhora y (muito rica) tem 100. A questão começa assim a passar da pobreza para a riqueza. O problema não é a senhora x ter apenas 10. O verdadeiro problema é a senhora y ter 100. A pergunta seguinte é então: donde vieram os 100 da senhora x? A não ser que se acredite numa tese geral da conspiração (em que todos os ricos são desonestos e corruptos), na grande maioria dos casos, as senhoras x são ricas porque trabalham, porque têm mérito. Não é pecado ser-se rico. Dá trabalho, não cai do céu. Os 100 foram criados pelo trabalho e empenho da senhora x. E o que a história socialista do século XX mostra é que o Estado não é capaz de substituir a senhora x para criar os 100. E a história das economias de mercado mostra que ao criar 100, a senhora x permite que muitos que ganhavam 10 possam ganhar 20 ou 30. Por fim, mesmo que a senhora x não tenha 100, isso não impede que a senhora y continue com os mesmos 10. O que é preciso dizer com toda a clareza é que as empresárias e os empresários portugueses fazem muito mais para combater a pobreza do que o PCP e o Bloco de Esquerda juntos.
Infelizmente, em Portugal há demasiados que acreditam na tese da conspiração. E, depois, fazem as inevitáveis associações entre a pobreza e a “bondade” e a riqueza e a “maldade”. Por definição, os ricos são “maus” (ou “desonestos”) e os pobres são “bons” (ou “puros” e “honestos”). Será que ninguém discute os temas em termos de trabalho ou preguiça, competência ou incompetência, mérito ou falta de mérito? A deturpação do debate acontece porque, no fundo, os portugueses sabem que não há igualdade de oportunidades na nossa sociedade, principalmente na educação e no mercado de trabalho. Nesse sentido, é verdade que os pobres são vítimas, mas não são vítimas dos ricos. São vítimas de um sistema económico e social que não dá as oportunidades suficientes que todos os cidadãos merecem e, por isso, necessita de ser reformado. As forças que mais lutam contra as reformas, e dizem “defender” os pobres são, em grande medida, as responsáveis pela pobreza que existe em Portugal. É desses que os pobres são vítimas.
Em suma, o debate em Portugal está torto. Os que mais defendem os pobres são aqueles que têm as piores ideias para combater a pobreza. Os que discordam das más ideias são incapazes de desenvolver um discurso alternativo para o problema da pobreza. Ocorre no debate nacional a pior das situações: os que estão errados são os mais convictos; e falta convicção aos que estão certos."
João Marques de Almeida
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