sábado, janeiro 24, 2009

Porque é que Portugal pode falir como Estado



Em 2007 alguns fizeram a previsão que os bancos e os consumidores dos EUA estavam insolventes.
Faz mais de um ano que se calculou em 10 000 biliões de USD o valor da dívida dos activos fantasmas que se desapareceram em consequência da crise.
Em lógica de antecipação estima-se que o mundo entrou numa nova fase da crise sistémica, a fase de decantação, a sequência da insolvência global.
Ao contrário daquilo que os líderes mundiais assim como os bancos centrais parecem pensar, o problema de liquidez que estão tentando resolver através de uma diminuição das taxas de juro e com uma ilimitada criação de dinheiro, não é uma causa, mas sim uma consequência da actual crise.
É realmente um problema de solvência já que cria um buraco negro no qual desaparece a liquidez, que se chamam balanços dos bancos, endividamento das famílias, quebra das empresas ou défices públicos.
Um cálculo conservador dos activos fantasmas mundiais chega agora a mais de 30 000 biliões de USD, considerando-se assim que o mundo enfrenta agora uma insolvência generalizada que esmaga em primeiro lugar os países e organizações (públicas ou privadas) sobre endividados e ou muito dependentes dos serviços financeiros.
Como reconhecemos uma crise de solvência de uma crise de liquidez?
A distinção entre crise de solvência e de liquidez pode parecer muito técnica e finalmente pouco determinante para a evolução da presente crise. Sem dúvida, não se trata de uma discussão académica já que segundo os casos, a acção actual dos governos e dos bancos centrais será útil ou ao contrário completamente inútil e incluso perigosa.
Um pequeno exemplo:
Se você tiver um problema passageiro de dinheiro e a sua família ou o seu banco aceita emprestar-lhe os fundos necessários para superar o problema, o seu esforço é bom para todos. Permite que continue a sua actividade, pagar aos seus empregados ou a si mesmo; o seu banco ou a sua família serão reembolsados ( com pagamento ao banco dos juros da dívida, sem dúvida) e a economia terá beneficiado com uma contribuição positiva. Pelo contrário, se o seu problema não é de falta de dinheiro mas sim de uma actividade que não é rentável e não pode desenvolver-se nas condições económicas do momento, então o esforço do banco ou da sua família é tanto mais perigoso quanto maior for o universo de que falamos. De facto, com toda a probabilidade, ao seu primeiro pedido se seguirão outros, sempre com a promessa (supondo que é uma pessoa honesta) que o aperto logo será superado. O seu banco ou a sua família estarão mais incitados a continuar a ajudá-lo já que correm o risco de que o fecho da sua actividade os leve a perder o que emprestaram. Pelo que se a situação continuar a piorar, o que é o caso de se tratar de actividade sem rentabilidade, então chega um momento em que se alcançam determinados limites: primeiro o banco decidirá que tem mais a perder ao continuar a sustentar a situação valendo mais a pena deixá-lo cair; segundo a sua família já não tem mais dinheiro disponível porque você consumiu todas as suas poupanças. Tudo indica que não apenas você está em quebra e insolvente e provavelmente arrastou a sua família para a mesma situação ou debilitou o seu banco. Deu um golpe terrível à economia do seu meio, incluindo a sua família. É importante destacar que isto pode suceder num caso de uma abrupta situação de mudança das condições económicas que modificaram a rentabilidade da sua actividade sem que se tenha apercebido da ordem de grandeza das consequências para o seu negócio.
Este simples exemplo ilustra perfeitamente a situação que prevalecia no início de 2009 em todo o sistema financeiro mundial, uma parte importante da economia do planeta e dos agentes económicos ( incluídos os estados) que basearam o seu crescimento dos últimos anos no seu endividamento.
A crise reflectiu e amplificou o problema da insolvência global.
O mundo está tomando consciência de que é muito mais pobre do que o último decénio fazia parecer crer. Este ano obrigará todos os actores económicos a tentar avaliar concretamente o estado da sua solvência, sabendo que muitos activos todavia continuam desvalorizando.
A dificuldade é que cada vez mais operadores deixam de confiar nos indicadores e nos instrumentos de medição tradicionais.
As agências de qualificação perderam toda a credibilidade.
O USD é apenas uma ficção de unidade monetária do qual em todo o mundo, muitos estados tratam de se desembaraçar rapidamente. (A propósito deste assunto, há quem recomende às instituições financeiras internacionais, e sobretudo aos seus responsáveis dos serviços estatísticos que é necessário criar uma contabilidade internacional alternativa, baseada num cabaz de divisas ( 25% USD, 25% €, 25% Yen e 25% Yuan) à espera de um cabaz global de divisas decidida pelos dirigentes mundiais porque a cessação de pagamentos pelos USA e o colapso do sistema monetário mundial que se antecipa para o Verão de 2009 imediatamente provocará uma catástrofe em matéria de contabilização de valores e dos fluxos financeiros mundiais. É portanto urgente, incluso é motivo de discussões que deve haver duplicação de contabilidades, duplicando as estatísticas actuais baseadas no USD e uma outra versão de protecção com base num cabaz de divisas. Isto permitirá assegurar uma continuidade das estatísticas enquanto se reconstrói o sistema monetário internacional.).
Todo o mundo financeiro está sob suspeita por não ser mais que um imenso buraco negro.
Nas empresas ninguém sabe se os registos de pedidos são fiáveis ( a queda generalizada do transporte de mercadorias mostra bem este facto), já que, em todos os sectores reina a confusão, com anulação de pedidos em larga escala) ou deixam simplesmente de comprar, (um dos indicadores avançados da economia mundial é inegavelmente o mercado das máquinas ferramenta, porque são as que servem para a produção dos bens manufacturados. Os pedidos de máquinas ferramenta permitem antecipar de 6 meses a um 1 ano o estado da indústria de bens manufacturados a nível mundial. Os dois grandes fabricantes e exportadores mundiais destas máquinas são a Alemanha e o Japão, a evolução da sua produção e exportação neste sector é pois um indício muito fiável do futuro da indústria já referida. Neste caso, 2009 revela-se muito sombrio já que a Alemanha e o Japão registaram em Novembro de 2008 uma queda vertiginosa de 16% dos seus pedidos em relação a Outubro de 2008, é a pior queda registada desde 1987, quando estes dados começaram a estar disponíveis (MarketWatch), mesmo com a vertiginosa queda dos preços, como é confirmado pela forte baixa de vendas.
Nos USA e em outras países já estão em queda as receitas fiscais o que faz temer o aumento do défice público. Por outro lado, desde os multimilionários russos às petromonarquias do golfo passando pelo eldorado comercial chinês que se está a transformar num pântano socioeconómico, todas as galinhas de ovos de ouro desde as empresas às instituições financeiras (incluindo a Europa, , Japão e América do Norte, agora são insolventes ou com muito pouca liquidez. A questão da solvência do Estado Federal e dos estados federados dos USA (assim como a Rússia e UK) também começam a aparecer nos principais media mundiais, assim como os fundos de pensões por capitalização, os principais actores na economia globalizada dos últimos vinte anos. O futuro é o da insolvência global.

