sexta-feira, agosto 22, 2008

Olímpicos

"As bolsas olímpicas são migalhas. O desporto no nosso sistema educativo é absolutamente residual funciona como complemento horário.

Expectativas. Não vou falar de medalhas. Vou falar de expectativas. Daquelas que se criam antes dos grandes acontecimentos e que depois raramente se concretizam. Das expectativas que nos tornam enormes enquanto não competimos e que nos colocam perante as nossas reais insuficiências quando o fazemos.

Olhando os Jogos Olímpicos, quer na sua componente desportiva, e até organizativa, não será difícil chegar à conclusão sobre o distante que estamos dos níveis apresentados.

Exigência. Não é preciso invocar um inigualável Phelps nem a perfeição absoluta das ginastas chinesas para dizer que está aqui uma fasquia inatingível. Não, não é preciso ir tão longe. Basta olharmos para a média da competição para verificarmos como são elevadíssimos os níveis de exigência e como é extremo o grau de competitividade. Quanto aos níveis de exigência, os mesmos prendem-se com condições de treino que não temos, nem tão cedo viremos a ter. Condições de treino que vão das infra-estruturas físicas, à própria organização das diversas federações e que passam, com cada vez mais importância, por um trabalho técnico-psicológico de competentíssimo recorte. Isto, já para não falar na base de tudo e que se prende com o apoio, ou falta dele, do Estado à prática desportiva. As bolsas olímpicas são migalhas. E o desporto no nosso sistema educativo é absolutamente residual. Funciona como um mero complemento horário. E enquanto assim for... ficamos pelas expectativas!

Competitividade. Quanto ao grau de competitividade, olhemos apenas para as marcas conseguidas e em especial para a sistemática obtenção de novos recordes do mundo. Isto diz bem do que é feito o espírito olímpico. Por vezes há a tendência de o tomar pelo convívio entre povos e por uma certa ideia de comunhão de valores e de princípios em que o desporto funciona como pólo aglutinador. Nada disso. O espírito olímpico está na competição e na procura do melhor resultado. Está no esforço pela vitória. O resto ou são interpretações de sentido romântico-oportunista ou são argumentos que funcionam bem para aqueles cuja única ambição consiste em participar.

Excepções. O nosso envolvimento em grandes competições demonstra-nos duas coisas: primeiro, estamos a anos-luz de chegar ao nível competitivo que se exige para responder ao grau de expectativa que inadequadamente colocamos sobre as nossas participações; segundo, os nossos atletas que, com todas as dificuldades conhecidas, mesmo assim conseguem elevar-se ao patamar dos melhores, ora competindo por uma medalha, ora disputando os primeiros lugares da classificação geral, são a excepção que confirma a regra. E, por isso, são extraordinários
."

Rita Marques Guedes

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