quarta-feira, julho 08, 2009

Madoff e outras fraudes

"O caso Madoff simboliza a malignidade do capitalismo? Nem tanto. Afinal, o esquema de pirâmide de Bernard Madoff era equivalente ao que os nossos sucessivos governos usam na Segurança Social, um arranjinho sustentado (?) em verbas hipotéticas, especulação, risco, promessas e muitas mentiras. Existem diferenças? Sem dúvida. A primeira é que, ao contrário da Segurança Social, os clientes de Madoff investiam voluntariamente (embora com conhecimento de causa variável). A segunda é que, ao contrário da Segurança Social, a pirâmide de Madoff já implodiu. A terceira é que, ao contrário dos políticos caseiros que legalizaram e perpetuam a Segurança Social que temos, Madoff foi preso, julgado e condenado a 150 anos de prisão.

A propósito, e entre parêntesis, é interessante reparar na deriva castigadora que vai por aí, com gente que costuma relativizar a culpa de assassinos e que descrê nas capacidades redentoras das cadeias a celebrar a eternidade a que o financeiro americano se viu condenado. Pelos vistos, as objecções de princípio à prisão perpétua (e à pena capital?) possuem limites, nos quais os "ricos", por oposição aos criminosos "pobres", combatentes "ideológicos" e etc., não cabem.

Ainda entre parêntesis, também convirá notar que os méritos atribuídos a Obama na punição "exemplar" de Madoff são um nadinha exagerados, sobretudo se tivermos em conta que o punido financiava até há poucos meses o Partido Democrata e que os alertas para as respectivas fraudes remontavam, no mínimo, a 2005.

Fora de parêntesis, vale a pena contar a história de Ian Thiermann, um californiano de 90 anos e reformado há 25 que perdeu as poupanças de uma vida (mais de quinhentos mil euros) nas trafulhices de Madoff. Descontadas estas, Thiermann provavelmente sabia do "jogo" que esse tipo de investimento representava. Talvez por isso, talvez por carácter, não se queixou a ninguém, incluindo ao Estado: pediu, e conseguiu, emprego numa mercearia da sua cidade, onde trabalha 30 horas por semana a dez dólares por hora. Claro que o episódio é triste. Mas é, igualmente, a prova de que a decência e o esforço individual estão mais próximos do que pretendem certas fraudes do tempo, algumas bem maiores que a de Madoff
."

Alberto Gonçalves

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