Justiça previsível
"Nascimento Rodrigues vive preso, com um colete-de-forças, ao cargo de Provedor de Justiça. A prática medieval parece estar a agradar ao PS e ao PSD, que preferem ter um Provedor sufocado a um que se mexa. As patéticas declarações de Manuela Ferreira Leite a reclamar o cargo para o PSD e o queimar de nomes na praça pelo PS provam o que querem: um Provedor de Justiça fantoche. Isto é, para o PS e para o PSD, um cargo é uma peça de carne, dividida num talho: uma peça para mim, uma peça para ti. O caso só não é mais ridículo porque PS e PSD encaram todos os cargos públicos como um seu monopólio. Por isso, a chacota é ainda maior. PS e PSD encaram o País como um território de quotas leiteiras. O caso do Provedor de Justiça é só a ponta do icebergue da divisão partidária que se faz de cargos públicos. Nunca está em causa escolher a pessoa que possa prestigiar o cargo, que o torne útil, que possa mexer com os interesses instalados. Está em causa a escolha de um rapaz do partido. É esse o pecado original da democracia portuguesa. O bloco central da imobilidade nacional destrói a democracia e desincentiva a criação de uma sociedade civil activa. Eça de Queirós, que assistia há mais de um século ao mesmo que hoje vemos, escreveu: "A Câmara não tem consciência. O seu critério, a sua moral, é a intriga. A intriga política, a intriga partidária". É só disso que se trata no caso do Provedor de Justiça: de mera intriga. O País, percebe-se, tornou-se um empecilho para os grandes desígnios do PS e do PSD. "
Fernando Sobral
Fernando Sobral
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