CORRER COM ELES
"O eng. Sócrates fechou o congresso do PS com uma condenação: a das crianças de cinco anos aos "jardins-de-infância", eufemismo para os barracões onde se guardam os petizes da sociedade e da indisponibilidade familiar. Note-se que o primeiro-ministro não prometeu facultar o "pré-escolar" a quem pretender beneficiar do dito. Tudo o que seja facultativo não é com ele. A ideia é recolher os petizes à força, mesmo que os pais não queiram e não necessitem da recolha. O eng. Sócrates justifica: "É assim que se prepara o futuro. É assim que se reduz a desigualdade social." É assim, acrescento, que o Estado se intromete nas vidas alheias muito além do recomendável em democracia.
No caso, não se intromete na minha, que escolhi - enquanto o Governo me permitir - não procriar. Se, porém, escapei de um particular abuso (e sem consequências: a diferença entre não ter filhos e tê-los entregues a instituições compulsivas dos cinco aos dezoito anos roça o imperceptível), não escapo dos abusos restantes, os quais, nestes perigosos tempos, são inúmeros.
Ainda agora, um portento chamado Laurentino Dias, que tutela o desporto ou lá o que é, decidiu "fazer o que for preciso para que Portugal passe a ser um país que faça marcha e corrida de forma organizada". Note-se que o dr. Laurentino não limita ao corpo dele as piruetas que entende vitais. Decerto à imagem do respectivo chefe, cujo jogging deslumbra a Terra, o homem quer pôr os portugueses em peso, e juro que cito, "a andar na rua com vestes desportivas". Francamente, começo a não saber até que ponto esta gente fala a sério. Sei que em Portugal abundam sujeitos em fato de treino, embora geralmente estejam sentados em esplanadas a deglutir tremoços e imperiais. Aparentemente, levantá-los das cadeiras e levá-los a escorrer suor é um factor de progresso.
As cabeças dos senhores que nos pastoreiam são um mistério insondável. De qualquer modo, não nos compete sondá-las: de acordo com a lei, compete-nos obedecer-lhes. Claro que, por enquanto, o dr. Laurentino anuncia as marchas e as corridas (organizadas) como uma opção, para a qual o Governo criará as "condições". Mas o Governo, repleto de objectivos, também já provou que das "condições" à compulsão vai um pequeno passo, em marcha ou corrido. Modestamente, eu tenho um objectivo: daqui a uns meses, gostava de aplicar as palavras "Governo" e "corrido" noutra frase."
No caso, não se intromete na minha, que escolhi - enquanto o Governo me permitir - não procriar. Se, porém, escapei de um particular abuso (e sem consequências: a diferença entre não ter filhos e tê-los entregues a instituições compulsivas dos cinco aos dezoito anos roça o imperceptível), não escapo dos abusos restantes, os quais, nestes perigosos tempos, são inúmeros.
Ainda agora, um portento chamado Laurentino Dias, que tutela o desporto ou lá o que é, decidiu "fazer o que for preciso para que Portugal passe a ser um país que faça marcha e corrida de forma organizada". Note-se que o dr. Laurentino não limita ao corpo dele as piruetas que entende vitais. Decerto à imagem do respectivo chefe, cujo jogging deslumbra a Terra, o homem quer pôr os portugueses em peso, e juro que cito, "a andar na rua com vestes desportivas". Francamente, começo a não saber até que ponto esta gente fala a sério. Sei que em Portugal abundam sujeitos em fato de treino, embora geralmente estejam sentados em esplanadas a deglutir tremoços e imperiais. Aparentemente, levantá-los das cadeiras e levá-los a escorrer suor é um factor de progresso.
As cabeças dos senhores que nos pastoreiam são um mistério insondável. De qualquer modo, não nos compete sondá-las: de acordo com a lei, compete-nos obedecer-lhes. Claro que, por enquanto, o dr. Laurentino anuncia as marchas e as corridas (organizadas) como uma opção, para a qual o Governo criará as "condições". Mas o Governo, repleto de objectivos, também já provou que das "condições" à compulsão vai um pequeno passo, em marcha ou corrido. Modestamente, eu tenho um objectivo: daqui a uns meses, gostava de aplicar as palavras "Governo" e "corrido" noutra frase."
Alberto Gonçalves
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