Kafka em São Bento
"O país esperava uma entrevista política, mas o primeiro-ministro disfarçou com sorrisos o conflito com o Presidente da República.
Os portugueses aguardavam uma palavra de esperança e a compaixão de um homem de Esquerda, mas Sócrates escolheu a agressividade de quem está zangado com o mundo. Portugal exigia uma resposta política global para a situação de crise, mas recebeu a notícia de um assistencialismo social avulso e burocrático. Depois da entrevista do primeiro-ministro, o país tem razão para se sentir mais só e entregue ao seu destino. Para além do verniz superficial, a entrevista teve um único tema - a questão da maioria absoluta. Todos os assuntos levantados fluem para o objectivo político da maioria absoluta. Até a completa ausência da oposição remete para essa obsessão do primeiro-ministro e comprova o deserto da política nacional. Mas será conveniente para o país uma maioria absoluta do PS?
Vamos por partes. Um Governo sem maioria absoluta promove o aumento da influência do Presidente da República. Mas um Governo PS sem maioria absoluta fica dependente da chantagem radical de um Bloco de Esquerda renascido e sedento de poder. Com o desvio do país à Esquerda, é a instabilidade política de um segundo PREC que se junta a uma crise económica sem precedentes. No reverso da medalha, um Governo PS com nova maioria absoluta representa o reforço da arrogância do Governo e a afirmação de um primeiro-ministro cada vez mais providencial na sua intolerância. Uma nova maioria absoluta do PS garante a estabilidade política, mas garante também a solidificação de um poder que tende para a ditadura da maioria em clima de democracia musculada. Quatro anos de governação socialista conduziram o país a uma situação digna de Kafka. Com ou sem maioria absoluta, o futuro mais próximo oferece apenas o impasse político, a estagnação económica e uma espécie de balcanização da vida política. Quatro anos de consulado socialista levaram a democracia portuguesa para um beco sem saída em que a única fuga visível se reduz à solução Sócrates. Se um cenário de maioria absoluta é prejudicial para a democracia portuguesa, um cenário de maioria relativa é um desastre para os portugueses. Quando as opções se dividem entre o mau e o pior, a situação confere com o clima típico do fim de um regime.
Uma palavra final para o PSD. Uma derrota eleitoral no ano de todas as eleições provoca uma guerra interna que pode chegar à desagregação final do grande partido da oposição. Em vez de uma alternativa, o PSD pode ser o último factor de instabilidade antes do fim do regime. No país dos recados, os portugueses vão precisar de muita sorte."
Carlos Marques de Almeida
Os portugueses aguardavam uma palavra de esperança e a compaixão de um homem de Esquerda, mas Sócrates escolheu a agressividade de quem está zangado com o mundo. Portugal exigia uma resposta política global para a situação de crise, mas recebeu a notícia de um assistencialismo social avulso e burocrático. Depois da entrevista do primeiro-ministro, o país tem razão para se sentir mais só e entregue ao seu destino. Para além do verniz superficial, a entrevista teve um único tema - a questão da maioria absoluta. Todos os assuntos levantados fluem para o objectivo político da maioria absoluta. Até a completa ausência da oposição remete para essa obsessão do primeiro-ministro e comprova o deserto da política nacional. Mas será conveniente para o país uma maioria absoluta do PS?
Vamos por partes. Um Governo sem maioria absoluta promove o aumento da influência do Presidente da República. Mas um Governo PS sem maioria absoluta fica dependente da chantagem radical de um Bloco de Esquerda renascido e sedento de poder. Com o desvio do país à Esquerda, é a instabilidade política de um segundo PREC que se junta a uma crise económica sem precedentes. No reverso da medalha, um Governo PS com nova maioria absoluta representa o reforço da arrogância do Governo e a afirmação de um primeiro-ministro cada vez mais providencial na sua intolerância. Uma nova maioria absoluta do PS garante a estabilidade política, mas garante também a solidificação de um poder que tende para a ditadura da maioria em clima de democracia musculada. Quatro anos de governação socialista conduziram o país a uma situação digna de Kafka. Com ou sem maioria absoluta, o futuro mais próximo oferece apenas o impasse político, a estagnação económica e uma espécie de balcanização da vida política. Quatro anos de consulado socialista levaram a democracia portuguesa para um beco sem saída em que a única fuga visível se reduz à solução Sócrates. Se um cenário de maioria absoluta é prejudicial para a democracia portuguesa, um cenário de maioria relativa é um desastre para os portugueses. Quando as opções se dividem entre o mau e o pior, a situação confere com o clima típico do fim de um regime.
Uma palavra final para o PSD. Uma derrota eleitoral no ano de todas as eleições provoca uma guerra interna que pode chegar à desagregação final do grande partido da oposição. Em vez de uma alternativa, o PSD pode ser o último factor de instabilidade antes do fim do regime. No país dos recados, os portugueses vão precisar de muita sorte."
Carlos Marques de Almeida
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home