sábado, janeiro 17, 2009

JORNALISMO E POESIA

"Lillian Ross, figura mítica da revista New Yorker e pioneira do "novo jornalismo" americano, ensinava que um jornalista não pode dizer o que os sujeitos das suas reportagens pensam ou sentem, e ainda menos o que ele próprio pensa ou sente.

O método de Ross fez escola na cobertura do terrorismo palestiniano, abordado ao longo dos anos com secura e discrição. Mas, como se constata na Faixa de Gaza, não fez escola nas reportagens acerca das acções militares israelitas, sempre repletas de divagações líricas em volta da criança que corria feliz antes de tombar ceifada pela gadanha "judaica".

Obviamente, não discuto a dor associada à morte, embora, dadas as circunstâncias, talvez valesse a pena discutir quantos dos mortos civis são responsabilidade de Israel, quantos são reais e quantos são fruto das manipulações que as agremiações islâmicas costumam lançar à credulidade dos "media" ocidentais.

É, de qualquer modo, uma credulidade voluntária. Entre mortos e vivos, muito do "jornalismo" alusivo ao Médio Oriente limita-se a traduzir um curioso consenso: o de que os conflitos locais se devem à "opressão" que Israel exerce sobre árabes indefesos e essencialmente inocentes. É por isso que os correspondentes em Gaza relatam pouquíssima matéria factual e optam por embrulhar convicções pessoais em péssima prosa poética.

É possível que as convicções e a poesia da imprensa excitem o "anti-sionismo" (sic) em voga. Quem prefere os factos, porém, recorre por exemplo aos estatutos do Hamas, que prescrevem a "obliteração" de Israel, que reserva a salvação divina para o dia em que se assassinar o último judeu "escondido atrás das pedras" e que aceita a tolerância ecuménica apenas num mundo "sob o domínio islâmico". É facto que o Hamas é um bando de "supremacistas" raciais e religiosos. É facto que detém o apoio da vasta maioria da população de Gaza, imersa num caldo de miséria, ignorância e ódio. É facto que recebe auxílio directo do Irão e da Síria. É facto que os seus propósitos são inseparáveis da jihad global e não se esgotam no território israelita.

O reconhecimento das evidências acima ajudaria à isenção jornalística, mas seria terrível para o tipo de "jornalismo" que, com ou sem consciência, não admite o direito de Israel a se defender e, por consequência, a existir. Esse particular "jornalismo", que aparentemente lançaria foguetes se Israel acabasse, é cada vez mais indistinguível da propaganda do Hamas, que lança foguetes para que Israel acabe, e cuja selvajaria o lirismo dos "media" legitima e promove
."

Alberto Gonçalves

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