Professores e Engenheiros
"Nos dos 42 programas de "rescaldo" que se seguiram ao Hungria-Portugal, um senhor na RTPN concluía: "toda a gente sabe" que, comparado com Carlos Queiroz, Luís Filipe Scolari não percebe nada de futebol. Pelos vistos, perceber de futebol é meio caminho andado para uma carreira embaraçosa no dito. Se treinasse um clube, eu provavelmente seria campeão do mundo. Como não treino, sobre o assunto limito-me a constatar factos: com as suas bandeirinhas, cantigas do Roberto Leal e meias vitórias, o sr. Scolari afastou-me da selecção; com as suas desculpas, manifestações de optimismo e derrotas inteiras, o "professor" Queiroz reaproximou-me da equipa que, hoje, não é de todos nós.
É, orgulhosamente, minha. Não digo que veja os jogos (Deus me livre). Mas não perco as declarações do "professor" após cada jogo. Chamem-lhe perversão, a verdade é que gosto do estilo. Não importa quão patética foi a exibição realizada: mesmo que a selecção se arraste nos relvados e se afunde na classificação, o "professor" está satisfeito, o "professor" está confiante, o "professor", em suma, acredita. Ainda que o "mundial" de 2010 decorra sem os seus alunos, tenho a impressão de que o "professor" continuará a acreditar na qualificação. A esperança, de facto, é a última a morrer: a noção de realidade falece muito antes, e assistir às exéquias é, para mim, um estranho divertimento.
Dado não apreciar referências futebolísticas em artigos de política, aqui vai uma referência política num artigo de futebol: a selecção do "professor" Queiroz lembra-me um certo Governo, também especialista na arte do optimismo. Por mais que a falência do país se revele com esplendor, esse Governo mantém inabalável a crença na íntima virtude e insiste em salvar Qimondas extintas. Nos intervalos, condena o "bota-abaixismo" (sic) dos que menosprezam as respectivas, e virtuais, proezas. Ao que consta, há por aí muita gente que deseja a manutenção de tal Governo. Como eu, para efeitos de gozo pessoal, desejo a manutenção do "professor" Queiroz. Somos um país de pervertidos, embora no caso governativo a coisa já entre no masoquismo agudo. No caso da bola, fica-se pela graça inofensiva. Inofensiva para quem não vê os jogos, claro."
Alberto Gonçalves
É, orgulhosamente, minha. Não digo que veja os jogos (Deus me livre). Mas não perco as declarações do "professor" após cada jogo. Chamem-lhe perversão, a verdade é que gosto do estilo. Não importa quão patética foi a exibição realizada: mesmo que a selecção se arraste nos relvados e se afunde na classificação, o "professor" está satisfeito, o "professor" está confiante, o "professor", em suma, acredita. Ainda que o "mundial" de 2010 decorra sem os seus alunos, tenho a impressão de que o "professor" continuará a acreditar na qualificação. A esperança, de facto, é a última a morrer: a noção de realidade falece muito antes, e assistir às exéquias é, para mim, um estranho divertimento.
Dado não apreciar referências futebolísticas em artigos de política, aqui vai uma referência política num artigo de futebol: a selecção do "professor" Queiroz lembra-me um certo Governo, também especialista na arte do optimismo. Por mais que a falência do país se revele com esplendor, esse Governo mantém inabalável a crença na íntima virtude e insiste em salvar Qimondas extintas. Nos intervalos, condena o "bota-abaixismo" (sic) dos que menosprezam as respectivas, e virtuais, proezas. Ao que consta, há por aí muita gente que deseja a manutenção de tal Governo. Como eu, para efeitos de gozo pessoal, desejo a manutenção do "professor" Queiroz. Somos um país de pervertidos, embora no caso governativo a coisa já entre no masoquismo agudo. No caso da bola, fica-se pela graça inofensiva. Inofensiva para quem não vê os jogos, claro."
Alberto Gonçalves
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