sábado, abril 25, 2009

Kafka em São Bento

"O país esperava uma entrevista política, mas o primeiro-ministro disfarçou com sorrisos o conflito com o Presidente da República.

Os portugueses aguardavam uma palavra de esperança e a compaixão de um homem de Esquerda, mas Sócrates escolheu a agressividade de quem está zangado com o mundo. Portugal exigia uma resposta política global para a situação de crise, mas recebeu a notícia de um assistencialismo social avulso e burocrático. Depois da entrevista do primeiro-ministro, o país tem razão para se sentir mais só e entregue ao seu destino. Para além do verniz superficial, a entrevista teve um único tema - a questão da maioria absoluta. Todos os assuntos levantados fluem para o objectivo político da maioria absoluta. Até a completa ausência da oposição remete para essa obsessão do primeiro-ministro e comprova o deserto da política nacional. Mas será conveniente para o país uma maioria absoluta do PS?

Vamos por partes. Um Governo sem maioria absoluta promove o aumento da influência do Presidente da República. Mas um Governo PS sem maioria absoluta fica dependente da chantagem radical de um Bloco de Esquerda renascido e sedento de poder. Com o desvio do país à Esquerda, é a instabilidade política de um segundo PREC que se junta a uma crise económica sem precedentes. No reverso da medalha, um Governo PS com nova maioria absoluta representa o reforço da arrogância do Governo e a afirmação de um primeiro-ministro cada vez mais providencial na sua intolerância. Uma nova maioria absoluta do PS garante a estabilidade política, mas garante também a solidificação de um poder que tende para a ditadura da maioria em clima de democracia musculada. Quatro anos de governação socialista conduziram o país a uma situação digna de Kafka. Com ou sem maioria absoluta, o futuro mais próximo oferece apenas o impasse político, a estagnação económica e uma espécie de balcanização da vida política. Quatro anos de consulado socialista levaram a democracia portuguesa para um beco sem saída em que a única fuga visível se reduz à solução Sócrates. Se um cenário de maioria absoluta é prejudicial para a democracia portuguesa, um cenário de maioria relativa é um desastre para os portugueses. Quando as opções se dividem entre o mau e o pior, a situação confere com o clima típico do fim de um regime.

Uma palavra final para o PSD. Uma derrota eleitoral no ano de todas as eleições provoca uma guerra interna que pode chegar à desagregação final do grande partido da oposição. Em vez de uma alternativa, o PSD pode ser o último factor de instabilidade antes do fim do regime. No país dos recados, os portugueses vão precisar de muita sorte
."

Carlos Marques de Almeida

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