quinta-feira, julho 16, 2009

A verdadeira estupidez

"Manuel Alegre, que pede no Expresso um "sobressalto à esquerda", volta a alertar para os perigos do "neoliberalismo", esse cliché lendário a que hoje se atribui cada mal da Terra. Se ele diz coisas assim por má-fé ou licenciosidade poética, não há nada a fazer. Se as diz por convicção, também não. Dado que a esperança de vida da espécie é limitada, ninguém irá a tempo de sobressaltar o sr. Alegre com uma velha evidência: a de que o desejo de mercado e comércio livres não podia ser mais estranho à realidade portuguesa.

Ainda na passada semana, a demissão de Manuel Pinho suscitou uma interessante discussão acerca da "condução" da economia pelo ex-ministro, que uns prezam e outros criticam. Não pareceu ocorrer a ninguém que "conduzir" a economia talvez nem sequer seja uma prerrogativa dos governos. Sujeitos civilizados fartaram-se de explicar que a liberdade política sem liberdade económica é uma impossibilidade. Não foi apenas aqui que não foram ouvidos, muito menos seguidos, mas aqui tal noção é tão excêntrica ao debate público quanto a emancipação feminina nas reuniões de cúpula dos talibã.
Aqui, o debate limita-se a opor os que defendem um Estado absoluto e os que defendem a vasta intervenção do Estado. Para manter a comparação com os talibãs, é como se os direitos das mulheres se limitassem a uma de duas opções: enterrá-las vivas ou lapidá-las até à morte. A extrema-esquerda, ou a "esquerda" na cabeça do sr. Alegre, opta pela lapidação rápida, ou seja, por um Estado omnipresente e proprietário. O resto, do PS do eng. Sócrates ao CDS, prefere enterrar o contribuinte enquanto este respira, ou seja, assaltá-lo de modo a financiar o Estado paternal que temos tido.
O PSD? O PSD, apesar de certos eflúvios retóricos e da imagem que lhe tentam colar, não é excepção. Há dias, Manuela Ferreira Leite afirmou subscrever as políticas económicas e sociais do actual Governo e algum país político mostrou-se espantado.

Claro que o espanto é fingido: o PSD nunca possuiu nenhuma objecção à ingerência do Estado na economia - logo que o Estado, e a economia, estejam nas suas mãos. Sob estas ou aquelas mãozinhas, os resultados do exercício não falham, e a América, por exemplo, está a recordá-los agora, à medida que os "estímulos" de Obama produzem desastre após desastre e o presidente desaba nas sondagens.

Os americanos sabem que não é "a economia, estúpido": estúpidos são os apetites do Estado face à dita, um facto que a nossa longa prosperidade já nos deveria ter ensinado. À semelhança do sr. Alegre, que só gosta da liberdade para efeitos líricos, não vamos a tempo
."

Alberto Gonçalves

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