terça-feira, julho 14, 2009

Ficam os anéis.

"Não sei para onde olhavam os que assistiram à apresentação de Cristiano Ronaldo no Real Madrid. A julgar pelo entusiasmo das espectadoras e de alguns comentadores, talvez para certos pormenores anatómicos do jogador. Eu, através da televisão, olhei o tempo todo para Di Stéfano e Eusébio, os quais, um por ser presidente honorário do clube, o outro por razões que me escapam, partilharam o palco com a estrela da noite.

Partilhar é força de expressão. Se é verdade que estavam ali, não podia haver maior contraste entre as atenções dispensadas à jovem vedeta crivada de cosméticos e jóias e o estatuto secundário dos dois ex-futebolistas.

Di Stéfano, recebido pelo público no estádio enquanto uma relíquia "da casa", parecia confuso; Eusébio, que apenas uma pequena percentagem do público mostrou reconhecer, parecia apenas triste. Aquela festa, de facto, não era deles. Aquele mundo também não. No mundo onde foram grandes não havia festas assim, glória assim, rapazes da bola assim, sobretudo dinheiro assim. Ambos nasceram no tempo errado, e foi escusada crueldade expor o seu anacronismo perante oitenta mil almas indiferentes à memória. Um dia, pressentiu-se, aquela amnésia colectiva vitimará a estrela do momento, que hoje nem desconfia que tamanha adoração é provisória. Mas, mesmo sem brilho nem cosmética, as jóias não são
."

Alberto Gonçalves

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