E VOCÊ ANUNCIAVA AOS NAZIS O DIA D?
"O jornal inglês The Times, na quarta-feira, tinha uma manchete sobre a guerra nas fronteiras entre o Afeganistão e o Paquistão que era uma cacha: "Base Secreta para Predators." Seguiam-se duas páginas provando que o isolado aeroporto de Shamsi, no Paquistão, serve de base para os drones, aqueles aviões americanos sem piloto. De reconhecimento mas também lançando mísseis, os drones Predators têm feito razias entre os talibãs, seja em território afegão, seja nas províncias fronteiriças paquistanesas.
Tanto o ex-presidente Pervez Musharraf como o actual, Asif Ali Zardari, têm preferido que a aliança com os americanos não seja muito visível num país de 97% de muçulmanos e pasto do radicalismo religioso. Logo, o artigo do Times foi negado pelo ministro da Defesa paquistanês. Em artigo de opinião junto à reportagem, o jornal assinalava o "duplo jogo" de Zardari. Por um lado, pressionado pelas forças dos talibãs, o Presidente paquistanês aceita que nas províncias do Noroeste, no Vale de Swat, seja implantada a lei da sharia, a forma mais violenta de fascismo muçulmano (por exemplo, as raparigas são impedidas de frequentar a escola). Por outro, Zardari aceita que um aeroporto paquistanês seja usado pelos "drones" americanos para operações militares em território paquistanês.
Ora esta ambiguidade do Governo paquistanês verifica-se também no próprio The Times. Na capa e nas páginas 6 e 7 (e no dia seguinte volta à carga com mais provas), o jornal denuncia o uso do aeroporto de Shamsi pelos drones. E, na página 2, em editorial, o jornal louva o pragmatismo do Presidente Zardari por deixar os americanos utilizar os drones no seu território. Estes ataques, diz jornal, "têm atacado casas onde os líderes da Al-Qaeda se encontram, têm morto vários comandantes e fazem pressão para que eles abandonem as zonas tribais que os protegem." O editorial acaba assim: "O extremismo deve ser derrotado, pelos drones, pelo Exército [paquistanês] e pela lei."
O jornal, no editorial, escolhe um lado - legítimo, porque contra o terrorismo (contra o qual, aliás, jovens ingleses combatem na região). Mas, mais do que o editorial, será a reportagem, também do Times, que será lida no Paquistão. E essa não ajudará o combate dos drones contra o terrorismo. Os radicais islâmicos servir-se--ão da reportagem para fragilizar quem no Paquistão combate os terroristas.
Dir-se-á: mas o sacrossanto direito à informação, um dos pilares da democracia, foi cumprido. E, sobre isso, eu pergunto: um repórter que vai numa acção militar secreta e perigosa, se a sabe de antemão, anuncia-a para quem a possa atacar? Pois é, quem tem cu sabe as limitações dos sacrossantos direitos"
Ferreira Fernandes
Tanto o ex-presidente Pervez Musharraf como o actual, Asif Ali Zardari, têm preferido que a aliança com os americanos não seja muito visível num país de 97% de muçulmanos e pasto do radicalismo religioso. Logo, o artigo do Times foi negado pelo ministro da Defesa paquistanês. Em artigo de opinião junto à reportagem, o jornal assinalava o "duplo jogo" de Zardari. Por um lado, pressionado pelas forças dos talibãs, o Presidente paquistanês aceita que nas províncias do Noroeste, no Vale de Swat, seja implantada a lei da sharia, a forma mais violenta de fascismo muçulmano (por exemplo, as raparigas são impedidas de frequentar a escola). Por outro, Zardari aceita que um aeroporto paquistanês seja usado pelos "drones" americanos para operações militares em território paquistanês.
Ora esta ambiguidade do Governo paquistanês verifica-se também no próprio The Times. Na capa e nas páginas 6 e 7 (e no dia seguinte volta à carga com mais provas), o jornal denuncia o uso do aeroporto de Shamsi pelos drones. E, na página 2, em editorial, o jornal louva o pragmatismo do Presidente Zardari por deixar os americanos utilizar os drones no seu território. Estes ataques, diz jornal, "têm atacado casas onde os líderes da Al-Qaeda se encontram, têm morto vários comandantes e fazem pressão para que eles abandonem as zonas tribais que os protegem." O editorial acaba assim: "O extremismo deve ser derrotado, pelos drones, pelo Exército [paquistanês] e pela lei."
O jornal, no editorial, escolhe um lado - legítimo, porque contra o terrorismo (contra o qual, aliás, jovens ingleses combatem na região). Mas, mais do que o editorial, será a reportagem, também do Times, que será lida no Paquistão. E essa não ajudará o combate dos drones contra o terrorismo. Os radicais islâmicos servir-se--ão da reportagem para fragilizar quem no Paquistão combate os terroristas.
Dir-se-á: mas o sacrossanto direito à informação, um dos pilares da democracia, foi cumprido. E, sobre isso, eu pergunto: um repórter que vai numa acção militar secreta e perigosa, se a sabe de antemão, anuncia-a para quem a possa atacar? Pois é, quem tem cu sabe as limitações dos sacrossantos direitos"
Ferreira Fernandes
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