A RODA DA FORTUNA
"Na ingenuidade da juventude, eu sonhava com o dia em que um milionário sensato se aproximasse de mim e dissesse: "Boa tarde, simpatizei consigo, tenho uma doença terminal e dois bandalhos como filhos. Eis o número do meu advogado. Deixo-lhe a minha fortuna."
Sonhar é idiota. Agora que caminho para a sabedoria da meia-idade, coisas assim sucedem-me diariamente, desde a esposa do governante do Togo que quer partilhar comigo as poupanças do falecido marido ao filho do ex-ministro iraquiano da Defesa que me prometeu vinte por cento de uma desmesurada quantia a depositar na minha conta. Ainda hoje, o sr. Hashad Sallah, de Oman, enviou-me um "e-mail": "Vou ser operado. Estou com medo. Aceite 12,5 milhões de dólares para obras de caridade. Contacte o meu representante. Reze por mim."
Ignorei a oferta do sr. Sallah porque não sei rezar e porque a caridade não é o meu forte. Ignoro, aliás, cada proposta do género, na medida em que todas são variantes do "Nigerian scam", a trafulhice da Nigéria, uma fraude nascida nesse país e difundida com o advento da Internet. O lado aborrecido é que a fraude engana inúmeras pessoas há anos. O lado risonho, além da demonstração de que o pobre continente africano também possui nichos de criatividade empresarial, é que a fraude só engana gente remota e desconhecida (dos vigaristas).
Nisso, é o exacto oposto do "jogo da roda", actualmente a fazer furor por cá. A "roda" é a designação actual do velhinho esquema da pirâmide: o líder entra com uma determinada soma e convence dois incautos a fazerem o mesmo. E por aí fora, até se envolverem quinze pessoas no assunto (oito no nível mais baixo) e o líder "saltar" com o investimento octuplicado. A galhofa acontece quando o líder não "salta", ou quando "salta" e os "imediatos" ficam. Ou quando... Não importa. Importa que, como dizia a cantiga, há sempre alguém que diz não. Logo, na "roda" há sempre alguém que fica suspenso à espera dos "seus" incautos. Dada a aparente confiança que o jogo implica, os incautos são colhidos entre parentes, colegas ou amigos, o que, além da bancarrota, acrescenta à "roda" uma curiosa componente de desavença familiar e levanta a questão: quem prefere estes trabalhos a trabalhar de facto?
Não sei. Sei que um amigo me convidou a multiplicar dez mil euros e que anda por aí uma ligeira polémica pela cedência das instalações do hospital Magalhães Lemos, no Porto, a uma sessão da "roda". Escusado dizer que recusei o convite do meu amigo e que o Magalhães Lemos é um hospital psiquiátrico. "
Sonhar é idiota. Agora que caminho para a sabedoria da meia-idade, coisas assim sucedem-me diariamente, desde a esposa do governante do Togo que quer partilhar comigo as poupanças do falecido marido ao filho do ex-ministro iraquiano da Defesa que me prometeu vinte por cento de uma desmesurada quantia a depositar na minha conta. Ainda hoje, o sr. Hashad Sallah, de Oman, enviou-me um "e-mail": "Vou ser operado. Estou com medo. Aceite 12,5 milhões de dólares para obras de caridade. Contacte o meu representante. Reze por mim."
Ignorei a oferta do sr. Sallah porque não sei rezar e porque a caridade não é o meu forte. Ignoro, aliás, cada proposta do género, na medida em que todas são variantes do "Nigerian scam", a trafulhice da Nigéria, uma fraude nascida nesse país e difundida com o advento da Internet. O lado aborrecido é que a fraude engana inúmeras pessoas há anos. O lado risonho, além da demonstração de que o pobre continente africano também possui nichos de criatividade empresarial, é que a fraude só engana gente remota e desconhecida (dos vigaristas).
Nisso, é o exacto oposto do "jogo da roda", actualmente a fazer furor por cá. A "roda" é a designação actual do velhinho esquema da pirâmide: o líder entra com uma determinada soma e convence dois incautos a fazerem o mesmo. E por aí fora, até se envolverem quinze pessoas no assunto (oito no nível mais baixo) e o líder "saltar" com o investimento octuplicado. A galhofa acontece quando o líder não "salta", ou quando "salta" e os "imediatos" ficam. Ou quando... Não importa. Importa que, como dizia a cantiga, há sempre alguém que diz não. Logo, na "roda" há sempre alguém que fica suspenso à espera dos "seus" incautos. Dada a aparente confiança que o jogo implica, os incautos são colhidos entre parentes, colegas ou amigos, o que, além da bancarrota, acrescenta à "roda" uma curiosa componente de desavença familiar e levanta a questão: quem prefere estes trabalhos a trabalhar de facto?
Não sei. Sei que um amigo me convidou a multiplicar dez mil euros e que anda por aí uma ligeira polémica pela cedência das instalações do hospital Magalhães Lemos, no Porto, a uma sessão da "roda". Escusado dizer que recusei o convite do meu amigo e que o Magalhães Lemos é um hospital psiquiátrico. "
Alberto Gonçalves
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