segunda-feira, fevereiro 02, 2009

MONÓLOGO CIVILIZACIONAL

"Leio algures que o fecho (previsto, anunciado, hipotético) da prisão de Guantánamo é "um passo positivo para o mundo". E que "o uso da força contra povos independentes perdeu eficácia". E que é possível que Obama "queira abrir uma nova página fundada numa interacção pacífica, baseada no respeito mútuo com o Islão". E que "a primeira coisa que [o novo presidente americano] tem de fazer é anular todos os procedimentos criados pela política criminosa de Bush". E que os EUA devem "parar de defender Israel".

Os clichés acima poderiam ter sido subscritos por noventa e cinco por cento dos comentadores nacionais e estrangeiros que me vêm à memória, geminados pela aversão a Bush, a esperança em Obama, a descrença selectiva na guerra, o carinho cego pela via diplomática e, claro, a fatal repugnância face ao "sionismo". Por acaso, os clichés constam de um comunicado de responsáveis taliban, o simpático movimento que transformou o Afeganistão num centro experimental da demência.

É curioso que o padrão opinativo ocidental esteja alinhado com o de uma seita de transtornados que ambiciona arrasar o Ocidente. Também pode tratar-se do inverso, isto é, que os taliban se limitem a partilhar as convicções actualmente consensuais na civilização que odeiam. Nenhuma das possibilidades é risonha - para nós. Para os taliban ambas são encantadoras, e por sorte tendemos a concordar com eles.
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Alberto Gonçalves

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