O Pelicano
Post Scriptum:
Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria a escrever neste Blog, mas as zangas não são mais importantes que a situação que atravessamos, daí um contributo que me dá algum trabalho. Pode-se não gostar, mas é uma opinião.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A informação é sempre importante e válida, mas o que me parece, isto analisando os artigos que aqui tem colocado, é que não há salvação nenhuma e vai tudo pelo cano abaixo. Sem querer ofender, mas parece o arauto da desgraça.
Confesso que para mim a economia é tão explicita como chinês ou sanscrito...e quanto mais leio / oiço os economistas menos entendo da mesma. Todos se perdem em prelecções rebuscadas, chovendo no molhado.
Soluções precisam-se ou pelo menos algo que anime. Nos canhenhos que tem vasculhado, caro Toupeira, há luz ao fundo do tunel ou a mesma foi desligada a mando do Governo por razões de limitação de despesas ?

Tigre

segunda-feira, janeiro 26, 2009  
Blogger Toupeira said...

Meu caro, eu não sou economista, apenas tento perceber como o meu caro Senhor o que se passa.
Ora não me parece ser arauto da desgraça..
Se reparar sobre o assunto muito antes de Setembro já se escrevia acerca do aí vinha.
Por vezes pergunto-me para onde foi todo o dinheiro.
Permito-me aconselhar que leia um artigo do Guardian acerca de quem foram os responsáveis por tudo isto. Repare que os Ingleses estão fulos com os amigos americanos, afinal eles, foram como nós vítimas de homens como o Greenspan, Clinton e todos os que lucraram com o crescimento da bolha e com o seu rebentamento.
Em Portugal, podíamos estar melhor se em vez de se ajudarem os banqueiros e outros especuladores se tivessem feito medidas simples para ajudar as pequenas e médias empresas e não fazer o que se assiste hoje, a continuação de leilões e de aperto a empresas que acabam por falir porque deixaram de pagar a carga de impostos excessiva e uma segurança social demasiado gorda, para ter de pagar aos seus funcionários.
Tentei em linguagem simples fazer perceber o que se passa e vai acontecer.
É claro ue há sempre uma luz ao fundo do túnel, mas com políticos destes e com um sistema destes, quem consegue evitar uma Islândia?
Apenas não aconteceu por causa da zona onde estamos inseridos.
Mas não pense que não consegue entender, é apenas tentar ir percebendo, aos poucos. Costumo dizer que os economistas é que nos meteram na miséria, e como gestores são ou criados ou então incapazes, basta ver os comentadores das televisões, para perceber as dualidades.

segunda-feira, janeiro 26, 2009  

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