Multilateralismo de um lado só

"Enquanto o Ocidente, enlevado, via Obama garantir na Universidade do Cairo que os Estados Unidos "não estão nem nunca estarão" em guerra com o Islão, Bin Laden acusava o presidente americano de "plantar as sementes do ódio" e apelou aos muçulmanos para morrerem numa "longa batalha" aos "infiéis".

Enquanto o Ocidente, comovido, via Obama decretar um "novo começo" nas relações dos EUA com o Islão, o imediato de Bin Laden na Al-Qaeda, o sr. al-Zawahiri, classificou a atitude e as palavras do presidente americano de "mentiras e propaganda vazia".

Enquanto o Ocidente, deslumbrado, via Obama impressionar o Médio Oriente com o seu ecuménico nome do meio (Hussein - raramente exibido durante a campanha caseira), o "ayatollah" supremo (ou lá o que é) Ali Khamenei ironizou em volta dos "belos" discursos do presidente americano e jurou a longevidade do ódio aos EUA.
De facto, a abertura diplomática resulta: uma das partes do conflito com o Islão já se convenceu de que o Ocidente não se encontra em conflito com o Islão. Infelizmente, não foi o Islão, cujos extremistas (alguns milhões) absorvem as palavras de Obama com o interesse que um bando de pinguins dedicaria a um professor de gramática húngara. Goste-se ou não do estilo, Bush, o pérfido George W., dirigia-se à fúria purificadora dos islâmicos numa linguagem que estes entendiam. Obama, que aspira ao "diálogo", acaba afinal a falar sozinho, exercício que o deixa maravilhado consigo mesmo e que, por exemplo, o impede de notar o absurdo de invocar os direitos das mulheres em sociedades estruturadas sobre a respectiva escassez.

É, no mínimo, tão absurdo como pregar a liberdade e a tolerância junto de quem nos deseja subjugar exactamente por apreciarmos a liberdade e a tolerância. Com o entusiasmo, só faltou a Obama proclamar que somos todos muçulmanos. Mas, por este andar, não faltará muito para que a demografia e outros métodos menos delicados se encarreguem desse pormenor."

Alberto Gonçalves