domingo, outubro 19, 2008

A arrogância sueca e o facto de um PM da UE ter de sair da sala de reuniões

A crise do sistema financeiro na Europa, a avaliar pela reacção dos países fora da Zona Euro, relançou o debate entre eurofãs e eurocépticos sobre o papel da moeda única como divisa capaz de contrariar dinâmicas negativas.
O primeiro-ministro sueco Frederik Reinfeldt, citado pela Associated Press, afirmou que quando “as coisas se tornam menos seguras é melhor estar ligado a uma grande moeda como o euro.”
O chefe do governo da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, voltou a defender o referendo sobre o euro, antes de 2011, sublinhando que a presente crise evidenciou as desvantagens políticas de estar fora do sistema monetário dos 15.
“Eu preferia que a Dinamarca estivesse presente nas reuniões onde foram tomadas decisões que nos afectam. Isto significa perder influência política”, afirmou.
No entanto, na sociedade civil, são ainda fortes as vozes contra a moeda única.
“Eu acho que o euro vai rebentar e quanto mais depressa melhor”, disse o economista sueco Rolf Englund, um dos animadores da campanha contra a divisa europeia, em 2003, na Suécia.
Na Islândia as opiniões dividem o governo apesar do colapso da moeda nacional - krona.
O primeiro-ministro islandês Geir Haarde considerou “perfeitamente ridículo” pensar que a adesão da ilha à União Europeia e ao euro teriam evitado a crise financeira na Islândia.
Em sentido contrário, manifestou-se a ministra islandesa dos Negócios Estrangeiros, Ingibjorg Solrun Gisladottir que, paralelamente aos empréstimos do Fundo Monetário Internacional, defendeu que o país deve encetar “um novo começo” e aderir à UE e ao euro.
O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, sugeriu que a Grã-Bretanha reconsidere a sua histórica oposição à moeda única após a inusitada participação do governo britânico na recente reunião dos países da Eurolândia, em Paris.
“O primeiro-ministro britânico teve que procurar desesperadamente a entrada na reunião do Euro Grupo [para] logo após o discurso ter de sair novamente da sala”, disse Juncker ao jornal alemão Rheinischer Merkur.
“A prazo, isto terá um impacto profundo na Grã-Bretanha pois morta que é mais vantajoso ter lugar na sala do que poder bater à porta”, concluiu o chefe do governo luxemburguês. Orgulhosamente afastada do debate tem estado a Noruega protegida pelos pára-choques das receitas petrolíferas - um fundo soberano com investimentos de USD 308 mil milhões/bilhões e um excedente orçamental de 40%.
Os noruegueses só serão forçados a reconsiderar a adesão à UE e ao euro se os seus primos escandinavos o fizerem.
São todos primos em arrogância e até nas bandeiras.
A Noruega agora fala grosso porque afinal tem petróleo.
Pode vir a acontecer o mesmo nos países do sul.
Mas o importante é saber o que se pretende da UE e se mais tarde ou mais cedo não terão que se virar para a formação de forças militares conjuntas com saída da Nato, que não tem razão de ser há muitos anos.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É verdade, Senhor Doutor. Ao fim e ao cabo os heróis de facto, nunca se importaram de confessar terem medo. Aliás o sentimento do pessimismo sente-se face à previsão. Já a confiança provém da constatação. Compreendo a análise, contudo eu começaria o artigo assim: - Uma onda de falta de confiança envolve a sociedade portuguesa... E terminaria assim:- Quando estiver deprimido não vote como fez da última vez....

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Disparate é olhar para as estatísticas das consequências (PIB, desemprego) e não das causas. Olhe para os rácios de capital (capital/activos) mínimos do sector bancário americano(1840 -50%, 1863-10%, 1940-6%, 1988 -8%). Agora compare-os com os actuais valores das instituições bancárias depois destas terem sido forçadas pelo colapso do mercado de securitização a transferir activos para o balanço: Lehman Brothers 3 meses antes de declarar falência 3%, Merrill Lynch 3 meses antes the aceitar serem comprados 5%. A alavancagem real dos Bancos ainda não é clara e por isso a desconfiança e o risco de crédito serem tão elevados. Mas agora vem o colapso do prime brokerage, fundos de pensões, e das instituições governamentais atingidas pelas quebras nas bases tributárias ( Islândia, Sérbia, Ucrânia, Califórnia, Flórida, Jefferson County, Vallejo,...). Acho que já estamos fartos de discursos de confiança e optimismo em vez de realismo e preparação para o pior!

