Por Toutatis e por mais alguma coisa
"As minhas personagens preferidas de "Astérix" são os piratas que costumam afundar o próprio barco na presunção, frequentemente errada, de que os gauleses o afundariam de qualquer maneira. Esses saqueadores falhados aparecem em apenas algumas histórias e sempre brevemente, mas a sua recorrência e o seu pessimismo constituem uma amostra justa do génio cómico de René Goscinny.
Goscinny, francês filho de judeus polacos, criou "Astérix" há cinquenta anos e morreu há trinta e dois, deixando para trás os álbuns que valem a pena e para a frente, através do colaborador Uderzo, os que não valem. A partir do legado do parceiro, Uderzo desenvolveu uma marca comercial. A partir da "Guerra das Gálias" e da observação prosaica dos seus compatriotas, Goscinny inventou, desculpem a palavra, um "imaginário" intemporal, patético aqui, redentor ali e, sobretudo, dotado de uma capacidade única para converter almas distantes do seu meio de expressão: "Astérix" é a banda desenhada para quem não gosta de banda desenhada. Acontece comigo e, ao que vi e vejo, acontece com muitos, adultos letrados que guardam religiosamente cada livrinho da série e passam ao lado da infantilidade de Walt Disney e da presunção oca de Hugo Pratt ou das graphic novels. Goscinny não era um empresário astuto nem um artista frustrado: era, nas suas orgulhosas palavras, um humorista, ofício afinal raro na forma criativa que escolheu e na qual, talvez por isso, foi dos pouquíssimos grandes. "
Alberto Gonçalves
Goscinny, francês filho de judeus polacos, criou "Astérix" há cinquenta anos e morreu há trinta e dois, deixando para trás os álbuns que valem a pena e para a frente, através do colaborador Uderzo, os que não valem. A partir do legado do parceiro, Uderzo desenvolveu uma marca comercial. A partir da "Guerra das Gálias" e da observação prosaica dos seus compatriotas, Goscinny inventou, desculpem a palavra, um "imaginário" intemporal, patético aqui, redentor ali e, sobretudo, dotado de uma capacidade única para converter almas distantes do seu meio de expressão: "Astérix" é a banda desenhada para quem não gosta de banda desenhada. Acontece comigo e, ao que vi e vejo, acontece com muitos, adultos letrados que guardam religiosamente cada livrinho da série e passam ao lado da infantilidade de Walt Disney e da presunção oca de Hugo Pratt ou das graphic novels. Goscinny não era um empresário astuto nem um artista frustrado: era, nas suas orgulhosas palavras, um humorista, ofício afinal raro na forma criativa que escolheu e na qual, talvez por isso, foi dos pouquíssimos grandes. "
Alberto Gonçalves
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