sexta-feira, julho 31, 2009

Ricos e pobres

"O PS prepara a viagem para a Esquerda. Esquecida a legislatura passada, o Governo aposta tudo num programa que pretende juntar a modernidade ao discurso da justiça social.

Percebe-se o movimento face à ameaça da extrema-esquerda. Na vertigem esquerdista, Sócrates aposta num assistencialismo abrangente em que o Estado justiceiro garante o prodígio de acudir a todas as necessidades. Na visão redutora do socialismo do futuro, os pobres são as vítimas inocentes da irresponsável ganância dos ricos.

A origem do pensamento encerra uma discriminação com base na classe social e inaceitável em termos de género ou em comparações raciais. É a velha doutrina marxista disfarçada pela aparente neutralidade de uma política que simplesmente procura a santa equidade. Apesar de todas as promessas e garantias, o crescimento do Estado-Providência só poderá ocorrer pelo óbvio aumento dos impostos. Mas de acordo com a nova política de Sócrates, taxar os ricos é uma medida social e uma exigência moral, nunca um aumento da carga fiscal.

Assim, o PS prepara-se para reduzir o espaço de manobra ao Bloco de Esquerda, socializando o discurso e chamando a si o apoio de um eleitorado urbano que perdeu e muito com o Governo socialista.

Desta forma, o PS empurra o PSD para um discurso mais liberal e encostado à Direita. Quando Ferreira Leite afirma que o país não cresce enquanto o Estado fizer tudo, ou quando acusa os grandes investimentos de serem instrumentos de empobrecimento, está certamente a criticar a primazia do Estado num país dependente do Orçamento. A mensagem subliminar aponta para o papel da iniciativa privada e para o reforço de uma dinâmica ausente da sociedade civil.

Por estranho que pareça, os dados apontam para umas eleições legislativas marcadas pelo desejo de uma bipolarização entre PS e PSD. Os portugueses preparam-se pois para uma nova encenação social-liberal em versão jogo de soma nula.

Na realidade, nada disto será sustentável. Os ricos de que fala o Governo são a classe média esmagada pelos impostos e debilitada pela crise. A mesma classe média que se habituou a receber em bens e serviços a compensação para os impostos pagos em espécie. Por outro lado, a sociedade civil e a iniciativa privada implícitas no discurso de Ferreira Leite são a mesma classe média submersa em impostos e dependente dos serviços do Estado. É o retrato do impasse nacional - gente a mais para um Estado-Social, gente a menos para um Estado-Liberal.

A tirania fiscal nunca aumentou a liberdade de ninguém. Horácio, o escritor clássico, confrontado com a pobreza, escrevia poesia. Sócrates quando vê um pobre pensa logo em aumentar impostos.
"

Carlos Marques de Almeida

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