A tal "roubalheira"
"Em apenas seis dias de campanha, Vital Moreira baixou às catacumbas da política portuguesa. Era isto que o PS queria?
1. O Vital Moreira da "roubalheira" no BPN é o mesmo candidato que de início só pretendia discutir assuntos europeus nesta campanha.
Infelizmente, em toda a União, em eleições como esta discutem-se outros temas - sendo que às vezes, se sobra tempo, até mesmo se chega a debater um ou outro assunto europeu.
A culpa não é, diga-se em boa verdade, exclusivamente dos candidatos ao Parlamento Europeu. Tem de ser repartida por todos nós, cidadãos da Europa, sobretudo os da periferia, que estamos muito afastados das preocupações de cidadania relativas à construção deste espaço comum.
No que respeita a Portugal, pelo menos metade do País não vê para além da fronteira. A outra metade julga-se absolutamente irrelevante para participar e ter um papel activo na discussão transnacional. E, entre a atávica ignorância e o agudo complexo de inferioridade, a pequena elite sobrante desiste e acomoda-se com mais ou menos vergonha.
Vital Moreira apenas foi rápido a acomodar-se. Bastou para isso que José Sócrates lhe tivesse dito em público que esta campanha também deveria discutir a governação. Disse-o, talvez mais o político secretário-geral do que o primeiro-ministro, porque era uma inevitabilidade; e disse-o, igualmente, porque, ao contrário do candidato que ele escolheu para satisfazer o PS dos tempos que correm, quer os políticos queiram ou não - e querem, claro que querem...-, só serão ainda minimamente escutados se falarem, em quase toda a Europa, dos temas mais interessantes localmente. É perverso mas é assim, e nenhum de nós é inocente nesta realidade que gostaríamos que fosse diferente.
2. Ainda assim, Vital Moreira voltou a mostrar como é pouco talhado para estas coisas da política na rua. A "roubalheira", estou em crer, é um termo que o candidato socialista só foi recuperar ao baú onde guarda as recordações do passado marxista porque, 48 horas antes, cometera o erro, despropositado, de falar na possibilidade de um imposto europeu. E, nesta altura, se há alguma palavra que nenhum político socialista português deve ousar pronunciar, essa é a palavra imposto, seja qual for o âmbito.
Vital Moreira não tem o estatuto de Mário Soares (que lançou uma discussão semelhante na campanha de 1999). Alguém lho terá lembrado de novo. E o candidato, ajudado ou não, logo se desenrascou com o caso de polícia que há para resolver no BPN, associando-o a "figuras gradas do PSD", coisa que será no mínimo tão honesto intelectualmente quanto associar o chamado caso Freeport a José Sócrates. Ou seja, da inicial elegância europeia, em apenas seis dias de campanha, Vital Moreira baixou às catacumbas da política portuguesa, apenas exagerando na hipocrisia, para horror da política afectada e finalmente um aceno de simpatia do "povo". Mais um pouco, voto oblige, e aí estará a falar do horror que foi a nacionalização da "roubalheira", que nos custará cerca de dois mil milhões de euros, a pedir a demissão do polícia (Vítor Constâncio) e a condenar o facto de uma dessas "figuras gradas do PSD" se ter atrevido a apresentar o livro do "menino de ouro" do PS. Se estiver mesmo muito aflito, poderá até desenterrar o processo Casa Pia.
Era isto que o PS queria de Vital Moreira?"
João Marcelino
1. O Vital Moreira da "roubalheira" no BPN é o mesmo candidato que de início só pretendia discutir assuntos europeus nesta campanha.
Infelizmente, em toda a União, em eleições como esta discutem-se outros temas - sendo que às vezes, se sobra tempo, até mesmo se chega a debater um ou outro assunto europeu.
A culpa não é, diga-se em boa verdade, exclusivamente dos candidatos ao Parlamento Europeu. Tem de ser repartida por todos nós, cidadãos da Europa, sobretudo os da periferia, que estamos muito afastados das preocupações de cidadania relativas à construção deste espaço comum.
No que respeita a Portugal, pelo menos metade do País não vê para além da fronteira. A outra metade julga-se absolutamente irrelevante para participar e ter um papel activo na discussão transnacional. E, entre a atávica ignorância e o agudo complexo de inferioridade, a pequena elite sobrante desiste e acomoda-se com mais ou menos vergonha.
Vital Moreira apenas foi rápido a acomodar-se. Bastou para isso que José Sócrates lhe tivesse dito em público que esta campanha também deveria discutir a governação. Disse-o, talvez mais o político secretário-geral do que o primeiro-ministro, porque era uma inevitabilidade; e disse-o, igualmente, porque, ao contrário do candidato que ele escolheu para satisfazer o PS dos tempos que correm, quer os políticos queiram ou não - e querem, claro que querem...-, só serão ainda minimamente escutados se falarem, em quase toda a Europa, dos temas mais interessantes localmente. É perverso mas é assim, e nenhum de nós é inocente nesta realidade que gostaríamos que fosse diferente.
2. Ainda assim, Vital Moreira voltou a mostrar como é pouco talhado para estas coisas da política na rua. A "roubalheira", estou em crer, é um termo que o candidato socialista só foi recuperar ao baú onde guarda as recordações do passado marxista porque, 48 horas antes, cometera o erro, despropositado, de falar na possibilidade de um imposto europeu. E, nesta altura, se há alguma palavra que nenhum político socialista português deve ousar pronunciar, essa é a palavra imposto, seja qual for o âmbito.
Vital Moreira não tem o estatuto de Mário Soares (que lançou uma discussão semelhante na campanha de 1999). Alguém lho terá lembrado de novo. E o candidato, ajudado ou não, logo se desenrascou com o caso de polícia que há para resolver no BPN, associando-o a "figuras gradas do PSD", coisa que será no mínimo tão honesto intelectualmente quanto associar o chamado caso Freeport a José Sócrates. Ou seja, da inicial elegância europeia, em apenas seis dias de campanha, Vital Moreira baixou às catacumbas da política portuguesa, apenas exagerando na hipocrisia, para horror da política afectada e finalmente um aceno de simpatia do "povo". Mais um pouco, voto oblige, e aí estará a falar do horror que foi a nacionalização da "roubalheira", que nos custará cerca de dois mil milhões de euros, a pedir a demissão do polícia (Vítor Constâncio) e a condenar o facto de uma dessas "figuras gradas do PSD" se ter atrevido a apresentar o livro do "menino de ouro" do PS. Se estiver mesmo muito aflito, poderá até desenterrar o processo Casa Pia.
Era isto que o PS queria de Vital Moreira?"
João Marcelino
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