Duas semanas com o morto
"Todos já sofremos o potencial hilariante dos serviços fúnebres. Qualquer funeral a que uma pessoa vá, a menos que o protagonista lhe seja demasiado próximo ou seja a própria, é sempre pretexto para anedotas tontas e risinhos nervosos. A vantagem do funeral de Michael Jackson é que nem precisámos de sair de casa para que as graçolas floresçam e a pândega esteja garantida: as circunstâncias encarregaram-se disso.
- Sabias que enterraram o homem sem o cérebro? Pois, parece que não encontraram nenhum a tempo.
- Será que alguém o matou? Talvez um melómano.
- Acreditas que o fantasma dele apareceu em Neverland? Não, o fantasma era escuro.
- É pena que a mãe dos filhos não tenha comparecido ao enterro. É, nem o pai.
- Um cadáver com quinze dias não entra em decomposição? Não quando o processo se concluiu há anos.
- Consta que o corpo desapareceu. É vingança: o homem elefante comprou-o.
Fraquinhas? Inventei-as agora. Sem dúvida melhor é a de autoria do reverendo Al Sharpton, que um destes dias de luto atribuiu a Jackson o fim do preconceito racial e a abertura do caminho que levou à vitória de Obama. Como sucede no humor sofisticado, a leitura é múltipla. Tem graça porque o discurso trafulha de Sharpton é das coisas que mais vem estimulando o preconceito racial nos EUA. Tem graça porque quando, em 2002, o seu último disco vendeu pouco, Jackson seguiu à boleia do oportunismo do reverendo e, em coro, acusaram a editora em causa de "racismo". Tem graça porque o herói desta história nasceu preto e morreu branco como um lençol.
- Sabias que enterraram o homem sem o cérebro? Pois, parece que não encontraram nenhum a tempo.
- Será que alguém o matou? Talvez um melómano.
- Acreditas que o fantasma dele apareceu em Neverland? Não, o fantasma era escuro.
- É pena que a mãe dos filhos não tenha comparecido ao enterro. É, nem o pai.
- Um cadáver com quinze dias não entra em decomposição? Não quando o processo se concluiu há anos.
- Consta que o corpo desapareceu. É vingança: o homem elefante comprou-o.
Fraquinhas? Inventei-as agora. Sem dúvida melhor é a de autoria do reverendo Al Sharpton, que um destes dias de luto atribuiu a Jackson o fim do preconceito racial e a abertura do caminho que levou à vitória de Obama. Como sucede no humor sofisticado, a leitura é múltipla. Tem graça porque o discurso trafulha de Sharpton é das coisas que mais vem estimulando o preconceito racial nos EUA. Tem graça porque quando, em 2002, o seu último disco vendeu pouco, Jackson seguiu à boleia do oportunismo do reverendo e, em coro, acusaram a editora em causa de "racismo". Tem graça porque o herói desta história nasceu preto e morreu branco como um lençol.
Morreu? Como todas as lendas, Michael Jackson não morre: a paródia amarga que foi a sua vida sobreviveu-lhe. E o facto de os "media" fingirem levar isto a sério é a maior anedota de todas, embora de tão repetida vá perdendo a piada."
Alberto Gonçalves
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