quarta-feira, agosto 06, 2008

ANÍBAL E O LOBO

"Perante a notícia de que o presidente da República teria interrompido as férias para uma "verdadeiramente importante" comunicação ao país, o país tremeu e especulou. Dissolução do parlamento? Demissão do presidente? A declaração de guerra a Espanha pela reconquista de Olivença? Uma desgraça insuspeita? Imagino que o povo, ou pelo menos a parte do povo que tem uma vaga noção destas matérias, passou o dia alvoroçado, e que antes das oito horas correu das praias para o televisor mais próximo, a fim de não perder uma palavra decisiva, uma entoação reveladora, uma daquelas frases que selam o destino colectivo, uma bomba.

Em vez da bomba, o prof. Cavaco saiu-se com uma arenga acerca da administração dos Açores, que talvez excite vinte juristas, quinze políticos e, não ponho as mãos no fogo, o ocasional açoriano. Imagino a estupefacção do povo. Já é estranho que o presidente interrompa as férias dele para isto; é ofensivo que para isto interrompa as dos outros. Equívocos assim não ajudam à credibilidade dos nossos dirigentes, aliás em queda constante. E em queda compreensível: se os dirigentes soltam fanfarras a requisitar a atenção da pátria para anunciar ninharias, não haverá quem os ouça quando de facto tiverem alguma coisa a dizer. Qualquer dia, o eng. Sócrates aparece a anunciar o primeiro computador portátil português e ninguém acredita
."

Alberto Gonçalves

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