Revisitar o “caso Maddie”
"Foram os Governos português e inglês que decidiram sabotar a investigação e “safar” os pais?
Agora que o caso Maddie foi arquivado pelo Ministério Público por falta de provas; agora que o processo foi aberto a consulta pública; e agora que o inspector da PJ coordenador da investigação, Gonçalo Amaral, já publicou um livro sobre o tema, torna-se possível listar as minhas conclusões sobre o caso. Aqui vão:
1 - Ao contrário do que foi sugerido pela imprensa britânica, que o apresentou como um desleixado polícia que passava a vida em longos almoços, bem regados a vinho, e com pouca capacidade de investigação, a impressão com que fiquei de Gonçalo Amaral, tanto pelas entrevistas televisivas como pela leitura do livro, é de que ele coordenou uma investigação competente, que cumpriu as regras, que não foi parcial nem tendenciosa, e que tudo fez para deslindar o caso.
2 - Todas as evidências recolhidas pela PJ apontavam, logo desde os primeiros dias, para a morte da menina no apartamento e para a consequente ocultação do cadáver, provavelmente pelos pais.
3 - Os indícios que foram sido recolhidos, seja vindos de testemunhas, seja mais tarde pelos testes de ADN apontavam também nesse sentido.
4 - O comportamento dos amigos dos pais da menina é muito estranho. Há depoimentos contraditórios que parecem ter sido “construídos” para conduzir a PJ no sentido da tese do rapto. Por outro lado, o facto de todos os amigos dos pais terem abandonado Portugal à pressa é extremamente perturbador.
5 - A forma como os pais da menina se comportam, falando no próprio dia para a Sky News e transformando o caso num acontecimento mediático, obviamente forçando a tese do rapto, é extremamente surpreendente. Não me parece normal que um pai e uma mãe, confrontados com o desaparecimento de uma filha, tenham como primeira e única prioridade transformar o caso num acontecimento mediático mundial.
6 - A imprensa inglesa desde a primeira hora aceitou, acriticamente, a tese do rapto que lhe foi comunicada pelos pais. Como um rebanho sem cérebro, caíram sobre a Praia da Luz fazendo uma enorme pressão sobre a PJ, dando a entender que Portugal era um país do terceiro mundo, e complicando a investigação. Recorde-se que foi uma jornalista inglesa que “inventou” as suspeitas sobre Robert Murat, obrigando assim a PJ a investigá-lo e a perder tempo com uma situação que era lateral, mas que serviu os propósitos dos pais.
7 – O facto de o pai da menina ser amigo pessoal do primeiro-ministro Gordon Brown levou a que o Governo inglês tenha posto à disposição dos pais especialistas em media que construíram e forçaram a tese do rapto. Foi uma operação altamente profissionalizada, com recurso a técnicas sofisticadas de marketing, na imprensa e na Net, com encontros com personalidades internacionais, que culminou com a visita ao Papa no Vaticano.
8 - Esta campanha notável e pública campanha foi acompanhada por uma pressão política nos bastidores, tendo o Governo inglês pressionado o Governo português, no sentido da tese do rapto.
9 - Durante vários meses, foi evidente que a PJ tinha perdido a batalha da opinião pública e que não estava preparada para lidar com uma pressão mediática e política destas dimensões. Do ponto de vista da comunicação pública, o caso foi muito mal gerido pela PJ e pelo Ministério Público.
10 - Apesar destas tremendas pressões políticas e mediáticas, a investigação no terreno prosseguia e estava a aproximar-se de conclusões importantes, que apontavam claramente para a culpa dos pais, pelo menos no crime de ocultação de cadáver.
Todas estas conclusões levam-me a formular duas perguntas: porque foram a direcção da PJ da época e o MP incapazes de ter a coragem de acusar os pais, como a investigação sugeria? Foram os Governos português e inglês que decidiram sabotar a investigação e “safar” os pais?
Um dia a verdade virá ao de cima, mas para mim, e mesmo não havendo provas cem por cento blindadas, um caso destes nunca devia ter sido arquivado e aqueles pais deviam estar a ser julgados nos tribunais."