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Mas Sr. Doutor, nós portugueses somos bons pagadores... olhe por exemplo, a ponte feita pelo Dr. Salazar. Já estava paga no tempo do fascismo, mas, 34 anos depois, ainda continuamos a pagá-la!Isto é, a de 25 de Abril é que, parece, ainda estamos a dever.Este eleitorado é como Mario Soares: É fixe.

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Gostava que um dia alguem me explicasse, porque, neste carrossel, as bolsas europeias variam em percentagens semelhantes.Parece que há um poder internacional que consegue que os politicos digam banalidades e decidam disparates,ampliados por medias ignorantes.Já ninguem sabe o que é um "mercado"?

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Ainda não li um artigo que transmitisse uma visão global e correcta sobre esta crise. Tenho a sensação de que anda toda a gente a aprender. As medidas tomadas pelos dirigentes da zona Euro estão correctas e alcançaram os objectivos: fazer com que o sistema bancario ganhasse confiança e voltasse gradualmente a funcionar. A prova é a descida lenta mas segura da Euribor. Tiveram pouco efeito nas bolsas, é verdade, mas eu não esperava que tivessem. Aqui o problema é outro: os imensos fundos financeiros (uns mais correctos, outros mais hedge) que andam para aí, quais predadores dos tempos do jurássico, a comprar e a vender nas bolsas de todo o mundo, mercados de energia, etc. Vão ver que amanhã as cotações voltam a ter subidas acentuadas. É necessario regular de novo o sistema a nivel mundia. Novo Bretton Woods. A ideia das "injecções de dinheiro nos bancos" que ressalta do artigo é exagerada. Portugal e Espanha ainda não injectaram um Euro. As "injecções" do BCE, tão badaladas pelos media, são emprestimos normais a muito curto prazo e não são somáveis. Tambem se pode dizer: nunca antes os bancos entregaram tanto dinheiro ao BCE como hoje. O grande problema ainda parece ser a falta de confiança das pessoas.

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Tenho de repetir que o livre mercado é uma entidade que se revê numa personalidade perfeita. Repito que se reveste da sabedoria de todos os povos e como tal é velhíssimo, de longas barbas, crescidas no amadurecimento da inteligência, da sensatez e da oportunidade. Tem de todo a ver com a liberdade consensual. Tem a ver com a compensação e distribuição que exige regras que foram grosseiramente violadas e que se traduziram em imperfeições, abusos e ganância rejeitadas por sua vez, pelas estruturas que o seu correcto funcionamento não permitem. Está a acontecer apenas que a máquina da rejeição está a funcionar e a emitir a facturação que debita sem piedade os culpados e os inocentes. Há sempre inocentes como há a visão de curto alcance. Como há a mediocridade tida e avaliada como um fenómeno de valor universal. Ou o engano histórico das colectividades e dos povos. Por ser comandado pelo ser humano e por ter chegado a este estado, o mercado não é sensível ao manobrar de um dia para o outro, das alavancas do seu comando. Os efeitos arrasadores têm de correr os seus percursos, as consequências têm de atingir a sua dimensão. De contrário o mercado não seria perfeito. Pelo contrário, seria antes uma homenagem à burrice. Atendam-no sem olhar tanto para o calendário. Ele está a pedir inovação, actualização e respeito.

domingo, outubro 19, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Esquecer que os investidores asiáticos irão voltar: foram enganados pelos americanos na compra de tranches de securitizações, e depois no mercado accionista - tão depressa não pegaram em nada que seja americano. Mas para aqueles que ainda não enchergaram que foi Wall Street a atenuar o primeiro embate, vejam as repercussões do lado de onde tudo começou: municipalidades em verdadeira situação de falência ( Vallejo nem tem dinheiro para pagar aos bombeiros, e Jefferson County tem um sistema de esgotos que custa 8 vezes mais que os impostos que recebe), Estados a pedir participação nos fundos do congresso ( Califórnia). A juntar a isto há países em bancarrota(Islândia). O sub prime significa créditos originados com critérios abaixo de padrões mínimos necessários ao bom funcionamento do sistema financeiro, e aqui temos disso ás resmas ( créditos fáceis, créditos para viagens, créditos para carros que ninguém hoje compra, até o recheio fazia parte da avaliação para crédito imobilário). E ainda dizem que não temos activos tóxicos...Ao menos no mercado de construção, que é altamente concorrencial, os fiscais não apaceriam apenas para os almoços mas visitavam as obras e não deixavam que se poupasse no betão, senão era só prédios a caír.

domingo, outubro 19, 2008  

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