O BPP morreu
"O Banco Privado Português já não existe. Não empresta, não paga, não deposita, não faz, não fia, não banca, não vive. É uma mansão vazia, brasão de família extinta, moribundo que pede milagre ao padre que lá foi dar a extrema-unção. O BPP tem de falir como banco porque em tudo o resto já faliu. Não é vidência, é uma evidência.
Clientes, accionistas e gestores estão a fazer tudo o que podem para negar esse destino. Têm o direito e a necessidade. Mas é como continuar a fazer massagem cardíaca num cadáver. O banco está em estado vegetativo, é uma massa falida, com mais de falido do que de massa.
Os dois planos para salvar o BPP, o dos accionistas e o da administração, assentam, ambos, num tripé de injecção de capital (pelo Estado, pelos bancos e pelos accionistas), com perda de garantias pelos clientes. Os bancos já saíram do jogo e só emprestam sob aval do Estado: salvar o BPP depende exclusivamente do Governo.
O próprio argumento com que os accionistas querem persuadir o Estado a injectar dinheiro é demonstrativo da debilidade do banco: injectar 150 milhões (ou 200 milhões, pede a administração) é menos do que o Estado perde se o banco falir. É uma chantagem, que aliás trai quem já avalizou um empréstimo; é um argumento pela negativa (não se investe porque é bom, gasta-se porque é menos mau).
Mais: os accionistas pedem a salvação do BPP porque acreditam na sua reconversão enquanto banco de PME. Óptimo: se há espaço para fazer um banco assim, ele pode nascer ao lado. Apesar de tudo o que tem acontecido, a economia ainda é um sítio de que as empresas que fracassam têm de sair para que possam entrar novas empresas. Ontem mesmo foi lançado o Banco Carregosa, precisamente na banca privada. É esse o círculo da vida económica.
É preciso fazer o elogio à administração de Adão da Fonseca, pela persistência e missão, assumindo desde o início que está a defender não os accionistas, mas os clientes. Porque são os clientes os traídos desta história, tenha ou não havido produtos falsamente garantidos. Há quem invista sabendo que pode perder, mas ninguém contabiliza o risco do banco falir.
Os clientes têm perdido em tribunal as providências cautelares em que pretendiam provar terem subscrito produtos de capital garantido. Na tese da administração de João Rendeiro, esses clientes conheciam os riscos e estão a ser oportunistas para recuperar o que perderam com a queda das bolsas. Carlos Tavares já disse que há indícios de que alguns desses clientes terão mesmo sido enganados.
Se o BPP falir, os accionistas perdem tudo, os clientes perdem muito e rebenta uma guerra jurídica pelos activos, que têm qualidade mas são parcos. O próprio Estado, que supostamente tem garantias para o empréstimo que avalizou, pode perder prioridade.
O Governo tem duas decisões a tomar: se deixa cair os clientes; e se corre o risco sistémico e da má imagem internacional de deixar um banco falir. A primeira decisão é dolorosa, mas pode salvar-se clientes sem salvar o banco. Já a segunda decisão é um equívoco. Não há hoje risco de corrida generalizada aos bancos por causa do BPP. Esse risco é, aliás, muito menor que o risco moral de todos ficarem com a certeza de que podem cometer erros - o Estado cobre. E quanto à imagem internacional... deixem-se de tretas: vergonha é ter um banco como o BPP."
Pedro Santos Guerreiro
Clientes, accionistas e gestores estão a fazer tudo o que podem para negar esse destino. Têm o direito e a necessidade. Mas é como continuar a fazer massagem cardíaca num cadáver. O banco está em estado vegetativo, é uma massa falida, com mais de falido do que de massa.
Os dois planos para salvar o BPP, o dos accionistas e o da administração, assentam, ambos, num tripé de injecção de capital (pelo Estado, pelos bancos e pelos accionistas), com perda de garantias pelos clientes. Os bancos já saíram do jogo e só emprestam sob aval do Estado: salvar o BPP depende exclusivamente do Governo.
O próprio argumento com que os accionistas querem persuadir o Estado a injectar dinheiro é demonstrativo da debilidade do banco: injectar 150 milhões (ou 200 milhões, pede a administração) é menos do que o Estado perde se o banco falir. É uma chantagem, que aliás trai quem já avalizou um empréstimo; é um argumento pela negativa (não se investe porque é bom, gasta-se porque é menos mau).
Mais: os accionistas pedem a salvação do BPP porque acreditam na sua reconversão enquanto banco de PME. Óptimo: se há espaço para fazer um banco assim, ele pode nascer ao lado. Apesar de tudo o que tem acontecido, a economia ainda é um sítio de que as empresas que fracassam têm de sair para que possam entrar novas empresas. Ontem mesmo foi lançado o Banco Carregosa, precisamente na banca privada. É esse o círculo da vida económica.
É preciso fazer o elogio à administração de Adão da Fonseca, pela persistência e missão, assumindo desde o início que está a defender não os accionistas, mas os clientes. Porque são os clientes os traídos desta história, tenha ou não havido produtos falsamente garantidos. Há quem invista sabendo que pode perder, mas ninguém contabiliza o risco do banco falir.
Os clientes têm perdido em tribunal as providências cautelares em que pretendiam provar terem subscrito produtos de capital garantido. Na tese da administração de João Rendeiro, esses clientes conheciam os riscos e estão a ser oportunistas para recuperar o que perderam com a queda das bolsas. Carlos Tavares já disse que há indícios de que alguns desses clientes terão mesmo sido enganados.
Se o BPP falir, os accionistas perdem tudo, os clientes perdem muito e rebenta uma guerra jurídica pelos activos, que têm qualidade mas são parcos. O próprio Estado, que supostamente tem garantias para o empréstimo que avalizou, pode perder prioridade.
O Governo tem duas decisões a tomar: se deixa cair os clientes; e se corre o risco sistémico e da má imagem internacional de deixar um banco falir. A primeira decisão é dolorosa, mas pode salvar-se clientes sem salvar o banco. Já a segunda decisão é um equívoco. Não há hoje risco de corrida generalizada aos bancos por causa do BPP. Esse risco é, aliás, muito menor que o risco moral de todos ficarem com a certeza de que podem cometer erros - o Estado cobre. E quanto à imagem internacional... deixem-se de tretas: vergonha é ter um banco como o BPP."
Pedro Santos Guerreiro
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