quinta-feira, junho 11, 2009

Derrotas socialistas

"Os partidos socialistas sofreram nestas eleições europeias uma dupla derrota. Não só perderam para o centro-direita, como viram fugir votos para os partidos à sua esquerda.

Em resultado disso, os socialistas europeus desceram em mais de 50 o número de mandatos que antes detinham no Parlamento Europeu.

O centro-direita ganhou em grandes estados como a Alemanha, França, Itália, Espanha, Polónia e Reino Unido. Mesmo sabendo dos valores da abstenção, esta coincidência de vitórias significa alguma coisa. Nalguns casos por margens apreciáveis: o SPD alemão não passou dos 21%, Brown está seguramente de saída e Sarkozy tornou-se o primeiro presidente francês no activo a ganhar umas eleições europeias. Ao mesmo tempo, deu-se a subida da extrema-esquerda e de alguns grupos de eurocépticos que fizeram campanha contra o Tratado de Lisboa. O caso português é elucidativo: Bloco de Esquerda e CDU tiveram mais 7,5% de votos face às eleições de 2004.

Este descalabro do centro-esquerda e o crescimento dos partidos de centro-direita foram os factos políticos mais marcantes das eleições. Tanto mais que ninguém estava à espera que eles acontecessem desta forma, numa surpreendente sintonia de resultados em vários países. Em tempo de crise económica e, sobretudo, de uma crise que tem sido amplamente explorada para recuperar a crítica socialista à "ideologia do mercado", este parecia o momento certo para os partidos socialistas chegarem, verem e vencerem sem resistências. Obama também está aí e os socialistas europeus, claro, até se esforçaram por ir à boleia. De qualquer forma, não foi suficiente para convencer os eleitores.

Mais importante ainda: se todas as eleições intercalares tendem a penalizar os governos que estão em funções, estas eleições não tiveram esse efeito de punição. Nem Merkel, nem Sarkozy partiram para as respectivas campanhas com índices de popularidade em alta. Em Itália, Berlusconi tem passado os últimos tempos, como de costume, envolvido em escândalos pessoais que poderiam ter custado a vitória. Apesar de tudo, ganharam os três. Mas já Zapatero, Sócrates ou Brown, todos de centro-esquerda e todos no governo, acusaram derrotas de peso.

O que isto significa em termos de tendência perceber-se-á melhor durante este ano. Claro que os socialistas europeus perderam legitimidade política para governar a Europa através das suas ideias. Claro que foram também incapazes de convencer os eleitores de que conseguirão atacar, com resultados, a crise económica. Uma coisa é certa: os eleitores compreenderam que existem alternativas para aqueles que querem combater a crise só aumentando impostos e a dívida pública. Muitos até podem ter votado à direita por proteccionismo. Mas outros querem voltar a confiar no futuro
."

Pedro Lomba

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