sexta-feira, julho 09, 2010

Um 'feeling' com oito décadas

"E depois de todos os concertos de vuvuzelas, de todas as bandeiras, de todas as reportagens sobre a preparação, o estágio, os treinos, as refeições e as abluções dos jogadores, de todos os prognósticos dos especialistas, de todos os "painéis" televisivos, de todos os anúncios ao BES disfarçados de hino, de todas as afirmações patrióticas, de todos os votos de confiança dos governantes, depois de tudo isso a selecção foi eliminada do Mundial de futebol.

Na despedida, pareceu-me, sobrou um guarda-redes que não merecia as dez nulidades à sua frente, zero golos marcados a equipas cujos atletas não estivessem sob ameaça de internamento em campos de trabalhos forçados e o típico mau perder, que incluiu cotoveladas aos marotos dos espanhóis e troca de mimos entre a comitiva. E sobrou a inevitável "depressão colectiva", tão intensa e desmiolada quanto a excitação que a precede. Muito barulho para nada, de facto. Vale a pena?

A realidade sugere que não vale. Existem campeonatos do mundo de futebol há oitenta anos (e campeonatos europeus há cinquenta). A selecção portuguesa não ganhou nenhum. A selecção portuguesa nem sequer chegou a um jogo final. A selecção portuguesa apenas alcançou em duas ocasiões a disputa pelo terceiro lugar. Há aqui uma regularidade que ensina a redundância dos nossos esforços. Infelizmente, não há maneira de aprendermos, e a cada competição subimos as expectativas e, o que é pior, o barulho em volta da equipa que é de todos nós embora só pague salário a alguns, poucos, de nós.

Na tentativa de fintar a realidade, procura-se redimir os falhanços nacionais através da evocação dos falhanços alheios. A França, a Itália e a Inglaterra foram igualmente eliminadas, dizem os peritos. Esquecem-se de dizer que a qualquer das selecções citadas já aconteceu não serem eliminadas e, pelo menos uma vez (ou, no caso da Itália, uma data de vezes), vencerem o Mundial.

Portugal, pelo contrário, vence exclusivamente por antecipação, e não imagino que espécie de argumento convence milhares ou milhões a acreditar repetidamente que "agora é que vai ser". Não vai. Bastaria que se lembrassem de há 4, 8, 12 anos para constatar que nunca foi e, provavelmente, nunca será. O fascinante "professor" Queiroz tinha um feeling. Eu também, e o meu é que estava certo
."

Alberto Gonçalves

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