domingo, setembro 07, 2008

A Europa assim conhecida tente limpar a porcaria do par Bush/Cheney

Aqui vai um excelente artigo contra a corrente que nos impingem os Murdochs do planeta.
Com as eleições presidenciais à porta, os discursos políticos e as recriminações entre os EUA, a NATO e a Rússia endurecem de tom, enquanto se sucedem as tentativas da União Europeia para salvar a face no âmbito do dossiê Cáucaso.
À medida que as semanas passam, começam a ser evidentes a manipulação e os golpes sujos da administração Bush/Cheney, designadamente na Geórgia.
O insuspeito Financial Times (FT) publicou hoje uma notícia revelando que “militares dos EUA treinaram 80 comandos georgianos escassos meses antes do assalto militar da Geórgia na Ossétia do Sul, em Agosto.”
O jornal britânico diz ter tido acesso a “documentos e entrevistas” cujo conteúdo pode legitimar as acusações do primeiro-ministro russo Vladimir Putin, de que a guerra naquele enclave foi “orquestrada” pelos EUA.
Numa entrevista à CNN, transmitida no dia 29 de Agosto, Putin disse: “Os americanos não apenas se demitiram de impedir a liderança georgiana deste criminoso acto [intervenção na Ossétia do Sul], como treinaram e armaram o exército da Geórgia.”
O FT informa que o Pentágono pagou 1 400 euros/semana às empresas americanas MPRI e American Systems pelos treinos executados por cada um dos 15 antigos soldados do exército regular americano escolhidos para a tarefa.
O diário britânico critica a “falta de transparência” do programa militar, arredado das páginas da Internet, em contraste com outros ainda em curso na ex-república soviética, patrocinados pelo Pentágono e pela NATO.
Por seu turno, o semanário alemão “Der Spiegel” entrevistou os diplomatas russos Juri Popov und Grigori Karasin, envolvidos nas negociações directas com Tbilisi antes do ataque georgiano à Ossétia do Sul. Ambos se queixam de ter sido enganados pelos seus interlocutores georgianos nos dias e horas que antecederam o ataque do protegido americano.
Num dos artigos, pode ler-se: “Vários ministérios em Berlim começaram a duvidar da credibilidade do amigo ocidental mais problemático. Saakashvili, contrariamente à sua versão dos acontecimentos, aparentemente terá ordenado o ataque à Ossétia do Sul antes da entrada na província pelos blindados russos, vindos do norte, através do túnel Roki.”
Importa recordar que um dos mais chegados colaboradores de Dick Cheney, Joseph R. Wood, esteve em Tbilisi, poucos dias antes da aventura saakashviliana. Observadores militares da OSCE/Organização para a Segurança e Cooperação na Europa que se encontravam na Geórgia, na altura, confirmam estas informações.
“Saakashvili mentiu-nos a todos, europeus e americanos, a 100%”, afirmou um deles citado pelo semanário alemão. Segundo relatórios da OSCE, as tropas georgianas atacaram populações civis pela calada da noite, enquanto dormiam. “Isto pode ser equivalente a um crime de guerra”, sublinha o “Spiegel”.
O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que preside a uma das empresas de gás natural do grupo russo Gazprom, num discurso em Berlim, esta semana, disse que o Ocidente cometeu “erros graves” - o escudo antimíssil na Polónia, a independência do Kosovo e o alargamento da NATO - e zurziu na inabilidade dos seus ex-pares.
Dias depois da eclosão da crise no Cáucaso, numa entrevista ao “Spiegel”, Schröeder afirmara: “Não há uma única situação crítica na política e economia mundiais que possa ser resolvida sem a Rússia - o conflito nuclear com o Irão, a questão da Coreia do Norte e certamente a questão da paz no Médio Oriente.
O conjunto de problemas relacionados com o clima só podem ser resolvidos a nível planetário.
Curiosamente, após a Rússia ter ratificado o protocolo de Kyoto para combate ao aquecimento global, ainda continuamos à espera que Washington faça o mesmo.
Na questão energética, só um ingénuo acredita que a Europa Ocidental poderá ser independente do petróleo e do gás natural russos.
Por outro lado, os russos precisam que compradores fiáveis para os seus produtos energéticos.” Um mês após a invasão georgiana, o ex-chanceler deixou uma aviso sibilino: “Ao reconhecer o Kosovo, o Ocidente abriu um precedente para a eclosão de novos conflitos pelo mundo fora.”
Hoje, em Avignon, os 27 estados membros da União Europeia (UE) anunciaram que apoiam a sugestão alemã para a criação de uma comissão internacional encarregada de investigar a origem do conflito na Geórgia, após a reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE. Em Moscovo, o Presidente Dmitri Medvedev, acusou os Estados Unidos de “armar o regime georgiano sob a bandeira da ajuda humanitária”, durante a reunião do Conselho de Estado da Rússia.
