A arrogância sueca e o facto de um PM da UE ter de sair da sala de reuniões
A crise do sistema financeiro na Europa, a avaliar pela reacção dos países fora da Zona Euro, relançou o debate entre eurofãs e eurocépticos sobre o papel da moeda única como divisa capaz de contrariar dinâmicas negativas.
O primeiro-ministro sueco Frederik Reinfeldt, citado pela Associated Press, afirmou que quando “as coisas se tornam menos seguras é melhor estar ligado a uma grande moeda como o euro.”
O chefe do governo da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, voltou a defender o referendo sobre o euro, antes de 2011, sublinhando que a presente crise evidenciou as desvantagens políticas de estar fora do sistema monetário dos 15.
“Eu preferia que a Dinamarca estivesse presente nas reuniões onde foram tomadas decisões que nos afectam. Isto significa perder influência política”, afirmou.
No entanto, na sociedade civil, são ainda fortes as vozes contra a moeda única.
“Eu acho que o euro vai rebentar e quanto mais depressa melhor”, disse o economista sueco Rolf Englund, um dos animadores da campanha contra a divisa europeia, em 2003, na Suécia.
Na Islândia as opiniões dividem o governo apesar do colapso da moeda nacional - krona.
O primeiro-ministro islandês Geir Haarde considerou “perfeitamente ridículo” pensar que a adesão da ilha à União Europeia e ao euro teriam evitado a crise financeira na Islândia.
Em sentido contrário, manifestou-se a ministra islandesa dos Negócios Estrangeiros, Ingibjorg Solrun Gisladottir que, paralelamente aos empréstimos do Fundo Monetário Internacional, defendeu que o país deve encetar “um novo começo” e aderir à UE e ao euro.
O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, sugeriu que a Grã-Bretanha reconsidere a sua histórica oposição à moeda única após a inusitada participação do governo britânico na recente reunião dos países da Eurolândia, em Paris.
“O primeiro-ministro britânico teve que procurar desesperadamente a entrada na reunião do Euro Grupo [para] logo após o discurso ter de sair novamente da sala”, disse Juncker ao jornal alemão Rheinischer Merkur.
“A prazo, isto terá um impacto profundo na Grã-Bretanha pois morta que é mais vantajoso ter lugar na sala do que poder bater à porta”, concluiu o chefe do governo luxemburguês. Orgulhosamente afastada do debate tem estado a Noruega protegida pelos pára-choques das receitas petrolíferas - um fundo soberano com investimentos de USD 308 mil milhões/bilhões e um excedente orçamental de 40%.
Os noruegueses só serão forçados a reconsiderar a adesão à UE e ao euro se os seus primos escandinavos o fizerem.
São todos primos em arrogância e até nas bandeiras.
A Noruega agora fala grosso porque afinal tem petróleo.
Pode vir a acontecer o mesmo nos países do sul.
Mas o importante é saber o que se pretende da UE e se mais tarde ou mais cedo não terão que se virar para a formação de forças militares conjuntas com saída da Nato, que não tem razão de ser há muitos anos.
7 Comments:
É verdade, Senhor Doutor. Ao fim e ao cabo os heróis de facto, nunca se importaram de confessar terem medo. Aliás o sentimento do pessimismo sente-se face à previsão. Já a confiança provém da constatação. Compreendo a análise, contudo eu começaria o artigo assim: - Uma onda de falta de confiança envolve a sociedade portuguesa... E terminaria assim:- Quando estiver deprimido não vote como fez da última vez....
Disparate é olhar para as estatísticas das consequências (PIB, desemprego) e não das causas. Olhe para os rácios de capital (capital/activos) mínimos do sector bancário americano(1840 -50%, 1863-10%, 1940-6%, 1988 -8%). Agora compare-os com os actuais valores das instituições bancárias depois destas terem sido forçadas pelo colapso do mercado de securitização a transferir activos para o balanço: Lehman Brothers 3 meses antes de declarar falência 3%, Merrill Lynch 3 meses antes the aceitar serem comprados 5%. A alavancagem real dos Bancos ainda não é clara e por isso a desconfiança e o risco de crédito serem tão elevados. Mas agora vem o colapso do prime brokerage, fundos de pensões, e das instituições governamentais atingidas pelas quebras nas bases tributárias ( Islândia, Sérbia, Ucrânia, Califórnia, Flórida, Jefferson County, Vallejo,...). Acho que já estamos fartos de discursos de confiança e optimismo em vez de realismo e preparação para o pior!
