TODOS AMERICANOS
"Nos últimos dias, anónimos e conhecidos acusaram-me de estar contra a vitória de Obama e, o que será ainda pior, de estar contra a felicidade deles pela vitória de Obama. Permitam-me duas rectificações: não e não. É verdade que, ponderada a boçalidade da sra. Palin, eu talvez tivesse optado por McCain. Mas nem isto é um campeonato da bola nem os pormenores que separavam os candidatos chegaram para me incomodar. Obama é o novo presidente dos EUA? Serve. Numa democracia assim vigorosa, a escolha popular encontra-se, por definição, acima da crítica. Os inquilinos da Casa Branca são, evidentemente e em graus diversos, criticáveis. O que a América representa não é, pelo menos para quem acredita nas prosaicas virtudes da liberdade, apesar de tudo (e o "tudo" levaria páginas a inventariar) sempre mais palpável lá do que em qualquer alternativa que me ocorra.
A princípio, admito, estranhei a alegria de gente que, desde bem antes de Bush, não costuma alegrar-se com os ventos que sopram da América, a menos que soprem do infantil universo pop ou das franjas da contracultura. Obama, produto dilecto do "sistema", não é infantil, não veio das franjas e certamente não caminhará rumo a elas, donde a surpresa que muitos dos seus apoiantes portugueses (e não só) suscitam.
Entretanto, a surpresa passou. Agora contento-me em aplaudir tamanha aderência de anti-americanos típicos a uma ideia da América que não nasceu com Obama e que Obama está longe de simbolizar em exclusivo. A julgar pelos regimes que os (ex) anti-americanos tinham por hábito celebrar, é, sem dúvida, uma evolução notável. Confessem: para variar, consola defender uma nação essencialmente decente, não consola? Viram os discursos de conciliação do vencedor e do vencido? Viram Bush, a opção do povo em 2004, a iniciar Obama, opção em 2008, na transmissão de poderes? Viram Obama convocar Hillary e McCain a Chicago para debater o futuro? Em Cuba, digamos, não há disto, pois não? Cair de velho e passar o trono ao irmão não conta, pois não? E as eleições usurpadas do caudilho venezuelano também não, pois não? Em comparação, mesmo sufrágios genuínos como o sueco ou o português não são demasiado excitantes, pois não?
Claro que não. Por isto e por aquilo, a América é diferente. Os que a abominavam converteram-se ao que ela tem de melhor, e os que, na medida sensata, já a admiravam não encontram razões para conter a admiração. Em suma, estamos todos felizes. E se Obama é o pretexto do radiante consenso, lancemos três demorados vivas a Obama, na presunção, meramente hipotética, de que ninguém desista ao segundo."
Alberto Gonçalves
A princípio, admito, estranhei a alegria de gente que, desde bem antes de Bush, não costuma alegrar-se com os ventos que sopram da América, a menos que soprem do infantil universo pop ou das franjas da contracultura. Obama, produto dilecto do "sistema", não é infantil, não veio das franjas e certamente não caminhará rumo a elas, donde a surpresa que muitos dos seus apoiantes portugueses (e não só) suscitam.
Entretanto, a surpresa passou. Agora contento-me em aplaudir tamanha aderência de anti-americanos típicos a uma ideia da América que não nasceu com Obama e que Obama está longe de simbolizar em exclusivo. A julgar pelos regimes que os (ex) anti-americanos tinham por hábito celebrar, é, sem dúvida, uma evolução notável. Confessem: para variar, consola defender uma nação essencialmente decente, não consola? Viram os discursos de conciliação do vencedor e do vencido? Viram Bush, a opção do povo em 2004, a iniciar Obama, opção em 2008, na transmissão de poderes? Viram Obama convocar Hillary e McCain a Chicago para debater o futuro? Em Cuba, digamos, não há disto, pois não? Cair de velho e passar o trono ao irmão não conta, pois não? E as eleições usurpadas do caudilho venezuelano também não, pois não? Em comparação, mesmo sufrágios genuínos como o sueco ou o português não são demasiado excitantes, pois não?
Claro que não. Por isto e por aquilo, a América é diferente. Os que a abominavam converteram-se ao que ela tem de melhor, e os que, na medida sensata, já a admiravam não encontram razões para conter a admiração. Em suma, estamos todos felizes. E se Obama é o pretexto do radiante consenso, lancemos três demorados vivas a Obama, na presunção, meramente hipotética, de que ninguém desista ao segundo."
Alberto Gonçalves
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