Irritado com a presença de navios da NATO no Mar Negro, mas sem revelar nomes, o dirigente russo perguntou: “Como é que se sentiriam se a Rússia enviasse ajuda humanitária em navios de guerra para a bacía das Caraíbas, lugar atingido recentemente por um furacão?”.
Por seu turno, também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia declarou esperar que outros países sigam o exemplo da Nicarágua e reconheçam as independências da Ossétia do Sul e da Abkházia. “A Nicarágua foi o primeiro país da América Latina a apoiar poderosamente os povos dessas duas regiões. Queremos que, seguindo este exemplo, outros países considerem possível reconhecer esta realidade”, sublinhou o ministério num comunicado.
Ontem Medvedev garantira que os líderes de seis nações do antigo bloco soviético são solidários com a actuação de Moscovo no conflito georgiano. Numa entrevista à cadeia de televisão italiana RAI, Medvedev foi cáustico ao classificar o seu homólogo georgiano, Mikhail Saakashvili, como “um cadáver político”, dizendo que não o reconhece como presidente. “O presidente Saakashvili não existe mais aos nossos olhos. Ele é um cadáver político”, afirmou.
Neste clima, a ideia alemã de uma investigação internacional, apoiada pela Espanha, Grã-Bretanha e França, surge como uma desesperada tentativa para apaziguar os exaltados ânimos do Kremlin.
“Sou totalmente a favor de uma investigação internacional. É preciso saber o que aconteceu”, disse Bernard Kouchner, ministro francês dos Negócios Estrangeiros. Kouchner sublinhou a necessidade de ser conhecido o número de mortos, “quem começou o conflito, com que tipo de provocação, em que momento e quais preparativos foram feitos de uma parte e de outra”.
Os países da UE acham que a investigação deve ser realizada pela Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), já que é integrada tanto por países do bloco europeu quanto pela Rússia e pela Geórgia.
O bloco quer iniciar “o mais rápidamente possível” a missão civil na Geórgia, composta por uma a duas centenas de observadores, para evitar que haja mais violência na zona.
Os alemães são os mais interessados na distensão do clima, mas continuam a ser torpedeados pelos pirómanos geopolíticos, Bush e Cheney.
O presidente dos EUA, segundo o “Spiegel”, planeia denunciar o acordo civil nuclear com a Rússia como forma de penalizar o Kremlin pelos acontecimentos na Geórgia. A iniciativa terá apenas um significado simbólico mas ajuda a envenenar ainda mais o já precário clima diplomático.
O vice-presidente Cheney, actualmente num longo périplo europeu, escolheu o dia certo - a véspera da visita de Sarkozy a Moscovo - para, em Cernobbio, na Itália, dizer o seguinte: “As forças russas atravessaram uma fronteira internacionalmente reconhecida para entrar num Estado soberano. Alimentaram e fomentaram um conflito interno, levando a cabo actos de guerra sem consideração pela vida humana, matando civis e provocando o êxodo de milhares de pessoas. (…) No espaço de 30 dias, a Rússia violou a soberania da democracia, assinou e depois rompeu um acordo numa afronta directa à União Europeia. A Rússia feriu seriamente a sua credibilidade e está a minar as suas relações com os Estados Unidos e com outros países.”
Os europeus em geral, e os alemães em particular, pouco podem fazer contra esta retórica eleiçoeira, para consumo doméstico, a menos de uma semana do sétimo aniversário do 11 de Setembro e a dois meses das presidenciais.
Em Berlim, a única esperança é que os russos arrepiem algum caminho com receio da crise financeira que está a corroer o valor do rublo. Os investidores estrangeiros reagiram à “Guerra dos Três Dias” com fugas maciças de divisas do mercado russo de capitais obrigando a uma intervenção de emergência do banco central. O Financial Times estimou que, nos últimos 30 dias, cerca de 21 mil milhões/bilhões de dólares foram retirados da Rússia. A paridade do rublo face ao dólar entrou em roda livre. Em apenas um dia a divisa russa desvalorizou-se 2%. Na semana que terminou ontem, a bolsa de Moscovo sofreu perdas próximas dos 10%. No entanto, os analistas mais cépticos acham que até 4 de Novembro, dia das presidenciais na América, o lema vai ser “Somos todos georgianos”, como tem afirmado repetidamente o candidato republicano John McCain.
Pedro Varanda de Castro
MRA Dep. Data Mining, Consultor

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