terça-feira, setembro 15, 2009

Professores e Engenheiros

"Nos dos 42 programas de "rescaldo" que se seguiram ao Hungria-Portugal, um senhor na RTPN concluía: "toda a gente sabe" que, comparado com Carlos Queiroz, Luís Filipe Scolari não percebe nada de futebol. Pelos vistos, perceber de futebol é meio caminho andado para uma carreira embaraçosa no dito. Se treinasse um clube, eu provavelmente seria campeão do mundo. Como não treino, sobre o assunto limito-me a constatar factos: com as suas bandeirinhas, cantigas do Roberto Leal e meias vitórias, o sr. Scolari afastou-me da selecção; com as suas desculpas, manifestações de optimismo e derrotas inteiras, o "professor" Queiroz reaproximou-me da equipa que, hoje, não é de todos nós.

É, orgulhosamente, minha. Não digo que veja os jogos (Deus me livre). Mas não perco as declarações do "professor" após cada jogo. Chamem-lhe perversão, a verdade é que gosto do estilo. Não importa quão patética foi a exibição realizada: mesmo que a selecção se arraste nos relvados e se afunde na classificação, o "professor" está satisfeito, o "professor" está confiante, o "professor", em suma, acredita. Ainda que o "mundial" de 2010 decorra sem os seus alunos, tenho a impressão de que o "professor" continuará a acreditar na qualificação. A esperança, de facto, é a última a morrer: a noção de realidade falece muito antes, e assistir às exéquias é, para mim, um estranho divertimento.

Dado não apreciar referências futebolísticas em artigos de política, aqui vai uma referência política num artigo de futebol: a selecção do "professor" Queiroz lembra-me um certo Governo, também especialista na arte do optimismo. Por mais que a falência do país se revele com esplendor, esse Governo mantém inabalável a crença na íntima virtude e insiste em salvar Qimondas extintas. Nos intervalos, condena o "bota-abaixismo" (sic) dos que menosprezam as respectivas, e virtuais, proezas. Ao que consta, há por aí muita gente que deseja a manutenção de tal Governo. Como eu, para efeitos de gozo pessoal, desejo a manutenção do "professor" Queiroz. Somos um país de pervertidos, embora no caso governativo a coisa já entre no masoquismo agudo. No caso da bola, fica-se pela graça inofensiva. Inofensiva para quem não vê os jogos, claro
."

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!