domingo, maio 02, 2010

A vida em tempo de défice

"Simon Johnson, antigo economista-chefe do FMI, disse que Portugal arrisca-se a ser "o próximo problema global". Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001, não exclui a hipótese de Portugal (ou a Espanha) falir. Ambrose Evans-Pritchard, editor do Daily Telegraph, acha que o "maior problema" da Zona Euro é Portugal. Nouriel Roubini, professor da célebre Stern School, prevê que Portugal poderá ter de abandonar a Zona Euro. O FMI revê em baixa a previsão do crescimento da economia portuguesa em 2010. As "apostas" dos investidores internacionais numa falência de Portugal duplicaram no período de um ano. Etc. Os exemplos são inúmeros e sugerem a forte possibilidade de Portugal se tornar a Grécia que se segue, com a agravante de que não parece haver grande vontade de nos inundar com ajudas, mesmo que fictícias.
O que fazer? Festejarmos a conquista da atenção do mundo ou recordarmos com saudade o tempo em que a crise era de todos e ninguém dava pela nossa?

O Governo adopta a terceira via e responde com típica firmeza: tudo não passa de uma campanha negra para destruir o Euro, o país e, se pensarmos bem, o eng. Sócrates. Evidentemente, a culpa é da Alemanha, dos economistas, das agências de rating, dos pessimistas, dos americanos, dos inimigos da moeda única, da oposição, dos anti-europeístas e, em suma, "deles". Embora o Governo não explique o modo de conciliar tantas e tão contraditórias culpas, explica que a reacção de qualquer governante ou cidadão responsável deve consistir em negar as notícias da nossa penúria. E se os cépticos lembram que foi justamente a negação a deixar-nos no estado actual, os crentes respondem que o estado actual não é nada mau, logo que se ignore o catastrofismo e, vá lá, a realidade.

O fundamental é mantermos a calma, a despesa pública e a imitação quase perfeita daquele ministro de Saddam que garantia o insucesso da invasão ao Iraque enquanto tanques americanos des- filavam nas suas costas. O homem era Ali, o Cómico. Aqui, os cómicos são outros, porém igualmente de capazes de proclamar a pujança da nação após o último a sair já ter apagado as luzes do aeroporto, seja o da Portela ou o de Alcochete, entretanto inaugurado a tempo do êxodo.

Claro que, nas imortais palavras do dr. Sampaio, há imensa vida além do défice. Mas pouca aquém
."

Alberto Gonçalves

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