Mas Sr. Doutor, nós portugueses somos bons pagadores... olhe por exemplo, a ponte feita pelo Dr. Salazar. Já estava paga no tempo do fascismo, mas, 34 anos depois, ainda continuamos a pagá-la!Isto é, a de 25 de Abril é que, parece, ainda estamos a dever.Este eleitorado é como Mario Soares: É fixe.
Gostava que um dia alguem me explicasse, porque, neste carrossel, as bolsas europeias variam em percentagens semelhantes.Parece que há um poder internacional que consegue que os politicos digam banalidades e decidam disparates,ampliados por medias ignorantes.Já ninguem sabe o que é um "mercado"?
Ainda não li um artigo que transmitisse uma visão global e correcta sobre esta crise. Tenho a sensação de que anda toda a gente a aprender. As medidas tomadas pelos dirigentes da zona Euro estão correctas e alcançaram os objectivos: fazer com que o sistema bancario ganhasse confiança e voltasse gradualmente a funcionar. A prova é a descida lenta mas segura da Euribor. Tiveram pouco efeito nas bolsas, é verdade, mas eu não esperava que tivessem. Aqui o problema é outro: os imensos fundos financeiros (uns mais correctos, outros mais hedge) que andam para aí, quais predadores dos tempos do jurássico, a comprar e a vender nas bolsas de todo o mundo, mercados de energia, etc. Vão ver que amanhã as cotações voltam a ter subidas acentuadas. É necessario regular de novo o sistema a nivel mundia. Novo Bretton Woods. A ideia das "injecções de dinheiro nos bancos" que ressalta do artigo é exagerada. Portugal e Espanha ainda não injectaram um Euro. As "injecções" do BCE, tão badaladas pelos media, são emprestimos normais a muito curto prazo e não são somáveis. Tambem se pode dizer: nunca antes os bancos entregaram tanto dinheiro ao BCE como hoje. O grande problema ainda parece ser a falta de confiança das pessoas.
Tenho de repetir que o livre mercado é uma entidade que se revê numa personalidade perfeita. Repito que se reveste da sabedoria de todos os povos e como tal é velhíssimo, de longas barbas, crescidas no amadurecimento da inteligência, da sensatez e da oportunidade. Tem de todo a ver com a liberdade consensual. Tem a ver com a compensação e distribuição que exige regras que foram grosseiramente violadas e que se traduziram em imperfeições, abusos e ganância rejeitadas por sua vez, pelas estruturas que o seu correcto funcionamento não permitem. Está a acontecer apenas que a máquina da rejeição está a funcionar e a emitir a facturação que debita sem piedade os culpados e os inocentes. Há sempre inocentes como há a visão de curto alcance. Como há a mediocridade tida e avaliada como um fenómeno de valor universal. Ou o engano histórico das colectividades e dos povos. Por ser comandado pelo ser humano e por ter chegado a este estado, o mercado não é sensível ao manobrar de um dia para o outro, das alavancas do seu comando. Os efeitos arrasadores têm de correr os seus percursos, as consequências têm de atingir a sua dimensão. De contrário o mercado não seria perfeito. Pelo contrário, seria antes uma homenagem à burrice. Atendam-no sem olhar tanto para o calendário. Ele está a pedir inovação, actualização e respeito.
Esquecer que os investidores asiáticos irão voltar: foram enganados pelos americanos na compra de tranches de securitizações, e depois no mercado accionista - tão depressa não pegaram em nada que seja americano. Mas para aqueles que ainda não enchergaram que foi Wall Street a atenuar o primeiro embate, vejam as repercussões do lado de onde tudo começou: municipalidades em verdadeira situação de falência ( Vallejo nem tem dinheiro para pagar aos bombeiros, e Jefferson County tem um sistema de esgotos que custa 8 vezes mais que os impostos que recebe), Estados a pedir participação nos fundos do congresso ( Califórnia). A juntar a isto há países em bancarrota(Islândia). O sub prime significa créditos originados com critérios abaixo de padrões mínimos necessários ao bom funcionamento do sistema financeiro, e aqui temos disso ás resmas ( créditos fáceis, créditos para viagens, créditos para carros que ninguém hoje compra, até o recheio fazia parte da avaliação para crédito imobilário). E ainda dizem que não temos activos tóxicos...Ao menos no mercado de construção, que é altamente concorrencial, os fiscais não apaceriam apenas para os almoços mas visitavam as obras e não deixavam que se poupasse no betão, senão era só prédios a caír.
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