terça-feira, julho 06, 2010

Vivò socialismo!

"A falta de interesse, aptidão ou paciência exclui-me de certas áreas do conhecimento. Até há dias, tinha uma ideia vaga da existência da espanhola Telefónica e uma ideia vaguíssima da existência da brasileira Vivo, de que aquela empresa e a muito nossa Portugal Telecom detêm, salvo o erro, 60% em partes iguais. Por isso, embora sete mil milhões (ou 4% do PIB português) me pareçam uma verba decente, não sei se a venda à Telefónica da parte da Vivo pertencente à PT era ou não era vantajosa para os respectivos accionistas.

Mas até um leigo percebe tratar-se de uma matéria que cabe aos accionistas decidir. E eles decidiram, com quase três quartos a votar favoravelmente o negócio. O problema é que, em nações exóticas, fora da esfera governamental, as decisões valem pouco e quem manda, manda nada. O Estado, que possui a astronómica quantia de 15 euros em acções da PT, recorreu pela primeira vez a um curioso instrumento chamado golden share, reduziu a nada as promessas em sentido contrário da administração e impediu que se cumprisse a vontade dos ingénuos que julgavam dispor da sua propriedade.

Claro que a história ainda agora começou. Claro que os tribunais (europeus) provavelmente vão determinar a ilegalidade do truque e vetar o veto. Claro que a Telefónica saberá contornar os obstáculos. Porém, se a golden share é juridicamente ou tecnicamente reversível, não o é "simbolicamente". Segundo o eng. Sócrates, corroborado pela extrema-esquerda (que acha a golden share escassa e naturalmente reclama nacionalizações urgentes), pelo divertido CDS e pelo prof. Cavaco, a oposição ao negócio justifica-se em nome de uma fragrância mítica chamada "interesse estratégico nacional".

Pelos vistos, o "interesse estratégico nacional" é, além daquilo que apetece ao eng. Sócrates, tudo o que empurra Portugal rumo ao anedotário internacional, no papel de uma república socialista avessa ao mercado. De facto, à semelhança do que sucedia nas velhas feiras de horrores, o mundo civilizado voltou-se para nós, a contemplar a aberração que, afinal, somos. Num ápice, o país moderno da propaganda transformou-se na mulher barbuda ou no engolidor de facas, com a diferença de que estes ao menos inspiravam pena e esmolas. Ao investidor estrangeiro, que nunca nos olhou encantado, Portugal passou a inspirar puro medo.

Daqui a muito tempo, quando já não houver Vivo nem o Governo do eng. Sócrates, será com esse medo que teremos de viver, e será o seu preço que cá estaremos, se estivermos, para pagar. Durante cinco anos, o eng. Sócrates ganhou fama de péssimo primeiro-ministro e razoável comerciante. A segunda reputação é completamente injusta
."

Alberto Gonçalves

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