Domingos Amaral
Agora que o caso Maddie foi arquivado pelo Ministério Público por falta de provas; agora que o processo foi aberto a consulta pública; e agora que o inspector da PJ coordenador da investigação, Gonçalo Amaral, já publicou um livro sobre o tema, torna-se possível listar as minhas conclusões sobre o caso. Aqui vão:
1 - Ao contrário do que foi sugerido pela imprensa britânica, que o apresentou como um desleixado polícia que passava a vida em longos almoços, bem regados a vinho, e com pouca capacidade de investigação, a impressão com que fiquei de Gonçalo Amaral, tanto pelas entrevistas televisivas como pela leitura do livro, é de que ele coordenou uma investigação competente, que cumpriu as regras, que não foi parcial nem tendenciosa, e que tudo fez para deslindar o caso.
2 - Todas as evidências recolhidas pela PJ apontavam, logo desde os primeiros dias, para a morte da menina no apartamento e para a consequente ocultação do cadáver, provavelmente pelos pais.
3 - Os indícios que foram sido recolhidos, seja vindos de testemunhas, seja mais tarde pelos testes de ADN apontavam também nesse sentido.
4 - O comportamento dos amigos dos pais da menina é muito estranho. Há depoimentos contraditórios que parecem ter sido “construídos” para conduzir a PJ no sentido da tese do rapto. Por outro lado, o facto de todos os amigos dos pais terem abandonado Portugal à pressa é extremamente perturbador.
5 - A forma como os pais da menina se comportam, falando no próprio dia para a Sky News e transformando o caso num acontecimento mediático, obviamente forçando a tese do rapto, é extremamente surpreendente. Não me parece normal que um pai e uma mãe, confrontados com o desaparecimento de uma filha, tenham como primeira e única prioridade transformar o caso num acontecimento mediático mundial.
6 - A imprensa inglesa desde a primeira hora aceitou, acriticamente, a tese do rapto que lhe foi comunicada pelos pais. Como um rebanho sem cérebro, caíram sobre a Praia da Luz fazendo uma enorme pressão sobre a PJ, dando a entender que Portugal era um país do terceiro mundo, e complicando a investigação. Recorde-se que foi uma jornalista inglesa que “inventou” as suspeitas sobre Robert Murat, obrigando assim a PJ a investigá-lo e a perder tempo com uma situação que era lateral, mas que serviu os propósitos dos pais.
7 – O facto de o pai da menina ser amigo pessoal do primeiro-ministro Gordon Brown levou a que o Governo inglês tenha posto à disposição dos pais especialistas em media que construíram e forçaram a tese do rapto. Foi uma operação altamente profissionalizada, com recurso a técnicas sofisticadas de marketing, na imprensa e na Net, com encontros com personalidades internacionais, que culminou com a visita ao Papa no Vaticano.
8 - Esta campanha notável e pública campanha foi acompanhada por uma pressão política nos bastidores, tendo o Governo inglês pressionado o Governo português, no sentido da tese do rapto.
9 - Durante vários meses, foi evidente que a PJ tinha perdido a batalha da opinião pública e que não estava preparada para lidar com uma pressão mediática e política destas dimensões. Do ponto de vista da comunicação pública, o caso foi muito mal gerido pela PJ e pelo Ministério Público.
10 - Apesar destas tremendas pressões políticas e mediáticas, a investigação no terreno prosseguia e estava a aproximar-se de conclusões importantes, que apontavam claramente para a culpa dos pais, pelo menos no crime de ocultação de cadáver.
Todas estas conclusões levam-me a formular duas perguntas: porque foram a direcção da PJ da época e o MP incapazes de ter a coragem de acusar os pais, como a investigação sugeria? Foram os Governos português e inglês que decidiram sabotar a investigação e “safar” os pais?
Um dia a verdade virá ao de cima, mas para mim, e mesmo não havendo provas cem por cento blindadas, um caso destes nunca devia ter sido arquivado e aqueles pais deviam estar a ser julgados nos tribunais."
Domingos Amaral

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